quarta-feira, 15 de junho de 2011

São Paulo e o fantasma de Vargas

Vargas e Lula: políticas desenvolvimentistas

A elite paulista conservadora dá provas de que não vai abandonar o osso (ou filé?) do poder em São Paulo tão cedo. Não é de agora que ela defende com unhas e dentes a sua capitania hereditária. Em 1932, a pretexto de fazer uma revolução constitucionalista, armou-se para enfrentar o governo provisório de Getúlio Vargas. Conversa mole. O que estava em jogo era o fim do domínio político e econômico da aliança paulista/mineira, o café com leite.

Ela nunca perdoou a derrota militar para Vargas.  Em 1964, lá estava ela de novo, junto com a UDN e os militares para golpearem Jango, acusado por eles de ser um comunista e herdeiro dos ideais de Vargas.

Dias antes do golpe militar, a classe média amedrontada foi mobilizada pela elite paulista para uma imensa passeata (ou procissão?), que ficou conhecida como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A palavra de ordem mais gritada era: "Vermelho bom, só o batom".

Mesmo com o golpe, as forças políticas de oposição ao regime militar continuaram vivas e atuando, mesmo de forma limitada. A elite brasileira cobrava mais rigor repressivo contra os contestadores da ditadura. A elite paulista conservadora foi mais além. Em 1979, criou a Operação Bandeirantes, a OBAN, que era uma formação paramilitar fora da lei.

Na articulação do grupo participavam o Grupo Ultragás, Ford, GM, Grupo Camargo Corrêa, Grupo Objetivo e Amador Aguiar (Bradesco).  Alguns destes, como foi o caso de Henning Albert Boilesen, que dirigia o Grupo Ultra, chegaram a ser acusados de participarem das sessões de tortura.

O varguismo sempre assombrou a nobreza paulista. Brizola, por suas ligações históricas com João Goulart, também testemunhou essa rejeição. Suas votações em São Paulo sempre foram pífias e o seu PDT não avançou muito.

E de quem é que a elite paulista conservadora não está gostando agora? De Lula, que cometeu o crime de desenvolver o país atendendo a parte dos anseios dos mais pobres. “É o ressurgimento do populismo varguista!”, vocifera a tradicional oligarquia de São Paulo.

Lula já os derrotou em três disputas pela presidência da república. Mas, nas batalhas pelo governo paulista, a vitória tem sido dos segmentos mais atrasados. Com um detalhe: eles ganham bem antes que a campanha comece, eliminando os candidatos mais fortes que o PT prepara para as eleições estaduais.

Os escândalos com Zé Dirceu e Palocci são exemplares para ilustrar como se processa a disputa nas pré-campanhas. Zé Dirceu e Palocci podem até não serem honestos, mas, com toda a certeza, não foi por isso que foram atingidos. Os dois, quando foram nocauteados, ocupavam cargos chaves para o fortalecimento de uma campanha ao governo paulista, ou até mesmo à presidência da república.

A elite conservadora de São Paulo, por mais que o Estadão ou a Folha empinem o nariz, não tem problemas em conviverem com os Malufs e Pittas, suas crias. Zé Dirceu e Palocci foram derrotados por representarem o que eles consideram ser o varguismo lulista. Isso não justifica os possíveis erros dos petistas, e se devem à Justiça, que paguem.

Sempre é bom entender os fatos além das suas aparências. As forças mais atrasadas de São Paulo aceitam tudo para se manterem no poder. O que elas não suportam mesmo são os que querem incluir os mais pobres e os trabalhadores nas mesas de negociação. O pior é que não se tem a certeza de que Zé Dirceu ou Palacci conseguiriam isso, caso chegassem ao governo de São Paulo.  

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