sexta-feira, 27 de março de 2009

As declarações impudentes do prefeito

A indignação é uma reação perigosa; leva qualquer um a perder as “estribeiras”, por isso, antes de extravasar minha repulsa, tive o cuidado de vasculhar o velho Aurélio para encontrar uma expressão atenuada sobre o que me levou a escrever esse texto. A que melhor serve é, sem dúvidas, impudência. Pois bem: o prefeito Cícero Almeida cometeu um ato de impudência em entrevista concedida ao repórter Davi Soares, da Gazeta de Alagoas de 27 de março de 2009. O chefe do executivo municipal anda irritado com a vereadora Tereza Nelma (PSB) porque ela vem cobrando insistentemente informações sobre os recursos e contratos estabelecidos entre a Prefeitura de Maceió e as Oscips (ONGs mais estruturadas), coisa que o prefeito, até agora, não demonstrou interesse em fazer. Como responde então Cícero Almeida às cobranças da parlamentar maceioense? Atacando. Para ele, entusiasta do futebol, a melhor defesa é um ataque, e largou o verbo com essa ameaça: “tem vereadora que vive a criticar a prefeitura por causa disso, quando ela não explicou que destinação deu a mais de duzentos mil reais em recursos para a Saúde. Se as coisas continuarem a ser tratadas desta forma, vamos pedir uma auditoria na Pestalozzi”. Percebam a impudência destas palavras e reflitam se não são merecedoras da nossa indignação. Se o prefeito sabe da “falta de explicação” sobre a utilização duzentos mil reais por parte da vereadora, também dirigente da entidade, não pode usar a auditoria como ameaça para calar a vereadora Tereza Nelma. É obrigação do prefeito fazer uma investigação sobre os recursos públicos destinados à Pestalozzi sem depender das cobranças ou não da vereadora. Isso não pode ficar condicionado a “se as coisas continuarem a ser tratadas desta forma”. É cumplicidade saber e não denunciar um crime.
Acredito que o prefeito, sem perceber, expôs o modus operandi nas relações políticas entre o poder executivo e o legislativo de Maceió. Agora a palavra fica com o Ministério Público, que tem a faca e o queijo para cobrar explicações ao Cícero Almeida e à Pestalozzi, afinal de contas são duzentos mil reais que podem estar fazendo falta em algum desses Postos de Saúde com funcionamento precário na periferia de Maceió.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Tirado do ar programa da TV Câmara que ouviu jornalistas

Carta aberta aos jornalistas do Brasil
19/03/2009

Leandro Fortes

No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado Comitê de Imprensa, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo. O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e “aterradoras” revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha. Eu, assim como Jailton, já havia participado outras vezes do Comitê de Imprensa, sempre a convite, para tratar de assuntos os mais diversos relativos ao comportamento e à rotina da imprensa em Brasília. Vale dizer que Jailton e eu somos repórteres veteranos na cobertura de assuntos de Polícia Federal, em todo o país. Razão pela qual, inclusive, o jornalista Paulo José Cunha nos convidou a participar do programa. Nesta carta, contudo, falo somente por mim.Durante a gravação, aliás, em ambiente muito bem humorado e de absoluta liberdade de expressão, como cabe a um encontro entre velhos amigos jornalistas, discutimos abertamente questões relativas à Operação Satiagraha, à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais, às ações contra Protógenes Queiroz e, é claro, ao grampo telefônico – de áudio nunca revelado – envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Em particular, discordei da tese de contaminação da Satiagraha por conta da participação de agentes da Abin e citei o fato de estar sendo processado por Gilmar Mendes por ter denunciado, nas páginas da revista CartaCapital, os muitos negócios nebulosos que envolvem o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro, farto de contratos sem licitação firmados com órgãos públicos e construído com recursos do Banco do Brasil sobre um terreno comprado ao governo do Distrito Federal, à época do governador Joaquim Roriz, com 80% de desconto. Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro. O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera. Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros. Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido.Sem levar em conta o ridículo da situação (o programa já havia sido veiculado seis vezes pela TV Câmara, além de visto e baixado por milhares de internautas), esse episódio revela um estado de coisas que transcende, a meu ver, a discussão pura e simples dos limites de atuação do ministro Gilmar Mendes. Diante desta submissão inexplicável do presidente da Câmara dos Deputados e, por extensão, do Poder Legislativo, às vontades do presidente do STF, cabe a todos nós, jornalistas, refletir sobre os nossos próprios limites. Na semana passada, diante de um questionamento feito por um jornalista do Acre sobre a posição contrária do ministro em relação ao MST, Mendes voltou-se furioso para o repórter e disparou: “Tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta”. Como assim? Que perguntas podem ser feitas ao ministro Gilmar Mendes? Até onde, nós, jornalistas, vamos deixar essa situação chegar sem nos pronunciarmos, em termos coletivos, sobre esse crescente cerco às liberdades individuais e de imprensa patrocinados pelo chefe do Poder Judiciário? Onde estão a Fenaj, e ABI e os sindicatos?Apelo, portanto, que as entidades de classe dos jornalistas, em todo o país, tomem uma posição clara sobre essa situação e, como primeiro movimento, cobrem da Câmara dos Deputados e da TV Câmara uma satisfação sobre esse inusitado ato de censura que fere os direitos de expressão de jornalistas e, tão grave quanto, de acesso a informação pública, por parte dos cidadãos. As eventuais disputas editoriais, acirradas aqui e ali, entre os veículos de comunicação brasileiros não pode servir de obstáculo para a exposição pública de nossa indignação conjunta contra essa atitude execrável levada a cabo dentro do Congresso Nacional, com a aquiescência do presidente da Câmara dos Deputados e da diretoria da TV Câmara que, acredito, seja formada por jornalistas. Sem mais, faço valer aqui minha posição de total defesa do direito de informar e ser informado sem a ingerência de forças do obscurantismo político brasileiro, apoiadas por quem deveria, por dever de ofício, nos defender.
Leandro Fortes
Jornalista Brasília
19 de março de 2009

sexta-feira, 13 de março de 2009

O desmaio do bandeirinha


Tonho Lima, atacante do CSA
Do Antônio Manoel, que agora também assina um blog (http://amgoes.blogspot.com/), peguei esse trecho em uma das suas observações sobre o futebol brasileiro.

Lembro-me de um registro curioso, em Maceió, quarenta e poucos anos atrás. João Batista Cortez era um 'bandeirinha' da Federação Alagoana, desabridamente apaixonado pelo CSA. Esforçado cumpridor das regras, dizia-se 'especialista' em impedimentos. Respeitado e correto, jamais foi pilhado, pela vigilante torcida do desafeto CRB, em qualquer fortuita bandeirada para favorecer o time de seu coração.

Certo domingo, Batista Cortez auxiliava a arbitragem na partida entre CRB e Ferroviário, no estádio da Pajuçara, enquanto, à mesma hora, em Arapiraca, o CSA jogava pelo empate com o ASA, local, resultado que lhe garantiria o campeonato.

Tonho Lima, atacante do CSA
As rádios transmitiam cada ataque, lá e cá, pois, vencendo, os regatianos levariam o caneco. Desde, claro, que o ASA, em seu próprio campo, derrotasse o adversário (e já vencia por 1 a 0, placar do primeiro tempo). A dois minutos do fim (ambos os jogos iniciados britanicamente às quatro da tarde), Tonho Lima empatou para o CSA, que ficou com o título estadual.

Detalhe: Batista Cortez bandeirava lateralmente à arquibancada do CRB e, ouvido atento ao radinho de pilha de torcedor azulino, grudado no alambrado, vez por outra indagava, entre-dentes, de passagem: "Psiu! Como 'estamos' em Arapiraca?" Inquieto com o gol do ASA, que ecoou na Pajuçara e levou a massa regatiana à loucura, sofreu estoicamente até que seu idolatrado 'azulão' empatou em cima da hora, calando a então celebrada euforia alvirrubra, àquela altura diante das favas contadas da vitória.

Cortez, com o apito final, em Maceió e Arapiraca, ali mesmo à beira do gramado, embora contido e circunspecto, como sempre foi, simplesmente desmaiou, tragado pela emoção.

Quinze anos depois, entrevistei-o na TV Alagoas-Canal 5 e ele, à revelia de provas testemunhais, negou peremptoriamente o fato que, embora insólito, jamais o desabonou nas quatro linhas. Poupamo-lo, evidentemente, encerrando ali mesmo a famosa história do desmaio. Afinal, o bom e honrado Batista Cortez, como qualquer torcedor que se preza, não era de ferro.

quinta-feira, 12 de março de 2009

E Deus disse: antes o estupro do que o aborto! Ou, sobre a estranha escala de valores da Igreja Católica

Rodrigo Barros Gewehr

Não posso escapar a certo mal-estar com a recente notícia da excomunhão de alguns médicos em Pernambuco, por conta de aborto legal realizado em uma jovem de nove anos, que vinha sendo sistematicamente estuprada pelo padrasto, e que acabou grávida deste.
Ao saber disso, infelizmente não fiquei pasmo; apenas constatei o que já imaginava: a Igreja continua sendo um atraso social e deveria ser impedida judicialmente de manter a tutela sobre a religiosidade. O que se toma por uma defesa dos valores da vida não passa de um dogmatismo assentado em ideais já raquíticos, para não dizer apodrecidos. Estar mais preocupado com os códigos canônicos do que com a realidade concreta dos fatos sociais é uma estupidez e uma vergonha.
Todavia, isso tem seu lado positivo: comprovamos definitivamente que é preciso separar com bisturi a religião e a religiosidade. A Igreja sempre manteve seu poder – muitas vezes com uso da força bruta – tendo por base a idéia de que cabe a ela tutelar, coordenar, direcionar a relação do Homem com Deus; e seus ritos têm (ou tinham) justamente a função simbólica de elevar a atenção humana no sentido de verdades espirituais.
Faz tempo que estes ritos se encontram algo esvaziados, o que pode muito bem ser entendido como um prejuízo, haja vista que os rituais possuem uma função social e psicológica importante. Entretanto, além disso, a própria instituição católica está desgastada, com casos inúmeros de perversão no seio da santa Igreja, o que sem dúvida deveria servir para nos alertar quanto aos perigos subterrâneos e sorrateiros de toda instituição que se torna dogmática e demasiadamente aferrada a seu poder.
É ridículo ver que a Igreja gasta mais tempo protegendo as luxúrias de seu clã do que estudando uma situação social delicada como esta da menina pernambucana. É fácil excomungar uma equipe médica que cumpriu seu dever profissional e cívico, difícil é ver a Igreja Católica discutindo abertamente os casos de pedofilia, os encontros amorosos no interior de seus claustros, a AIDS que ronda os corredores e quartos dos seminários e paróquias. Não me consta que os santos Cruzados tenham sido excomungados pelos corpos que deixaram para trás a caminho de Jerusalém. Não me consta que a pedofilia na Igreja tenha sido punida com excomunhão. Não! A excomunhão – penalidade máxima, cartão vermelho – é reservada para “criminosos” como os médicos em questão. Abusar de crianças, ah... Isso é contornável!
Recentemente, a Igreja Católica se pôs em alerta por conta de um bispo britânico que negou publicamente o Holocausto. O caso ganhou proporções significativas na Europa, inclusive com a interferência de chefes de Estado, o que obrigou a Igreja, que havia reabilitado recentemente o bispo de sua excomunhão de vinte anos, a dar um puxão de orelha neste e fazê-lo retratar-se. Claro que este evento é político, pois a Igreja não quer se indispor com o Estado judeu e a ferida nazista não está cicatrizada, de modo que a ação da Igreja foi rápida e precisa e politicamente sagaz.
Tanto quanto foi rápida, imprecisa e ignorante a resposta ao caso da jovem pernambucana. Mas que importância política tem uma jovenzinha pernambucana pobre? Neste caso, aplica-se a lei canônica ao pé da letra, sem se interrogar, por exemplo, se aí também não houve uma forma de assassinato psíquico e social. E a Igreja, através de seu porta-voz em Recife ainda tem a tranqüilidade de dizer que o estupro é um mal menor do que o aborto, ou ainda pior – esta uma pérola de obscurantismo medieval: que está proclamando a lei de Deus.
Pura e simplesmente isso: está defendendo a lei de Deus. Logo, é a portadora da verdade absoluta. Mas não! Está mais do que na hora de realizarmos uma revolução profunda nos costumes! Se Deus está morto na sociedade contemporânea, foi a Igreja mesmo que tratou de matá-lo (a propósito, é compreensível ver que Nietzsche atribui justamente à Igreja o papel de Anticristo...). E se há alguma chance de reencontrar Deus neste mundo conturbado, ela passa pela emancipação da religiosidade. Ou seja, é preciso crescer e deixar as Igrejas de lado, buscar novos ritos que sustentem a ânsia pelo sagrado, pois a Igreja virou mais mundana do que as mundanidades que condena.
E eu... eu felicito os médicos que foram ou serão excomungados: é realmente uma honra, neste caso, ser expulso de campo. Congratulações!


Rodrigo Barros Gewehr é professor de Psicologia da UFAL e faz doutorado na França.

sábado, 7 de março de 2009

Ferro fere Mesa da Assembléia alagoana


Não sei se todos perceberam, mas o imbróglio em que se meteu a Mesa da Assembléia Legislativa de Alagoas pode levar esse poder a conviver com uma situação muito complicada. Se não vejamos: o deputado Cícero Ferro – que tinha sido afastado por envolvimento na Operação Taturana - resolveu reassumir, na marra, o seu mandato de deputado. Foi ao plenário, pegou o microfone e deitou falação diante de uma Mesa Diretora “amarelada”. Disse que estava em pleno mandato e marcou para terça-feira (10 de março) o retorno de todos os outros deputados afastados pela Justiça. Percebendo que a Casa Tavares Bastos estava sendo renomeada como Casa da Mãe Joana, o Ministério Público Estadual resolveu pedir a prisão de todos os membros da Mesa, caso permitam a volta dos taturânicos legisladores. A presidente do Tribunal de Justiça, desembargadora Elisabeth Carvalho, também estranhou a passividade do deputado Fernando Toledo, diante do assalto ao microfone comandado por Ferro, e disse que essa atitude era passível de prisão.
Qual seria, então, a situação complicada provocada por essas atitudes? Como o deputado Cícero Ferro me parece estar decidido a fazer valer os seus interesses, pressuponho que ele estará, na próxima terça-feira, 10 de março, em plenário, empunhando a Constituição e disposto a brigar pelo seu mandato. O presidente da Assembléia, Fernando Toledo, será então obrigado a tomar uma das seguintes decisões: mandar a segurança retirar à força o destemido deputado Cícero Ferro, provocando com isso uma possível reação do mesmo; ou aceitar a sua presença e participação na sessão e acabar preso por determinação da Justiça.
Qualquer uma das atitudes da Mesa manterá a Assembléia Legislativa alagoana mergulhada em crise de poder. Quem é mesmo que manda? O destempero de Ferro está expondo que a recente eleição de Toledo nada alterou e o poder continua com os taturanas.