segunda-feira, 13 de junho de 2011

A ressurreição da mãe de um vigarista

Para os twiteiros de Alagoas, a noite deste domingo ficou marcada como a do mico do Marcos Fireman. Ele anunciou a morte de uma liderança da juventude do PSDB e depois descobriu que o rapaz estava vivo e que o governador estava sendo vítima de um velho golpe dos meios políticos: o pedido de ajuda para o enterro.

O episódio me fez lembrar de uma situação semelhante em que estive envolvido. O ano era o de 2006 e eu ocupava o cargo de Secretário Estadual de Cultura. Com o expediente terminado, continuei nas dependências da secretaria adiantando alguns trabalhos. Lá pelas 4 horas da tarde, o vigilante me avisa que tinha um cidadão insistindo em falar comigo e que me conhecia. Pedi que o deixasse entrar. Ele me cumprimentou aparentando intimidade.

- Tudo bom, Ticianeli? Tem ido a Pão de Açúcar?

Não reconheci quem era, como não é raro acontecer a quem tem vida pública.

- Olhe, eu vim aqui para pedir uma ajuda a você – anunciou.

Olhei para o indivíduo e liguei o sistema de defesa. A experiência de muitos anos na política indicava que a “facada” ia ser violenta.

- O que aconteceu é que minha mãe morreu lá em Pão de Açúcar. Mas, não pense que eu vim lhe pedir para me ajudar com o caixão. Essa parte eu já resolvi. O que falta agora é o transporte para lá.

Confirmado. Era o velho golpe de insinuar que vai fazer um grande pedido, para em seguida anunciar que é pouca coisa, forçando a vítima a se sentir aliviada e, facilmente, abrir a carteira. Resolvi que o esperto vigarista merecia uma lição e disse:

- Olhe aqui, meu amigo, eu não vou lhe dar a passagem, mas vou fazer muito mais. Não é justo que você numa situação dessas tenha que pegar um ônibus. Vou conseguir um transporte da prefeitura de Pão de Açúcar para levar você lá.

Peguei o telefone e liguei para o prefeito Cacalo e indaguei se ele estava no sertão (Pão de Açúcar). Ele confirmou. Perguntei, então:

- Cacalo, o sino tocou?

Ele respondeu que não, o que significava que ninguém tinha morrido na cidade.

- Sabe o que é, estou aqui com um amigo aí da terrinha que perdeu a mãe e está precisando de transporte. A mãe dele morava na Rua da Frente e morreu hoje de manhã aí em Pão de Açúcar.

- Ticianeli, você está com um vigarista aí, não é? Adivinhou o escolado Cacalo.

Confirmei e me despedi do prefeito. Olhei para o vigarista e lhe disse:

- Meu amigo, não vou mais lhe dar o transporte. Você vai receber muito mais. Vou lhe dar a melhor notícia da sua vida: A SUA MÃE ESTÁ VIVA! Fique tranquilo que ela não morreu. Eu acho que você recebeu uma informação errada.

Acompanhei o encabulado vigarista até a saída e ele ainda não conseguia dizer nada. Acho que foi a emoção.

2 comentários:

Goretti Brandão disse...

Ediberto, essa 'passagem' dentro de um conto fica fantástico KKKKKKKKKKKkkk
ADOREI! Sobretudo a sua esperteza. Se fosse comigo - coração amolecido e sem nenhum alarme - abria a carteira, dava a grana (se tivesse) e com certeza ainda ia chorar com pena KKKKKKKKKKKKkkkkkk

Anônimo disse...

PRIMO VC É FANTÁSTICO, UM VERDADEIRO TICIANELLI. ABRAÇÃO.
MARCEL