quarta-feira, 9 de março de 2016

Naná Vasconcelos e o berimbau mágico

Edberto Ticianeli

Recebi hoje a notícia que Naná Vasconcelos tinha partido para batucadas superiores. Com a sua morte, soube também que ele na verdade nasceu Juvenal de Holanda Vasconcelos. Revelação que faz pensar sobre a importância relativa dos nossos nomes, os que vão para os registros. Acho que Naná já nasceu Naná. O nome veio como prenúncio das suas habilidades musicais.

Tive o prazer de ver performances magistrais desse gênio da percussão mundial. Com aquele jeito tranquilo, dominava a plateia por horas com seu berimbau mágico.

Hoje, ao saber da sua morte, me veio imediatamente à mente a recordação de um episódio com ele, que me serviu para medir o quanto era admirado e respeitado por seus colegas de profissão.

Estava em Brasília, no início de 2005, cumprindo mais uma missão de correr pires nos ministérios para conseguir recursos para a Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas. À noite, dei uma saída até a porta do hotel para telefonar para a família quando me deparo com Naná Vasconcelos fumando um cigarro e olhando a fria paisagem da capital federal.

Iniciamos uma conversa e no meio dela lembrei-me de ter ouvido do Wilson Santos, o Wilson dos Tambores, renomado percussionista alagoano, que venerava a arte de Naná Vasconcelos. Resolvi fazer uma surpresa ao amigo. Peguei o telefone celular e liguei para ele.

— Wilson, estou em Brasília e encontrei aqui uma pessoa que quer falar com você —, disse isso e passei o telefone para o Naná Vasconcelos.

— Fala aí, Wilson! Como você está, meu camarada? —, perguntou.

Wilson deve ter indagado quem era seu interlocutor e após as apresentações conversaram por alguns minutos. Naná me devolveu o telefone e voltei a falar com o Wilson. Na verdade, não voltei a falar: ele chorava e mal conseguia dizer alguma coisa.

— Rapaz! Eu falei com o Naná! Cara, você não sabe o tamanho da minha emoção. Esse cara é pra mim um deus.

Fiquei espantado com a reação dele, mas logo compreendi o que tinha acontecido. Naná estava colhendo o que plantou, tocando os corações dos que sabiam ouvir no seu berimbau a obra de um músico que cantava o Brasil e seus sons como poucos.

A música brasileira perdeu um dos seus nomes maiores. A compensação é que milhares de Wilson dos Tambores, seus admiradores e continuadores, estão espalhados por aí continuando a bater em couros e a vibrar arames.



Wilson dos Tambores