quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A dessacralização do hino de Alagoas

Jurandir Bozo
Não sei bem a origem da sacralização dos hinos, mas aprendi, nas escolas públicas que frequentei, a reverenciá-los como faz um militar. Esse respeito exagerado só veio a ser questionado quando comecei a ver em filmes americanos o hino (deles) ser cantado das mais diversas formas, até mesmo sem o acompanhamento de banda. Confesso que a partir daí fiquei com uma pulga atrás da orelha quando o assunto era a devoção positivista aos hinos. Antes que seja interpretado erroneamente, deixo claro que isso não significa desrespeito aos símbolos da nossa identidade: é somente uma questão de dar o peso certo a cada coisa.

Em 2006, então secretário estadual de Cultura de Alagoas, tive a oportunidade de testar o que acreditava ser uma boa experiência com o hino de Alagoas. O Júnior Almeida propôs que a Secretaria promovesse uma oficina de produção musical em estúdio. Se não me falha a memória, o Ricardo Guima foi o monitor do curso.

Vitor Pirralho
Propus, então, que ao final da oficina, como exercício para os músicos, fosse gravado o hino de Alagoas da forma mais livre possível. O resultado, que guardo até hoje com muito cuidado, foi um CD com duas versões do nosso hino: uma com o Jurandir Bozo, conterrâneo lá de Pão de Açúcar, e a outra com o Vitor Pirralho. Admito que fiquei surpreso com a criatividade e ousadia da turma. O resultado é de arrepiar. Mesmo conhecendo e valorizando o que o Eliezer Setton tem feito com nossos hinos, acho que esses dois trabalhos se destacam por sua contemporaneidade. A sensação que se tem é que o cantar das ruas faz coro com o Jurandir Bozo e o Vitor Pirralho.

Essa forma diferente de ver o nosso hino, sem o ranço positivista, deveria ser mostrada aos jovens nas escolas. Tenho certeza de que o hino aprendido assim fica muito fácil de ser cantado, quando necessário, na forma oficial.



Um comentário:

Carlos Holanda disse...

Muito bom. Gostei mais da versão "rock" do Jurandir Bozo. Esse "respeito" exagerado ou, sacralização, é uma grande idiotice. Como você mesmo disse, os americanos conseguiram mais patriotismo com seus símbolos, permitindo o uso aberto dos mesmos. Aqui ao nosso lado, em Pernambuco, já vi o hino deles ser tocado em diversos ritmos, até como frevo, no Carnaval. E olha que os pernambucanos são bem mais bairristas que nós, alagoanos.