quinta-feira, 24 de junho de 2010

Igreja, pedofilia e perdão

Publicado em 15/03/2010 - Qualquer Instante

Após o escândalo envolvendo a Igreja Católica em mais um caso de pedofilia, o bispo da diocese de Penedo (AL), Dom Valério Brêda, suspendeu das atividades religiosas os três padres denunciados: monsenhor Luiz Marques, monsenhor Raimundo e Edílson Duarte. Vamos aguardar, agora, qual será a atitude da cúpula da Igreja em Alagoas diante desse novo caso de abuso sexual de crianças. Independente da posição que a igreja católica venha a tomar, cabe questionar o porquê de tanta reincidência desse tipo de crime. Para se ter uma ideia da relação entre padres e crimes de abuso sexual, hoje existem dez padres na cadeia e 40 fugindo para não serem atingidos pelos mandatos de prisão.

Na reportagem da revista Istoé, de novembro do ano passado, há uma pista de como agem os religiosos para abusarem das crianças. Em Agudos, São Paulo,o padre Tarcísio Tadeu Sprícigo - que cumpre pena de 15 anos por violentar um menor de cinco anos - deixou anotado em um diário o modo como agia: “Apresentar-se sempre como dominador. Ser carinhoso e não ser apressado. Nunca fazer perguntas, mas ter certezas. Conseguir garotos seguros e carentes, que não tenham pai e que sejam pobres. Jamais se envolver com garotos riquinhos”.

Se servir de consolo para alguém, esse problema não atinge somente à Igreja no Brasil. Na sexta-feira passada (12/03), segundo a agência Reuters, o chefe da Igreja Católica da Alemanha, arcebispo Robert Zollitsch, pediu desculpas às vítimas de abuso infantil cometido por padres. Surgiram no país mais de 100 relatos de abusos em instituições católicas, incluindo uma ligada ao prestigioso coral de Regensburg, regido pelo irmão do papa entre 1964 e 1994.

Em 2003, em Boston, o promotor-geral do Estado americano de Massachusetts, Tom Reilly, denunciou o cardeal John Geoghan por ter estuprado mais de 130 crianças em trinta anos. Ele foi sentenciado a dez anos de cadeia. Mas ele não estava só: a própria arquidiocese reconheceu o testemunho das 789 vítimas, que acusavam 237 sacerdotes da região.

Na Austrália, em 2008, o grupo Broken Rites, que representa as vítimas de abuso, divulgou uma relação de 107 condenações de abuso sexual na Igreja, mas diz que o número verdadeiro de casos é ainda maior, já que poucos levam a questão ao tribunal. A Igreja Católica na Austrália pediu desculpas pelo último caso e ofereceu compensação.

Pedir desculpas e perdão tem sido, aliás, uma marca da Igreja Católica. Por ocasião das comemorações dos 500 anos do descobrimento, em 2000, a cúpula da Igreja no Brasil pediu perdão aos índios e negros, vítimas do violento processo de colonização do país, e que contou com a participação ou silêncio da Igreja.

O papa João Paulo II também pediu perdão aos judeus pelos erros da Igreja durante a Segunda Guerra Mundial, que calou diante do massacre nazista. Pediu perdão também pelas agressões das Cruzadas e torturas da Inquisição durante a Idade Média. Os índios americanos também foram alvos do pedido de perdão do Papa, que reconheceu os massacres no processo de expansão da fé católica no continente.

Uma história, antiga e recente, recheada de pedidos de perdão, não é o melhor cartão de visitas de quem se propõe a liderar a vida espiritual de milhões. Está na hora de abordar o problema com mais profundidade para se evitar que essa sequência de crimes atinja ainda mais a imagem da Igreja.

Nenhum comentário: