sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O mundo neoliberal da sociedade da informação

Edberto Ticianeli

Desde os anos 70 que a expressão Sociedade da Informação já circulava no meio acadêmico. Coube ao sociólogo Daniel Bell, autor do livro O advento da sociedade pós-industrial, a primeira abordagem sobre um corpo social fundamentado no conhecimento teórico como o coração de uma nova economia que estaria apoiada numa sociedade de informação. Ele apontava que numa realidade como essa as ideologias seriam desnecessárias.

Nos anos 90, novamente o termo volta ao debate, agora em um contexto dominado pela internet e pelas tecnologias da informação e da comunicação. O G7, fóruns da Comunidade Européia e da OCDE, agências das Nações Unidas, Banco Mundial e o próprio governo dos EUA passaram a discutir essa nova sociedade. No final dos anos 90 a União Internacional de Telecomunicações, a ONU programaram Cúpulas Mundiais para 2003 e 2005 adotando Sociedade da Informação como tema.

Sociedade da Informação nasce – política e ideologicamente – como instrumento da globalização. O neoliberalismo se propunha a instituir um mercado sem fronteiras nacionais, regulado somente pelas leis do mercado. Seus mentores principais se abrigavam na Organização Mundial do Comércio (OMC), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, que atuavam forçando os países em desenvolvimento a abrirem suas portas para os investimentos estrangeiros. O fim desse filme todos conhecem: mais fome, desigualdade e miséria espalhados pelo mundo, convivendo com computadores, celulares, sistemas GPS, TV digital, fibra ótica e internet. 

A globalização neoliberal anunciava a Sociedade da Informação como um novo ambiente econômico sem conflitos sociais, lutas de classe e revoluções. A única revolução possível seria a tecnológica. A riqueza deixaria de vir da exploração do homem e passaria a vir da geração de conhecimento e informação, o que exigiria maiores qualificações profissionais e acadêmicas. Os robôs trabalhariam para os homens e as facilidades propiciadas pela tecnologia criariam o paraíso na terra. Os benefícios tecnológicos escondiam ou justificavam uma realidade econômica mundial de aumento do desemprego e expansão da miséria, deixando ver somente as maravilhosas possibilidades que a telinha do iPhone oferecia. A consequência imediata, de uma sociedade em que o seu desenvolvimento está centrado na tecnologia da informação, é a entrega à indústria de telecomunicações da tarefa de ser o carro chefe da economia. O segundo vagão, certamente será ocupado pela indústria produtora de serviços e conteúdos digitais.

Se é verdade que os avanços tecnológicos trouxeram o voto eletrônico, a TV digital, a biblioteca digital, as redes sociais, o banco on-line e o e-mail, por outro lado também permitiram que fronteiras fossem invadidas em nome da construção de uma sociedade global da informação, nome pomposo para um enorme mercado mundial de consumo dos serviços e produtos, controlado pelos novos imperadores da terra. O problema dos valores neoliberais é que eles não sabem como justificar, no seu paraíso da informação, a presença dos milhões de miseráveis do mundo real que continuam sem escola e sem acesso sequer à energia elétrica, excluídos da sociedade de informação e até da raça humana.  

Um comentário:

Rose Marques disse...

Muito bom o texto, parabéns. Acho curioso como as coisas acontecem... quando adolescente eu fui incuba de entrevistá-lo para um trabalho em grupo da minha escola. Mas tarde já casada, ou já separada nem me lembro bem., o reencontrei através de uma amiga em comum Graciele. Agora mais uma vez reencontro você, agora no grupo dos blogueiros. Um abraço!