segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

É preciso retomar a agenda transformadora


Edberto Ticianeli
 
As posições conservadoras e golpistas da grande mídia e de parte do judiciário brasileiro fizeram soar o alarme entre as forças democráticas do país, que passaram a entoar brados reativos às ações de agressão à democracia

O problema é que ações reativas somente funcionam como contraposição aos ataques desferidos, com o objetivo de enfraquecer o seu poder de fogo. Não provocam o debate, por exemplo, sobre que modelo de sociedade devemos construir para impedir práticas conservadoras

Na verdade, há um vazio político sobre as alternativas transformadoras dá nossa sociedade. Ele se dá por dois motivos principais: os partidos de direita não conseguem articular projeto algum e temem o enfrentamento com as massas lideradas por Lula e Dilma; e as esquerdas também não enxergam com clareza quais os seus objetivos políticos a longo prazo.

Nas esquerdas, o PT, principalmente, começa a ser cobrado sobre o seu projeto estratégico. Há uma preocupação com o que fazer a partir do capital político acumulado. O alerta é sobre o risco de se reduzir o projeto político ao fortalecimento do estado intervencionista, garantidor de inclusão social. O que não deixa de ser importante para o país, mas são medidas que podem se esgotar diante da crise capitalista mundial.

O debate político necessário para superar o vazio existente vai exigir muito das nossas principais cabeças pensantes. Como sempre, nada no Brasil é fácil ou simples. É preciso lembrar, também, que as principais disputas ideológicas de hoje são continuidades de enfrentamentos políticos anteriores, quando os grupos sociais envolvidos tinham outras conformações.

O Intervencionismo Desenvolvimentista contra o Liberalismo já é um clássico das pelejas ideológicas no Brasil. Na Europa do século XIX e início do XX em outras partes do mundo, o Liberalismo era uma bandeira da burguesia, que queria enfraquecer as aristocracias agrárias. Cobravam o livre comércio como forma de enfrentar os estados fortes, muitos deles monárquicos.

Para provar que nada é simples em nosso país, o Liberalismo por aqui passa ser bandeira da aristocracia rural, que se achava mais preparada economicamente para ganhar com um mercado sem controle do estado. Por outro lado, o intervencionismo tupiniquim passa a ser defendido pela burguesia nacional, apoiada por alguns segmentos da esquerda, sob o argumento que somente o estado tinha condições de alavancar o nosso parque industrial. Essa inversão confundiu muita gente que se guiava pelos clássicos. Quem sabe se ainda não temos resquícios dessa polêmica nos dias de hoje. 

Alguns analistas avaliam que o processo de amadurecimento das nossas capacidades competitivas para um capitalismo globalizado já estão dadas, o que enceraria o ciclo desenvolvimentista. Se isso é verdade, somos um país capitalista avançado e competitivo. O problema é que o PT e as esquerdas defendem outro modelo de sociedade. Por mais que Lula e Dilma tenham ajudado a tirar milhões de famílias da miséria e criado condições para que a economia cresça, gerando empregos, esse é um modelo capitalista, explorador do homem, sujeito a crises.

Está na hora de debater sobre os primeiros passos no enfrentamento de questões que são verdadeiros tabus para os setores conservadores. O país continua a concentrar riquezas e aumentar as desigualdades, o que cobra, por exemplo, uma política de taxações especiais para as grandes fortunas. Por outro lado, é preciso falar grosso com a grande mídia, deixando claro que liberdade de expressão não pode ser justificativa para a partidarização das concessões públicas. Resumindo: é preciso retomar a agenda transformadora.