quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Pasquim e a banca de revistas do Gesivan

Maceió, no início dos anos 70, ainda guardava as características de uma cidade provinciana. Havia os tradicionais pontos de encontro, como o Café Central ou a porta da Lobrás (para os mais antigos, Quatro e Quatrocentos). Os mais envolvidos com a política frequentavam as bancas de revistas, como a Nacional, do Gesivan Rodrigues, que distribuia os jornais do Rio e de São Paulo.

O semanário Pasquim era um dos mais aguardados no início da semana. As reservas eram disputadas, já que ninguém queria ficar sem o famoso “hebdomadário” carioca. Mas o que atraia mesmo os interessados para a banca do Gesivan era a incerteza sobre se o Pasquim seria apreendido ou não pela polícia federal.

O Pasquim, lançado em 1969, transformou-se no mais importante canal de protesto contra o regime militar. Nasceu para ser um tablóide que retrataria os costumes e comportamentos da classe média do Rio de Janeiro, mas a sua irreverência na denúncia da censura o levou a ser lido no país inteiro, chegando a uma tiragem de mais de 200 mil exemplares.

Nomes como Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Ziraldo, Millôr, Prósperi, Claudius, Fortuna, Ruy Castro e Fausto Wolff eram citados nos batepapos de qualquer roda de estudantes universitários. Suas entrevistas provocavam polêmicas nas mesas do Bar do Chopp e nos encontros organizados pelo anarquista/comunista/revolucionário Nô Pedroza. Foi assim que Leila Diniz, estrela de telenovela, foi revelada musa da esquerda tupiniquim.

Quando prendeu a redação do Pasquim, em novembro de 1970, a ditadura não calculou que provocaria uma onda de solidariedade, projetando ainda mais a imagem do semanário como contestador e adversário dos militares golpistas. Mesmo sem os seus editores, o Pasquim conseguiu continuar sendo publicado, graças a Millôr Fernandes (o único que não foi preso) e as colaborações de Chico Buarque, Antônio Callado, Rubem Fonseca, Odete Lara, Gláuber Rocha e de outros intelectuais e artistas.

No início dos anos 80, a ditadura, mesmo já cambaleante, continuava a tratar os jornais da chamada imprensa alternativa como inimigos. Bancas de revistas passaram a sofrer atentados em todo o país. Os seus proprietários, temendo os danos, deixaram de vender esses jornais, o que decretou o fim do Pasquim. Em Maceió, o combativo Gesivan teve a sua banca danificada com uma tentativa de incêndio. Ele continuou expondo os tablóides de oposição e, graças ao apoio das organizações que lutavam contra a ditadura, manteve-se como um dos poucos que vendeu do primeiro ao último exemplar do Pasquim. Gesivan está perto de completar 50 anos de atividades à frente da Banca Nacional, na Praça do Montepio ao lado do velho casarão do antigo Hotel Lopes. Ele e sua banca já fazem parte da história e da cena urbana de Maceió.

2 comentários:

Blog do Majella disse...

Ticianeli, esse texto é revelador da cena politica alagoana e também da contribuição de um cidadão(Gesivan Rodrigues)entre tantos outros, que continua a vender revista, jornais e outros produtos culturais em Maceió.
Parabéns.

Chico de Assis disse...

Olá Edberto. Aquí estive. Parabéns pelo Blog.

Abraços
Chico de Assis