sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pão de Açúcar: Cristos e Niteróis

Edberto Ticianeli
Cristo Redentor no Morro do Cavalete, em Pão de Açúcar
Foto: Tomatão

O município de Pão de Açúcar, em Alagoas, tem um Cristo sobre um morro e do outro lado do rio São Francisco fica Niterói, um povoado do município sergipano de Porto da Folha. A conclusão imediata, para quem não conhece as origens do topônimo Pão de Açúcar, é que os alagoanos daquela região queriam prestar uma homenagem ao Rio de Janeiro, que tem o famoso morro do Pão de Açúcar. Mas, a origem não é essa.

Forma para o pão de açúcar
Segundo o historiador Vieira Fazenda, o nome pão de açúcar associado ao penhasco famoso do Rio de Janeiro é atribuído aos portugueses, que nos séculos XVI e XVII controlavam o plantio e produtos derivados da cana-de-açúcar. Um desses derivados, e o mais valioso na época, era o açúcar, que recebia a forma cônica devido ao recipiente de barro onde era acomodado para secar por 45 dias. Somente depois de seco é que o pão de açúcar era quebrado para separar a parte nobre e transformá-lo em pó para ser exportado. A sobra, com impurezas, ficava para a alimentação dos escravos.

Morro do Pão de Açúcar,
no Rio de Janeiro
Em Alagoas, a nossa Pão de Açúcar tem também origem no século XVII. O historiador Moreno Brandão, coincidentemente um pão-de-açucarense ilustre, localiza o início do povoamento em 1611. O primeiro nome do lugar, Jaciobá, foi dado pelos índios Uramaris, que significa em guarani “Espelho da Lua”. As terras doadas a eles por D. João VI ficavam entre o morros do Cavalete e do Aranha. Os Xocós, da Ilha de São Pedro, em Sergipe, não gostaram da nova vizinhança e invadiram o local, mas mantiveram o belo nome de Jaciobá.

Morro do Cavalete em Pão de Açúcar, Alagoas
Não durou muito o domínio dos Xocós. Em 1634, a região foi tomada por Cristovam da Rocha, um rico proprietário em Penedo, e, em 1660, já era propriedade do português Lourenço José de Brito Correia, que instalou uma fazenda de gado entre os morros Cavalete e Farias, com o nome Pão de Açúcar. Ele observou que o morro do Cavalete era parecido “com as formas, de feitio cônico, onde se punha o mel de cana-de-açúcar para cristalizar e formar o pão de açúcar”, como historia Etevaldo Amorim em seu livro Terra do Sol – Espelho da Lua. Etevaldo é outro pão-de-açucarense ilustre e um dos maiores estudioso da memória do município.

Como se percebe claramente, não há influência do Pão de Açúcar do Rio de Janeiro sobre o nosso, em Alagoas. Os dois topônimos surgiram na mesma época e com as mesmas origens. Outro esclarecimento: em Pão de Açúcar, o Cristo fica sobre o morro do Cavalete e no Rio de Janeiro sobre o morro do Corcovado; aqui é nome de município, lá é nome de um morro, aquele dos bondinhos.

Morro do Cavalete em 1939
Foto: Edgar de Cerqueira Falcão
Quanto ao povoado de Niterói, do outro lado do rio, em Sergipe, não consegui informações sobre a sua origem. Mas, sobre Niterói, município do Rio de Janeiro, se sabe que recebeu essa denominação em 1835, aproveitando a expressão Nictheroy (águas escondidas), que era como os índios Tupis se referiam à Baía da Guanabara.

Como pão-de-açucarense, reconheço que o nome da minha cidade guarda informações importantes sobre aspectos econômicos da história que nos deu a identidade que temos hoje, e por isso, me orgulho de dizer que sou filho de Pão de Açúcar. Mas não me sentiria menos orgulhoso se minha terra ainda se chamasse Jaciobá, o “Espelho da Lua”, o que destacaria outros aspectos não menos importantes da nossa identidade.

Um comentário:

Goretti Brandão disse...

Gostei da matéria, Edberto!!!! Beijão