quinta-feira, 24 de junho de 2010

Carteirada: a autoridade acima da lei

Publicado no dia 12/03/2010 - Qualquer Instante

Confesso que não esperava a repercussão que teve essa história da carteirada no Centerplex. Talvez o fato tenha ganho essa dimensão nacional porque envolveu a prisão de uma gerente do empreendimento. Outra possibilidade a ser levada em consideração pode ser atribuida a atitude da cúpula da Polícia Civil, que tratou afobadamente de encontrar uma “autorização” legal do Gecoc para o uso indevido da autoridade policial, provocando desmentidos do Ministério Público. Por qualquer das razões, Alagoas está de volta ao noticiário nacional por motivos policiais.


O pior é ter que ouvir a justificativa dos policiais, que estavam no cinema em missão secreta para prender traficantes. Imagine quatro agentes, procurando esconder suas identidades dos bandidos; chegam à portaria do Centerplex e exibem as carteiras de... POLICIAIS!

Pelo menos, podemos extrair alguma coisa de positivo no episódio: está aberta a discussão sobre a prática da “carteirada”, uma aberração que tem provocado situações vexatórias. Quem trabalha com eventos em Maceió, sabe o que é ter que suportar, dependendo do show, uma verdadeira invasão de autoridades e familiares, todos no exercício da profissão. Já foram várias as tentativas de impedir que isso ocorra. Em meados dos anos 90, no auge dos shows de axé no Ginásio do Sesi, um empresário procurou o Comando da Polícia Militar para denunciar o expressivo número de “carteiradas” que a tropa praticava em seus eventos. O coronel achou que o empresário estava exagerando e não deu ouvidos. A solução foi filmar o movimento na catraca, que comprovou a denúncia: 15% dos presentes ao espetáculo escolhido para ser observado, ali estavam por força de uma “carteirada”.

Sei que há uma reunião marcada entre produtores de eventos e deputados para discutir o assunto. Tomara que a mobilização dos empresários conte com o apoio do Ministério Público e da Assembleia para que o exercício da autoridade tenha limites e que sejam normatizados em lei.

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