Edberto Ticianeli
No inicio do mandato, Renan era chamado para tudo que era atividade organizada pelos estudantes. Tinha que se desdobrar para cumprir agendas carregadas. Nos finais de semana, o corre-corre aumentava, quando as atividades políticas eram acrescidas com os compromissos sociais.
Numa sexta-feira, à noite, tivemos uma reunião na sede do MDB, que ficava no primeiro andar de uma farmácia da Rua 2 de Dezembro, no Centro de Maceió. Passava pouco das 21 horas quando saímos e paramos na calçada para acertarmos os próximos compromissos daquela noite. Informei a Renan e Cleto Falcão que precisávamos passar em duas festas de aniversários de colegas nossos da universidade, e depois, se desse tempo, iríamos até o Bar do Alípio, ponto de encontro das lideranças do movimento estudantil.
Enquanto conversávamos, se aproximou um cidadão magro e narigudo, deu um leve sorriso e, sem dizer uma palavra sequer, ficou ao nosso lado. Como Renan e Cleto aceitaram com naturalidade a presença dele, concluiu que ele devia ser amigo de um dos dois. Acertamos que devíamos ir todos em um mesmo carro e fomos para o estacionamento da Assembleia Legislativa, que ficava a poucos metros da sede do MDB. Começamos a caminhar, e lá foi com a gente o citado cidadão, que continuava calado, mas acompanhando vivamente a nossa conversa.
No primeiro aniversário da noite, fomos bem recebidos e, como era natural acontecer ao se receber um deputado, na mesa onde estávamos não faltava bebida e comida.
O amigo do Cleto e do Renan, que continuava sem dizer nada, bebia numa rapidez que chamava a atenção. Assim passamos a noite, de festa em festa, sempre acompanhados pelo discreto cidadão. Já no Bar do Alípio, no Pontal da Barra, houve um momento em que o citado personagem se afastou do grupo, acho que para ir ao banheiro. Renan olhou para o Cleto e disse:
– Porra, Cleto! Onde você arranjou esse amigo? O cara só abre a boca para beber.
Cleto olhou assustado para ele e explicou:
– Amigo meu? Eu pensei que ele era amigo seu ou do Ticianeli.
Foi a minha vez de dizer que também tinha pensado da mesma forma que eles. Com a constatação de que estávamos o tempo todo dividindo o carro e as festas com um estranho, começamos a rir da situação. Afinal, era preciso ser muito cara-de-pau para fazer o que ele estava fazendo.
Passava da meia-noite quando resolvemos ir embora e fomos em direção ao carro. Com a gente, lá vinha o cara-de-pau. Renan parou, olhou para ele e perguntou:
– Ô meu amigo, você conhece quem de nós três?
– Eu só conheço você – falou pela primeira vez o magro, mesmo assim com certa dificuldade pelo efeito do álcool.
– Você me conhece de onde? – insistiu Renan.
– Dos jornais e da televisão.
Nesse momento, o boca de ponche perdeu a carona.
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