Edberto
Ticianeli
As
posições conservadoras e golpistas da grande mídia e de parte do judiciário
brasileiro fizeram soar o alarme entre as forças democráticas do país, que
passaram a entoar brados reativos às ações de agressão à democracia.
O
problema é que ações reativas somente funcionam como contraposição aos ataques
desferidos, com o objetivo de enfraquecer o seu poder de fogo. Não provocam o
debate, por exemplo, sobre que modelo de sociedade devemos construir para impedir
práticas conservadoras.
Na
verdade, há um vazio político sobre as alternativas transformadoras dá nossa
sociedade. Ele se dá por dois motivos principais: os partidos de direita não
conseguem articular projeto algum e temem o enfrentamento com as massas
lideradas por Lula e Dilma; e as esquerdas também não enxergam com clareza
quais os seus objetivos políticos a longo prazo.
Nas
esquerdas, o PT, principalmente, começa a ser cobrado sobre o seu projeto
estratégico. Há uma preocupação com o que fazer a partir do capital político
acumulado. O alerta é sobre o risco de se reduzir o projeto político ao
fortalecimento do estado intervencionista, garantidor de inclusão social. O que
não deixa de ser importante para o país, mas são medidas que podem se esgotar
diante da crise capitalista mundial.
O
debate político necessário para superar o vazio existente vai exigir muito das
nossas principais cabeças pensantes. Como sempre, nada no Brasil é fácil ou
simples. É preciso lembrar, também, que as principais disputas ideológicas de
hoje são continuidades de enfrentamentos políticos anteriores, quando os grupos
sociais envolvidos tinham outras conformações.
O
Intervencionismo Desenvolvimentista contra o Liberalismo já é um clássico das
pelejas ideológicas no Brasil. Na Europa do século XIX e início do XX em outras partes do mundo, o Liberalismo
era uma bandeira da burguesia, que queria enfraquecer as aristocracias
agrárias. Cobravam o livre comércio como forma de enfrentar os estados fortes, muitos deles monárquicos.
Para
provar que nada é simples em nosso país, o Liberalismo por aqui passa ser
bandeira da aristocracia rural, que se achava mais preparada economicamente
para ganhar com um mercado sem controle do estado. Por outro lado, o
intervencionismo tupiniquim passa a ser defendido pela burguesia nacional, apoiada
por alguns segmentos da esquerda, sob o argumento que somente o estado tinha
condições de alavancar o nosso parque industrial. Essa inversão confundiu muita gente que se guiava pelos clássicos. Quem sabe se ainda não temos resquícios dessa polêmica nos dias de hoje.
Alguns
analistas avaliam que o processo de amadurecimento das nossas capacidades
competitivas para um capitalismo globalizado já estão dadas, o que enceraria o
ciclo desenvolvimentista. Se isso é verdade, somos um país capitalista avançado
e competitivo. O problema é que o PT e as esquerdas defendem outro modelo de
sociedade. Por mais que Lula e Dilma tenham ajudado a tirar milhões de famílias
da miséria e criado condições para que a economia cresça, gerando empregos,
esse é um modelo capitalista, explorador do homem, sujeito a crises.
Está
na hora de debater sobre os primeiros passos no enfrentamento de questões que
são verdadeiros tabus para os setores conservadores. O país continua a
concentrar riquezas e aumentar as desigualdades, o que cobra, por exemplo, uma
política de taxações especiais para as grandes fortunas. Por outro lado, é
preciso falar grosso com a grande mídia, deixando claro que liberdade de
expressão não pode ser justificativa para a partidarização das concessões
públicas. Resumindo: é preciso retomar a agenda transformadora.
Um comentário:
Há já algum tempo venho debatendo isso com amigos. De um lado há os que acham que está tudo errado; que o PT não é verdadeiramente de esquerda e que esperam uma "revolução" que mude tudo da noite para o dia. De outro, estão os que acreditam que já estamos no melhor dos mundos, que o país é outro, completamente diferente e que temos a receita para vencer todas as crises...
Concordo com o articulista de que, vencida a primeira etapa apenas, é hora, neste momento de enfrentamento claro por parte da oposição mais conservadora e retrógrada, reafirmar os valores que levaram o PT (e o povo) ao centro das decisões e promover a guinada que estabeleça as bases de uma verdadeira transformação das estruturas de nossa sociedade.
Não podemos desvalorizar o que já foi feito, mas não podemos nos conformar o que foi conquistados e nos acomodarmos a esse modelo de exploração e desigualdade.
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