quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Cícero Almeida está isolado

Ao se avaliar os últimos acontecimentos da cena política alagoana, não se pode evitar a conclusão de que o vitorioso prefeito Cícero Almeida, talvez ainda não sabendo, vive uma situação semelhante à do rei Pirro (280 a.C.), que, ao responder aos elogios pela vitória na Batalha de Heracleia, reconheceu que vencer os romanos com tantas perdas não compensava: "uma outra vitória como esta e estou arruinado completamente".

Não há dúvidas de que o prefeito de Maceió tem reconhecimento popular — provou isso ao ajudar Teo Vilela a conquistar votos em Maceió —, mas não com a dimensão que ele imagina ter. Ele chegou a afirmar, em recente entrevista coletiva, que havia derrotado o presidente Lula nas eleições em Alagoas. “O Lula pediu votos para o Ronaldo, apareceu na televisão e nem a sua popularidade impediu a nossa vitória”, avaliou, sem modéstia, Cícero Almeida.

Talvez seja exatamente nesse referencial com Lula que Cícero Almeida esteja cometendo o seu erro mais grave. Ele pode estar fazendo a leitura de que foram somente os altos índices de aprovação que deram autoridade ao presidente Lula para eleger sua candidata Dilma Roussef, esquecendo que Lula vendeu o tempo todo a ideia de que ele e Dilma representavam um projeto de poder que vinha dando certo e, principalmente, construiu alianças eleitorais substantivas para conseguir a vitória.

Isolamento

Mesmo reconhecendo a importância de Cícero Almeida para a eleição de Teo Vilela ao governo e Benedito de Lira para o senado, vale lembrar que o prefeito tinha o projeto inicial de ser o candidato ao governo do Chapão, aliança entre PT, PMDB, PDT, PTB, PP e PCdoB, e que não conseguiu, mesmo quando as pesquisas apontavam que ele era o candidato que tinha mais condições de derrotar qualquer adversário.

Quando se apresentou como candidato, Almeida não conseguiu se firmar como comandante de um projeto político e nem estabelecer relações de confiança suficientes para acomodar todos os interesses. O próprio Cícero Almeida reconheceu as incertezas que cercavam a sua candidatura ao governo, quando as suas chances eram muito boas. “O cavalo estava selado, pronto para montar, mas a minha preocupação era levar um coice no meio do caminho”, justificou.

Se não havia confiança no grupo político do Chapão, o caminho seria construí-la ou, em último caso, estabelecer outro projeto de aglutinação de forças, mas nunca sacrificar a perspectiva de construção de alianças. Deixar que as reações intempestivas e emocionais interferissem na racionalidade necessária para a convivência entre forças políticas diferentes, demonstrou que o prefeito ainda não tem maturidade política para comandar um projeto de poder. O pensador francês Alexis de Tocqueville brincava com isso ao afirmar que "na política, os ódios comuns são a base das alianças".

Se analisarmos o rescaldo da vitória do prefeito, encontraremos a seguinte situação: Cícero Almeida não faz parte de nenhum acordo com Teo Vilela e rompeu com Ronaldo Lessa, Fernando Collor e João Lira; sustenta uma frágil relação com o PT e tem problemas com a sua vice, Lourdinha Lira, o que limita os seus movimentos. Mesmo assim, Cícero Almeida alimenta a perspectiva de eleger o seu sucessor, como o presidente Lula, e ainda disputar o governo em 2014. Não é impossível, mas vai precisar de muita engenharia política para reconstruir as alianças necessárias.

Foto: Luis Vilar - Alagoas24Horas

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