terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cícero Péricles é entrevistado pelo Diário de Pernambuco

Cícero Péricles teve, nesta terça-feira (28), entrevista publicada no Diário de Pernambuco. O economista alagoano analisa o futuro governo de Dilma Roussef e suas ações para o desenvolvimento do Nordeste.

Qual a sua expectativa para o novo governo?

A proposta politicamente mais forte anunciada pelo Governo Dilma é a de combater a pobreza extrema. Nada mais importante para o Nordeste. O problema regional nordestino persiste, apesar dos avanços econômicos e sociais das últimas décadas. Não é à toa que, num conjunto de 16,1 milhões de famílias vivendo no Nordeste, 6,5 milhões de famílias recebam dinheiro do programa Bolsa Família e 7,5 milhões sejam beneficiários da Previdência Social. Há uma clara percepção entre os dirigentes nacionais que o Brasil não poderá avançar econômica e socialmente sem que o Nordeste se desenvolva mais rápido que as demais regiões. Deste modo, seguramente a região nordestina continuará recebendo um tratamento especial do governo federal.

Que elementos deveriam constar, minimamente, numa política de desenvolvimento do Nordeste?

Se levarmos em conta que os problemas centrais da economia nordestina – pobreza, desigualdades de renda e indicadores sociais negativos, aliados à carência de infraestrutura e frágil setor financeiro – formam um conjunto já diagnosticado e conhecido, a política ideal é aquela que combine os diversos instrumentos capazes de superar os problemas que travam o desenvolvimento regional. A resposta para a criação de mais riquezas virá da combinação de investimentos em infraestrutura com a ampliação de recursos para financiamento às empresas, tanto as instaladas como as que querem se instalar. Essa seria uma resposta parcial. Pelos indicadores regionais apresentados, o Nordeste necessita ampliar os recursos na área social, combinando mais as políticas permanentes, como educação e saúde, e os programas de transferências de renda, permitindo à região elevar seus índices de desenvolvimento humano e alcançar a média nacional.

O crescimento atual do Nordeste é sustentável ou vai depender de quem esteja no governo?

Esse modelo de desenvolvimento social que impulsiona a economia regional deverá ser mantido nos próximos anos. As políticas e os programas, que têm mudado a paisagem social e causado forte impacto na economia local, estão inscritos em forma de lei, a exemplo do SUS e o Fundeb, políticas que têm mais peso no Nordeste que em outras regiões. Num governo futuro, a previdência social ou o programa Bolsa família poderão ser calibrados para mais ou menos, mas não podem ser abolidos. A recuperação do salário mínimo demonstrou ser uma política de desenvolvimento muito forte para ser abandonada sem muitas explicações.

O crescimento econômico sozinho é incapaz de reduzir as desigualdades regionais?

Dada as imensas diferenças regionais construídas ao longo de décadas, mesmo com taxas positivas, o Nordeste não alcançará tão cedo uma participação relativa equivalente a de sua população na economia brasileira. Mas esse não parece ser o problema central da economia nordestina, e sim sua pobreza combinada às conhecidas desigualdades de renda, que limita o tamanho do mercado consumidor e o volume dos investimentos. Na década atual, o Nordeste , com 80% da população urbanizada, atravessa uma fase de crescimento que já gerou três milhões de novos empregos formais, e, beneficiado pelos recursos sociais, assiste uma explosão de consumo sustentado pelos segmentos de baixa renda que dinamizam os setores relacionados a este consumo: o comércio no varejo e a indústria de bens populares. Neste novo cenário, a pobreza e a miséria vêm diminuindo, abrindo espaços para que Nordeste cresça mais rápido, aproximando-se da média nacional.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Cícero Almeida está isolado

Ao se avaliar os últimos acontecimentos da cena política alagoana, não se pode evitar a conclusão de que o vitorioso prefeito Cícero Almeida, talvez ainda não sabendo, vive uma situação semelhante à do rei Pirro (280 a.C.), que, ao responder aos elogios pela vitória na Batalha de Heracleia, reconheceu que vencer os romanos com tantas perdas não compensava: "uma outra vitória como esta e estou arruinado completamente".

Não há dúvidas de que o prefeito de Maceió tem reconhecimento popular — provou isso ao ajudar Teo Vilela a conquistar votos em Maceió —, mas não com a dimensão que ele imagina ter. Ele chegou a afirmar, em recente entrevista coletiva, que havia derrotado o presidente Lula nas eleições em Alagoas. “O Lula pediu votos para o Ronaldo, apareceu na televisão e nem a sua popularidade impediu a nossa vitória”, avaliou, sem modéstia, Cícero Almeida.

Talvez seja exatamente nesse referencial com Lula que Cícero Almeida esteja cometendo o seu erro mais grave. Ele pode estar fazendo a leitura de que foram somente os altos índices de aprovação que deram autoridade ao presidente Lula para eleger sua candidata Dilma Roussef, esquecendo que Lula vendeu o tempo todo a ideia de que ele e Dilma representavam um projeto de poder que vinha dando certo e, principalmente, construiu alianças eleitorais substantivas para conseguir a vitória.

Isolamento

Mesmo reconhecendo a importância de Cícero Almeida para a eleição de Teo Vilela ao governo e Benedito de Lira para o senado, vale lembrar que o prefeito tinha o projeto inicial de ser o candidato ao governo do Chapão, aliança entre PT, PMDB, PDT, PTB, PP e PCdoB, e que não conseguiu, mesmo quando as pesquisas apontavam que ele era o candidato que tinha mais condições de derrotar qualquer adversário.

Quando se apresentou como candidato, Almeida não conseguiu se firmar como comandante de um projeto político e nem estabelecer relações de confiança suficientes para acomodar todos os interesses. O próprio Cícero Almeida reconheceu as incertezas que cercavam a sua candidatura ao governo, quando as suas chances eram muito boas. “O cavalo estava selado, pronto para montar, mas a minha preocupação era levar um coice no meio do caminho”, justificou.

Se não havia confiança no grupo político do Chapão, o caminho seria construí-la ou, em último caso, estabelecer outro projeto de aglutinação de forças, mas nunca sacrificar a perspectiva de construção de alianças. Deixar que as reações intempestivas e emocionais interferissem na racionalidade necessária para a convivência entre forças políticas diferentes, demonstrou que o prefeito ainda não tem maturidade política para comandar um projeto de poder. O pensador francês Alexis de Tocqueville brincava com isso ao afirmar que "na política, os ódios comuns são a base das alianças".

Se analisarmos o rescaldo da vitória do prefeito, encontraremos a seguinte situação: Cícero Almeida não faz parte de nenhum acordo com Teo Vilela e rompeu com Ronaldo Lessa, Fernando Collor e João Lira; sustenta uma frágil relação com o PT e tem problemas com a sua vice, Lourdinha Lira, o que limita os seus movimentos. Mesmo assim, Cícero Almeida alimenta a perspectiva de eleger o seu sucessor, como o presidente Lula, e ainda disputar o governo em 2014. Não é impossível, mas vai precisar de muita engenharia política para reconstruir as alianças necessárias.

Foto: Luis Vilar - Alagoas24Horas