quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um destino cultural para a Praça Sinimbu


Edberto Ticianeli
Casa do poeta Jorge de Lima em 1930

Depois de mais de um ano ocupando a Praça Sinimbu, um grupo de trabalhadores sem terra desocupa o espaço. Tenho dúvidas se a ocupação da praça rendeu algum dividendo positivo para a justa luta por terra. Acredito mais que houve um desgaste e, numa análise rápida, posso afirmar que algumas formas de luta destes trabalhadores têm que ser repensadas.

A praça, que naturalmente já sofre com outras ocupações, precisa urgentemente ser reapropiada pelos maceioenses para fins mais nobres que uma feira de carros usados ou boxes para o comércio de artesanato.

Qualquer que seja a proposta de redefinição do uso da praça, terá que levar em conta os novos aspectos urbanísticos do seu entorno, que vem passando por alterações profundas nos últimos anos. As residências quase que não existem mais, predominando o surgimento de repartições públicas.

Três equipamentos se destacam para definição do futuro da praça: o Espaço Cultural da Ufal, o Museu Theo Brandão e a Casa Jorge de Lima. Os dois primeiros pertencem à Ufal e o último à Prefeitura, mas cedido à Academia Alagoana de Letras. Como se percebe, a praça pode e deve ser utilizada como um espaço para as manifestações culturais.
Praça Sinimbu na década de 1920

Não se pode deixar de pensar também na Praça Sinimbu como um dos polos de um futuro eixo cultural que se estenderia dela até à Praça Dois Leões em Jaraguá, envolvendo o Coreto, o Museu da República, a Associação Comercial e o Misa.

O Jaraguá Folia, evento que coordeno há 12 anos, tem discutido isso devido ao aumento da quantidade de blocos e a necessidade de ampliar o percurso dos desfiles. A ideia seria transformar a Praça Sinimbu na área de concentração dos blocos – coisa que já faz o bloco Filhinhos da Mamãe no Museu Teo Brandão.

São ideias que precisam passar pelos estudos dos profissionais em urbanismo. Mas é preciso começar a discutir isso com urgência, antes que as “invasões” terminem por desvirtuar este possível destino para a praça.

Para estimular o debate e valorizar a história da Praça Sinimbu, posto algumas fotos da praça nos seus melhores momentos.
Garagem da CATU (bondes) em 1920
A praça em 1930

Praça Sinimbu em 1869, em foto de Abílio Coutinho

terça-feira, 29 de maio de 2012

Xucuru-Kariri produz alimentos em terra demarcada


Jorge Vieira – Jornalista


Cerca de 120 famílias do povo Xurucu-Kariri, da aldeia Fazenda Canto, no município de Palmeira dos Índios, a cerca de 140 km de Maceió, produzem alimentos na área retomada em 31 de outubro de 2011, denominada Fazenda Salgado (184 hectares), declarada parte do território tradicional, em 2010, pela portaria do então ministro da Justiça Tarso Genro.

Com o apoio da Rede de Educação Cidadã (RECID) e do deputado estadual Judson Cabral (PT/AL), sementes e óleo diesel, respectivamente, grupos familiares estão produzindo coletivamente feijão de corda, milho, feijão carioca, abóbora, macaxeira e melancia, além do cultivo de hortas comunitárias com a plantação de cebolinha, coentro, pimentão, alface, repolho, cenoura.

A produção tem como objetivo atender inicialmente a necessidade de alimentação dos membros da comunidade, enquanto que excedente será comercializado na feira livre do município. De acordo com o professor Gecinaldo Ferreira, um dos incentivadores do trabalho comunitário, os recursos arrecadados com a venda dos gêneros alimentícios serão revertidos no investimento da luta da comunidade, com passagens e alimentação quando do deslocamento de suas lideranças até os centros administrativos em busca de melhorias para as comunidades junto aos órgãos públicos. Segundo informações colhidas junto aos produtores indígenas, o quilo de feijão de corda verde será vendido ao preço de R$ 5.00.

Animados com o resultado da lavoura, visto principalmente pela a qualidade do feijão e do milho garantido pelo sistema de irrigação, com a chuva que está caindo na região, já prepararam cerca de 20 hectares para o cultivo da batata doce, macaxeira, milho e feijão.

Em tom de desabafo, jovens indígenas expressaram com orgulho, afirmando que o roçado demonstra o contrário do preconceito que é por alguns de que índio é preguiçoso. O que falta, para eles, é terra para trabalhar e não precisarem se deslocar até as cidades ou para a região açucareira para trabalharem como boia-fria.

O presidente da Associação Comunitária, Gecivaldo Ferreira, destacou a importância do urgente posse da terra demarcada, afirmando que só assim poderão suprir as necessidades das comunidades, as despesas com a luta em defesa dos direitos, especialmente na conquista do território.

Para o deputado Judson Cabral, apoiar a luta do povo Xucuru-Kariri “é reconhecer e garantir os seus direitos históricos e fazer cumprir o que determina a Constituição Federal”.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Gilberto Gonçalves e o jardineiro cruel


Edberto Ticianeli
 
José Soares, o Joinha, é um mestre na arte de contar histórias. Para ser sincero, prefiro ouvir a versão do Joinha sobre um fato do que saber como verdadeiramente ele se deu.

Em Alagoas, Joinha já é uma lenda viva. Participou ativamente do movimento estudantil e das lutas por democracia no final dos anos 70. Sempre teve um olhar aguçado sobre os fatos políticos, além de ser responsável por tiradas antológicas.

Mas vamos ao que interessa, ou seja, as histórias do Joinha.

Hoje, pela manhã, o encontrei chegando ao seu escritório de advocacia, que fica ao lado da Assembleia. Paramos para conversar e logo estava ele contando a sua versão sobre um ocorrido durante a prisão dos vereadores de Rio Largo.

Segundo Joinha, o ex-deputado Gilberto Gonçalves, morador de Rio Largo e que também já esteve detido, em 2007 - pelo seu suposto envolvimento no desvio de mais de 300 milhões da Assembleia – acompanhava de sua casa o que acontecia na Câmara de Rio Largo.

Um amigo lhe telefonava o tempo todo para informar o andamento da operação policial. Com as prisões concluídas, o ônibus com os vereadores presos partiu para Maceió.

- Gilberto, eles estão saindo agora e vão passar na porta da sua casa dentro de instantes – avisou por telefone celular o seu amigo.

O ex-deputado foi para a calçada, esperando ver os vereadores, alguns deles responsáveis por críticas a ele. Ao seu lado, o seu jardineiro dava os últimos retoques na grama e plantas do seu jardim.

O ônibus se aproxima e, por um problema de trânsito, para exatamente em frente à casa de Gilberto Gonçalves. Uma das mulheres presas vê o ex-parlamentar, não se contém e grita para ele.

- Não fique aí botando essa cara de honesto. Eu lhe conheço. Você já esteve preso também – e continuou por alguns minutos a detratá-lo de forma agressiva, usando inclusive palavrões.

Para surpresa de todos, GG ficou parado, tranquilamente ouvindo as agressões. Quando o ônibus partiu, ele se voltou para o jardineiro e perguntou em voz alta para que os vizinhos escutassem:

- Rapaz, o que você fez no jardim dessa mulher para ela lhe tratar assim – disse isso e entrou.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

De ex a anti-esquerdistas

Emir Sade - Blog do Emir


Isaac Deutscher tem um artigo que ele intitula “De hereges a renegados”, delineando o caminho de gente que começa rompendo com teorias e posições esquerdistas, para terminarem como furibundos anti-esquerdistas. São figuras que povoam a direita de todo o mundo, ao longo do tempo.

Alguns se valeram do stalinismo para terminarem condenando a Lenin e, finalmente, a Marx e ao marxismo. Não por acaso uma proporção não desprezível deles teve origem trotskista, para absolutizar o “totalitarismo stalinista”, passando a identificá-lo com o nazismo e dali estão já a um passo do liberalismo e do anti-comunismo.

Há os tipos padrão, os que foram de esquerda, militantes mesmo, de repente “se arrependem”, largam tudo, renegam, denunciam seu passado e seus companheiros, os ídolos em que acreditaram cegamente, para se entregar de armas, bagagens e, frequentemente, emprego, para a direita. 

Alguns se mantem na esquerda, no seu espaço mais moderado, com um tom fortemente anti-esquerdista, denunciando o que não seria “democrático” em correntes da própria esquerda. São adeptos fortes de alianças com correntes do centro e mesmo da direita, tendem a diluir as distinções entre direita e esquerda.

Outros, os casos mais conhecidos, se tornam militantes da direita, de suas correntes mais fundamentalistas, no velho estilo anti-comunista da guerra fria. Ganham espaços na mídia de direita – desde direção de revistas a colunas em jornais, convites para a televisão – como prêmio pela sua adesão.

Há ainda escritores, intelectuais, músicos, decadentes, em triste fim de carreira, que abandonam posturas rebeldes que tiveram no passado para submeter-se aos donos do poder e dos meios de comunicação em troca de espaços para escrever, prêmios, elogios, que confirmam sua perda de dignidade no fim da carreira.

domingo, 20 de maio de 2012

Governo e Marketing


Por Marcos Coimbra - Correio Braziliense
De uns tempos para cá, difundiu-se uma nova teoria sobre a popularidade de Dilma. À boca pequena, os “grandes entendidos”, os que “sabem tudo de Brasília”, não têm dúvida: é coisa de João Santana!
Para quem não sabe, é bom logo explicar. Ele é o profissional de marketing que assessora a presidente desde o começo do governo. Foi o responsável pela campanha que a levou à vitória em 2010.
Sua proeminência data de quando assumiu a campanha de Lula na reeleição. Embora o ex-presidente já tivesse voltado a ser favorito desde o início de 2006 – quando o eleitorado digeriu e superou o famoso “mensalão” -, aquela não foi uma eleição tranquila. Até os últimos dias do primeiro turno – e o começo do segundo -, a oposição política e social ainda acreditava que tinha condições de derrotá-lo.
Moveu tudo que estava ao alcance, contando com a participação entusiasmada dos principais veículos de comunicação nacionais - que não titubearam no endosso à candidatura de Geraldo Alckmin (mais, até, que o próprio esperava). Mas Lula resistiu e terminou vencendo.
E João Santana soube fazer uma televisão que o ajudou (em muito). Como foi, quatro anos depois, um ator fundamental na campanha de Dilma. 
Santana enveredou pelos caminhos do marketing político e eleitoral através de Duda Mendonça, de quem cedo se tornou um dos mais importantes colaboradores. Com o ostracismo de Duda – o coordenador da campanha de Lula em 2002 -, provocado por suas intempestivas declarações à CPI que investigava as denúncias contra o mensalão, ele assumiu o protagonismo.
Desde a posse de Dilma, Santana a tem assessorado em questões de comunicação. Em especial, é quem se encarrega dos pronunciamentos na televisão. Dirige as gravações, opina a respeito do que ela diz, sugere textos mais facilmente compreensíveis pela população.
O que faz é algo de que nenhum governo democrático moderno prescinde. Não há chefe de governo contemporâneo que não tenha “seu marqueteiro” – ou uma empresa que faz as vezes. A comunicação de massa é relevante demais para ser deixada sob a responsabilidade de pessoas sem qualificação específica – ou para guiar-se exclusivamente pela “intuição” do governante.  
Mas não é por ter essa função que João Santana se tornou, nas últimas semanas, personagem da crônica política e assunto dos comentaristas.
Com frequência cada vez maior, ele passou a ser discutido não pelo que é, mas por algo que lhe atribuem: o papel de mágico.
Entre os muitos que não entendem os bons números da presidente, estão os que acham que a resposta é que são “coisa do João Santana”. O que equivale a dizer que o único motivo de ela ser bem avaliada é o marketing do governo.
Mais ainda: que Dilma é aprovada porque alguém - o marqueteiro - “manipulando” as “técnicas do marketing”, “vende gato por lebre”.
Ela, a “responsável pelo ministério”, se tornou a “faxineira ética” por “obra do marketing” – ou seja, de João Santana. Ela, a fonte dos problemas do governo, se apresenta como solução, “por obra do marketing”. 
No fundo, é mais uma ficção criada pela oposição - particularmente a mídia oposicionista - para não reconhecer um fato básico de nossa vida política: que a larga maioria da sociedade aprova, com racionalidade e fundamentadamente, o governo que Dilma realiza.
Ao invés de tentar mostrar a “falsidade” dessa boa avaliação – atribuindo-a à “ignorância da população”, à “desinformação das pessoas”, ao “clientelismo político”, à “compra das consciências pelo Bolsa-Família” e, agora, ao “marketing do governo” – melhor fariam as oposições se começassem sua análise admitindo que a sociedade aprova o governo por razões concretas. Que está satisfeita objetivamente, e não por estar sendo enganada.
Só assim poderá redescobrir como falar com o país. E não ficar falando sozinha. 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Indecisões tucanas em Alagoas


Edberto Ticianeli

São evidentes os sinais, no ninho do tucanato alagoano, de que ainda não há um projeto eleitoral definido para a sucessão do governador Teo Vilela (PSDB) em 2014. A principal manifestação desta indefinição é a pulverização dos candidatos à prefeitura de Maceió que têm participação no governo do estado.

Sem um projeto definido e unificador, as forças dominantes da economia alagoana sentem dificuldades em formar novos quadros políticos e, mais grave ainda, não conseguem enquadrar as forças acessórias. Os projetos eleitorais prevalecem, provocando o salve-se quem puder.

O dilema eleitoral dos tucanos na escolha do seu candidato ao governo em 2014 é a falta de uma liderança capaz de enfrentar a forte candidatura de Renan Calheiros (PMDB), que dá sinais claros de que pretende chegar ao governo de Alagoas. Os representantes políticos da indústria sucroalcooleira não estão nada satisfeitos com esta possibilidade.

Candidatos ao governo

Na corrida para ocupar o espaço de candidato do grupo, o vice-governador José Thomaz Nonô (DEM) tem posição privilegiada e vantagem sobre os demais. Ele assumirá o governo quando Teo Vilela se afastar em 2014 – vai disputar o Senado -, podendo candidatar-se à reeleição. Entretanto, os analistas consideram que ele seria facilmente derrotado por Renan Calheiros.

Nonô não aceita esta avaliação. Além disso, ele aposta que o deputado Jeferson Moraes (DEM) tem condições de chegar à prefeitura da capital e lhe garantir o apoio na disputa pelo governo em 2014. Jeferson Moraes, por sua vez, tem projeto próprio e quer chegar à prefeitura para pensar em voos mais altos. Ele garante que a sua candidatura é para valer.

Outro pretendente a ocupar o Palácio República dos Palmares é o senador Benedito de Lira (PP), que vem de uma vitória espetacular na última eleição, quando foi o mais votado na corrida para o Senado. Biu de Lira já percebeu que a indecisão abre espaço para que se coloque na relação dos pretendentes. O seu candidato à prefeitura é o vereador Marcelo Palmeira (PP), que ainda não conseguiu aparecer bem em nenhuma pesquisa.

Rui Palmeira

De posse de pesquisas, os tucanos acreditam que o melhor nome do grupo para disputar a eleição em Maceió é o do deputado federal Rui Palmeira (PSDB). Ele teria potencial para crescer na campanha e, se eleito, receberia investimentos para administrar Maceió em ritmo de pré-campanha para a disputa do governo em 2014. Seria o melhor adversário para barrar as pretensões de Renan.

Rui Palmeira tem a seu favor o apoio do pai, Guilherme Palmeira, e a experiência do grupo que esteve no poder em Alagoas por décadas. O seu nome transita sem dificuldades entre os formadores de opinião do estado, além de ter se destacado, como deputado estadual, por não ter se envolvido no processo dos Taturanas.

A dúvida sobre a candidatura de Rui Palmeira reside na sua falta de experiência em disputa majoritária e na sua pouca inserção entre os eleitores da periferia. Estas incertezas têm feito com que o governador Teo Vilela tenha silenciado quando o assunto é o candidato de sua preferência.

Carimbão

Outra candidatura, que também nasce das forças políticas que ocupam o República dos Palmares, é a do deputado federal Givaldo Carimbão (PSB). Mesmo ainda não estando atrelado a nenhum projeto estadual para 2014, Carimbão joga na estratégia nacional do seu partido, que trabalha abertamente o nome do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para cacifá-lo na sucessão da presidenta Dilma Roussef. A candidatura de Carimbão ofereceria palanque para que Eduardo Campos aparecesse para os alagoanos.

O PPS também ensaiou lançar a candidatura de Nadja Baía, mas parece ter desistido do intento. Pelo menos é o que indica a ausência dela na mídia.

Teo Vilela

Se o estilo Vilela de fazer política, sempre cauteloso, naturalmente já retardaria as tomadas de decisões, imagine a dificuldade que está tendo o governador ao lidar com tantas candidaturas à prefeitura de Maceió. O agravante é que ele, como futuro candidato majoritário, não pode atropelar ninguém sob o risco de perder apoios importantes no futuro.

Vilela aposta que a escolha se dê por seleção natural. Pode estar cometendo um erro. O prefeito eleito vai influir diretamente na eleição para o governado estadual e o Senado em 2014. A sua indefinição agora pode levá-lo a receber a mesma moeda no futuro. É bom lembrar que Teo enfrentará Fernando Collor (PTB).

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ateus são mais motivados pela compaixão do que religiosos, diz estudo

Estudo da Universidade da Califórnia questiona associação entre generosidade e religião

iG São Paulo

Thinkstock/Getty Images
Ateus são mais propensos a agir por compaixão do que religiosos, segundo estudo
“Ama o teu próximo” é a regra de ouro de quase todas as religiões. Mas uma nova pesquisa da Universidade da Califórnia, em Berkeley, sugere que religiosos estão menos propensos a ajudar estranhos do que ateus, agnósticos e pessoas menos religiosas.

Em três experimentos, os pesquisadores descobriram que o sentimento de compaixão sempre levava as pessoas não religiosas a serem mais generosas do que as religiosas. Os resultados do estudo foram publicados na edição mais recente da revista científica Social Psychological and Personality Science.

A pesquisa desafia uma suposição generalizada de que os atos de generosidade e caridade são em grande parte movidos por sentimentos de empatia e compaixão. A ligação entre a compaixão e a generosidade se mostrou mais forte para aqueles identificados como não-religiosos ou menos religiosos.
“No geral, achamos que para as pessoas menos religiosas ajudar o outro ou não depende da força de sua ligação emocional com a outra pessoa, disse o psicólogo social Robb Willer, da Universidade da Califórnia, um dos autores do estudo. “Os mais religiosos, por outro lado, podem fundamentar a sua generosidade menos em emoção e mais em outros fatores, como doutrina, uma identidade comum ou preocupações de reputação.”
No estudo, compaixão foi definida como a emoção sentida quando uma pessoa vê o sofrimento de outras, que então a motiva a ajudar, geralmente assumindo os riscos ou custos pessoais da ajuda.
O estudo focou apenas na ligação entre religião, compaixão e generosidade, sem examinar diretamente as razões pelas quais pessoas muito religiosas são menos compelidas a agir por compaixão do que outras. Contudo, os pesquisadores levantam a hipótese de que pessoas profundamente religiosas podem se guiar mais pelo senso de obrigação moral do que os não religiosos.
“Testamos a hipótese de que a religião mudaria como a compaixão impacta o comportamento generoso”, disse Laura Saslow, autora principal do estudo. A pesquisadora se interessou pelo tema quando um amigo não religioso lamentou só ter feito doações para o Haiti depois de ver um vídeo tocante de uma mulher sendo salva dos destroços do terremoto e não por uma compreensão racional de que era necessário ajudar naquele momento.
“Quis replicar essa situação – um ateu fortemente influenciado pelas suas emoções num ato de generosidade com estranhos – em três estudos amplos e sistemáticos”, disse Saslow. 
No primeiro experimento, os pesquisadores analisaram informações de uma pesquisa com mais de 1.300 adultos norte-americanos. Eles avaliaram quanto a compaixão motivou os participantes religiosos e não religiosos a fazerem caridade em situações como doar dinheiro ou comida para um sem-teto. Os menos religiosos ou ateus saíram na frente. “Os resultados indicam que, embora a compaixão seja associada com ações sociais em todos os participantes, essa relação é particularmente forte nos indivíduos menos religiosos”, relata o estudo.  
A pesquisadora se interessou pelo tema quando um amigo não religioso lamentou só ter feito doações para o Haiti depois de ver um vídeo tocante de uma mulher sendo salva dos destroços do terremoto, e não por uma compreensão racional de que era necessário ajudar naquele momento. 

“Quis replicar essa situação – um ateu fortemente influenciado pelas suas emoções num ato de generosidade com estranhos – em três estudos amplos e sistemáticos”, disse Saslow. 
No primeiro experimento, os pesquisadores analisaram informações de uma pesquisa com mais de 1.300 adultos norte-americanos. Eles avaliaram quanto a compaixão motivou os participantes religiosos e não religiosos a fazerem caridade em situações como doar dinheiro ou comida para um sem-teto. Os menos religiosos ou ateus saíram na frente. “Os resultados indicam que, embora a compaixão seja associada com ações sociais em todos os participantes, essa relação é particularmente forte nos indivíduos menos religiosos”, relata o estudo.  
No segundo experimento, 101 adultos americanos assistiram um de dois vídeos: um emocionalmente neutro ou outro que mostrava crianças pobres. Na sequência, eles receberam 10 dólares fictícios e foram orientados a dar qualquer quantidade de dinheiro a um estranho. Os menos religiosos deram mais dinheiro a estranhos do que os mais religiosos.
“O vídeo indutor de compaixão teve um grande efeito na generosidade desses participantes”, disse Willer. “Mas não fez muita diferença para os participantes mais religiosos.”
No experimento final, mais de 200 estudantes universitários foram questionados sobre como se sentiam no momento. Na sequência, participaram de um jogo em que receberam dinheiro para compartilhar ou não com um estranho. Numa das rodadas, os pesquisadores disseram a cada estudante que ele tinha recebido dinheiro de outro participante e que, se quisesse, poderia devolver à pessoa uma parte do dinheiro. Os participantes menos religiosos e com mais compaixão foram os mais inclinados a dividir o que tinham ganho com estranhos do que outros.
“A pesquisa sugere que embora pessoas menos religiosas tendam a ser encaradas com mais desconfiança, ao sentir compaixão, eles podem ser inclusive mais propensos a ajudar os outros do que pessoas religiosas”, disse Willer.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O trabalho, a atividade mais transversal da humanidade

Emir Sader


O homem se distingue dos outros animais por várias coisas, mas a determinante é que o homem tem capacidade de trabalho. O homem transforma o mundo, o meio que o cerca, através do trabalho, para encontrar as formas de sua sobrevivência e para amoldar o mundo conforme os seus projetos. O homem tem o poder de humanizar a natureza, enquanto os outros animais apenas recolhem o que encontram na natureza ou fazem trabalhos puramente mecânicos e repetitivos, sem criatividade – como os casos das formigas e das abelhas.

O progresso humano foi resultado do trabalho humano, embora o trabalho, nas sociedades existentes ate’ aqui, seja, um trabalho alienado, em que os trabalhadores nao possuem os meios de produção para plasmar seu trabalho conforme suas decisões conscientes. Tenham que submeter a ser explorados pelos que nao produzem, mas possuem capital suficiente para ter meios de produção que explorem o trabalho alheio.

A transformação do mundo só pode ser explicada pela evolução do trabalho humano, da capacidade humana de modificar o mundo que o cerca. O homem foi escravo da natureza durante séculos e séculos, acordava quando havia luz e dormia quando ela terminava. Era vítima inerte das catástrofes naturais.

O trabalho humano é a fonte da construção das riquezas, dos bens de que o homem dispõe. Se pudesse decidir livremente, de forma consciente e democrática, o destino do seu trabalho, o mundo seria – será – muito destino, humanizado.

No entanto, a crítica de concepções tradicionais, que buscavam reduzir todas as contradições das nossas sociedades à contradição capital-trabalho, como se as outras – de gênero, de etnias, entre outras – se resolvessem automaticamente quando fosse resolvida aquela contradição, levou à critica da centralidade exclusiva das contradições do mundo do trabalho. Afloraram contradições que sempre existiram, mas que ficaram escondidas pelas lutas dos trabalhadores contra a exploração. Surgiram os novos movimentos sociais – das mulheres, dos negros, dos indígenas, dos quilombolas, das diversas formas de sexualidade, do meio ambiente, entre outros.

Ao mesmo tempo, as transformações ocorridas no mundo, com o desaparecimento do campo socialista e a expansão sem limites do capitalismo, representaram uma ofensiva brutal contra os trabalhadores e o mundo do trabalho. A simples possibilidade dos capitais de se deslocarem para qualquer lugar do mundo para explorar mão de obra nas condições mais brutais, já representa uma violência brutal contra os direitos dos trabalhadores.

O conjunto desses fatores levou à diminuição de importância do mundo do trabalho – invisibilizado pela mídia -, os próprios estudos sobre o mundo do trabalho perderam muito importância, justamente quando exigem muito mais investigação, porque as formas de exploração do trabalho se tornaram muito mais complexas e diversificadas.

Nunca como na atualidade tanta gente vive do seu trabalho, por mais heterogêneos que eles sejam. Homens e mulheres, negros, brancos, indígenas, idosos e crianças, todos trabalham. A riqueza humana continua a ser produzida pelo trabalho humano.

A maioria esmagadora da humanidade gasta grande parte do seu tempo de vida trabalhando – para enriquecer algumas outras pessoas -, a atividade do trabalho é a que ocupa a esmagadora maioria das pessoas e do seu tempo de vida. O trabalho é a atividade transversal que cruza países, classes etnias, gêneros, idades.

O trabalho precisa voltar a ganhar a centralidade que requer, sem deslocar por isso as outras contradições, mas se articulando com elas. Somente assim a grande luta contra a exploração do trabalho, a alienação do trabalho e da consciência humana, poderá avançar na luta pela emancipação humana.

O segredo de Demóstenes Torres


Paulo Moreira Leite - Época

Confesso que não dá para ficar espantado com as delinqüências do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Sem ser preconceituoso, pergunto: o que se poderia esperar de um contraventor a não ser que se dedicasse à contravenção?

Que fosse rezar ave-maria depois de pagar aposta no jacaré e no leão?

Mas há motivo para se espantar com o sucesso de Demóstenes Torres. Como ele conseguiu enganar tantos por tanto tempo?

A resposta não se encontra no próprio Demóstenes, mas em quem se deixou ser enganado.

O senador é um produto típico do radicalismo anti-Lula que marcou a política brasileira a partir de 2002. A polarização política criada em certa medida de modo artificial foi um campo fértil para políticos sem programa e aproveitadores teatrais.

Demóstenes contribuiu com sua veemência e sua falta de freios para criar um ambiente de intolerância política no Congresso, reeditando o velho anti-comunismo da direita brasileira, da qual o DEM é um herdeiro sem muitos disfarces.

Num país onde a oposição se queixava de que não havia oposição, Demóstenes apresentou-se. Contribuía para estimular o ódio e o veneno, com a certeza de que nunca seria investigado. Aliás, não foi.

Caiu na rede de seu amigo e parceiro Cachoeira.  Se aquele celular fajuto de Miami fosse mesmo à prova de grampos, é provável que até hoje o país estivesse aí, ouvindo Demóstenes e seus discursos…

Quem sabe até virasse uma estrela da CPI…sobre Carlinhos Cachoeira.

Nunca se fez um balanço da passagem de Demóstenes pela secretaria de Segurança de Goiás, nunca se conferiu a promessa (doce ironia!) de acabar com o jogo do bicho no Estado nem as razões de seu afastamento do PSDB de Marconi Perillo.

Demóstenes dava até entrevistas contra as cotas e escrevia textos citando Gilberto Freyre. Pelo andar da carruagem, em breve seria candidato a Academia Brasileira de Letras e um dia poderíamos ouvi-lo tecendo comentários sobre a obra de Levi-Strauss, sobre a escola austríaca de economia…

O senador foi promovido, tolerado e bajulado por uma única razão:  necessidade.

Nosso conservadorismo está sem quadros e sem votos. Lembra a conversa de que “faltam homens, faltam líderes”? Vem desde 64…

A dificuldade de construir um programa político autêntico e viável para enfrentar a competição pelo voto está na origem de mais um embuste.

Já tivemos Jânio Quadros, Fernando Collor… Felizmente Demóstenes não chegou tão longe.
Mas todos foram mestres na arte de esconder seu real programa político e oferecer a moralidade como salvação suprema.

O carinho, a atenção, a boa vontade com que Demóstenes foi tratado mostra que teria um longa estrada pela frente.  Não lhe faltavam sequer intelectuais disponíveis para oferecer um verniz acadêmico, não é mesmo?
Há um problema de origem, porém.

A história da democratização brasileira é, basicamente, a história da luta da população mais pobre para conseguir uma fatia melhor na distribuição de renda. Este era o processo em curso antes do golpe que derrubou Jango. A luta contra o arrocho e contra os truques para escamotear a inflação esteve no centro das principais manifestações populares contra o regime.

Desde a posse de José Sarney que o sucesso e o fracasso de cada presidente se mede pela sua competência para para responder a esse anseio.

Aquilo que os economistas chamam de plano anti-inflacionário, estabilização monetária e etc, nada mais é, para o povão, do que defesa de seu quinhão. O Cruzado e o Real garantiram a glória e também a desgraça de seus criadores apenas e enquanto foram capazes de dar uma resposta a isso.

Essa situação também explica a popularidade de Lula, ponto de partida para o Ibope-recorde de Dilma.

E aí chegamos à pior notícia. O conservadorismo brasileiro aposta em embustes porque não quer colocar a mão no bolso. Quer votos mas não quer mexer – nem um pouquinho – na estrutura de renda. Quer embustes, como Demóstenes.

Fiquem atentos. Quem sabe o próximo Demóstenes apareça na CPI do Cachoeira, do Cavendish … e do Demóstenes.

O conservadorismo preocupa-se apenas com seu próprio bolso. Para o povo, oferece moralismo.

paulo moreira leite

Jornalista desde os 17 anos, foi diretor de redação de ÉPOCA e do Diário de S. Paulo. Foi redator chefe da Veja, correspondente em Paris e em Washington.

sábado, 5 de maio de 2012

Dilma ajustando os ponteiros


Por Izaías Almada - Escrevinhador

Que a direita, seus colunistas no PIG e os setores mais conservadores da sociedade brasileira gritem e esperneiem nada mais natural. Contudo, seria auspicioso se parte da esquerda afoita e dos progressistas do Clube de São Tomé começassem a olhar o governo da presidenta Dilma Rousseff com a perspectiva realista de quem sabe entender as possibilidades que o xadrez político, sempre imprevisível e traiçoeiro, oferece.

Refiro-me a dois recentíssimos fatos protagonizados pela presidenta, nos quais se pode perceber – para além da vontade política que os motivou – uma inegável perspicácia em escolher o momento certo para mostrar sua formação humanista, sua argúcia política, seu inegável compromisso com o desenvolvimento do país, mas – sobretudo – sua sintonia com a história do Brasil e com a geopolítica do mundo atual. Refiro-me ao discurso em cadeia nacional no 1º de Maio e a escolha do deputado Brizola Neto para Ministro do Trabalho.

Dois coelhos com uma só paulada. Sem querer enxergar nestes dois fatos aquilo que eles não têm ou procurar chifres em cabeça de cavalo, será possível num primeiro momento destacar o seguinte: ponto número um, salvo erro de avaliação histórica é a primeira vez que um presidente da república enfrenta o poder dos bancos no Brasil, o que já não é sem tempo, diga-se de passagem.

Em segundo lugar, ao escolher para seu ministro do trabalho – às vésperas do dia 1º de Maio – o neto de Leonel Brizola, sucessor incontestável do PTB de Vargas e das lutas populares e de resistência ao golpe de 1964, Dilma Rousseff faz lembrar a milhares e milhares de brasileiros que não se distanciou dos seus ideais da juventude, entre eles os da justiça social, da solidariedade e da luta pela soberania do país.

É perfeitamente compreensível que grande parcela da sociedade brasileira queira transformações mais rápidas e consistentes, em particular aquelas que retirem em definitivo da miséria ou da pobreza crônica os seus cidadãos mais necessitados. E que isso se faça na razão direta de uma formação educacional e de uma conscientização política capazes de dotar esses e outros cidadãos no exercício da crítica construtiva e de levá-los à prática de uma cidadania solidária, menos egoísta, regida por sólidos princípios morais.

Portanto, há que se dar tempo ao tempo. A presidenta Dilma Roussef ainda não completou sequer um ano e meio de mandato, mas devagar vai ajustando os ponteiros com os milhões de eleitores que confiaram nela. Trazer o legado brizolista para o difícil embate político do momento e dar uma canelada nos juros escorchantes que são cobrados pelos bancos brasileiros é indicativo de que o caminho começado por Lula será verticalizado.

Que venham a Lei de Meios, a punição para os que se locupletam com o dinheiro público, a democratização efetiva do ensino, a socialização da medicina, a reconquista de empresas públicas vendidas a preço de banana, a defesa inconteste da nossa soberania. Cada passo a seu tempo, com segurança e o entendimento da maioria. Chega de subserviência, derrotismo e complexo de vira latas.

Como dizia o poeta espanhol: o caminho se faz caminhando.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros TEATRO DE ARENA, UMA ESTÉTICA DE RESISTÊNCIA, da Boitempo Editorial e VENEZUELA POVO E FORÇAS ARMADAS, Editora Caros Amigos.