terça-feira, 18 de março de 2008

MÍDIA: manipulação é séria ameaça à democracia

Artigo do jornalista José Luiz Pompe

A descarada manipulação diária exercitada pela grande mídia em prejuízo da opinião pública não tem limites. A recente visita ao Brasil da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, evidencia muito bem a violação da informação praticada pelos conglomerados da mídia dominante, tendo à frente os Estados Unidos, país que está no comando da globalização da economia.
Na entrevista “exclusiva” à Rede Globo, Rice (que aqui veio a fim de pressionar Lula a se colocar ao lado da Colômbia nas questões sul-americanas) em nenhum momento foi questionada sobre a infeliz e gravíssima defesa que George W. Bush fez da tortura como meio “legítimo” para arrancar “informações” de supostos terroristas em interrogatórios. Para o arrogante presidente, é válido aplicar sobre os suspeitos o chamado método "waterboarding", que consiste em pendurar o prisioneiro de cabeça para baixo e descê-lo até o pescoço em um recipiente com água, causando a sensação de sufocamento.
Para Bush, o horror das Torres Gêmeas veio em boa hora. Oportunidade ímpar para manipular a mídia em favor de seus interesses e promover seguidamente mais mortes que as causadas pelos ataques daquele 11 de setembro; um ótimo pretexto para confundir a opinião pública e ganhar “respaldo” para invadir países e até torturar pessoas.
Coerente com essa orientação manipuladora, a Rede Globo, principal porta-voz dos conglomerados da mídia no Brasil, é incansável em jogar a opinião pública contra quem ousa desafiar o poderio ianque. Um dos alvos preferidos da emissora é o presidente da Venezuela, Hugo Chávez (que condena o neoliberalismo), a quem classifica como louco inconseqüente e de quem omite ações positivas, como sua atuação em prol do fortalecimento da América do Sul e nas negociações que resultaram na libertação de reféns há vários anos prisioneiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Nessa trilha, editou apenas o lado “simpático” de Condoleezza e chegou até a tratar de modo banal o estúpido apoio que ela atribuiu à Colômbia (cujo presidente, Alvaro Uribe, é declarado aliado de Bush) por ter invadido território do Equador para exterminar guerrilheiros das Farc, com isso violando o sagrado direito à soberania de um país.
Outro alvo preferido para os ataques da grande mídia é o ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, considerado “inimigo mortal” dos Estados Unidos por não se submeter aos ditames da nação de Bush. Esses manipuladores da informação deixaram, por exemplo, de registrar o alerta feito por Fidel em 2005 sobre uma suposta conspiração dos Estados Unidos para matar Chávez, que na ocasião firmara um acordo para Cuba adquirir petróleo em troca de serviços médicos e educacionais, aumentando com isso o temor de que um regime ao estilo do cubano possa surgir no país sul-americano, um importante fornecedor de petróleo para os norte-americanos. “Esse alerta vem de um sobrevivente. Eu sobrevivi”, disse então Fidel ao registrar ter sobrevivido a pelo menos cem tentativas de assassinato.
No caso brasileiro, mesmo quando contrariado em sua orientação política, ao contrário do que fez Chávez com a Televisora Venezolana Social, o governo Lula nunca sinalizou no sentido de recorrer à alternativa de cassar a permissão dos grupos que atualmente detém os veículos de informação, embora a concessão caiba ao Ministério das Comunicações. Atualmente, as concessões são renovadas quase que automaticamente.
Porém, motivos para cassação é o que não faltam, já que, ao desrespeitarem muitos dos princípios que regem a conduta das emissoras previstos na Constituição Federal, os cidadãos são privados de um direito fundamental: a liberdade de expressão. Historicamente, as concessões são distribuídas segundo interesses políticos. Não se estabelece o controle público para garantir a pluralidade necessária para a consolidação da democracia.
No mundo “globalizado”, a informação é considerada uma mercadoria como outra qualquer e adquire outros valores que não aqueles como a verdade, a ética, o direito dos cidadãos de serem corretamente informados. O que prevalece é a livre-oferta, e assim, qualquer intervenção do Estado é considerada como “censura”. O papel do Estado como coordenador dos sistemas de informação e de comunicação, no interesse da liberdade de informação cidadã, deixa de existir.
Oitenta por cento do mercado da mídia mundial estão nas mãos dos Estados Unidos e da Europa (40% cada). Essa concentração é crescente e nociva aos interesses da opinião pública mundial. Empresas são engolidas, absorvidas por outras mais poderosas. Formam-se oligopólios que controlam a multimídia e expandem-se cada vez mais. Essa concentração constitui-se numa séria ameaça à democracia .
Muitos são os fatos de relevante importância que foram submetidos à manipulação da mídia para confundir e deturpar a reação da opinião pública. Um forte exemplo foi a cobertura da guerra do Golfo em 1991: as imagens transmitiam ao vivo a “guerra limpa” dos mísseis riscando os céus, mas não mostravam a dor causada pelas bombas com o propósito de não despertar o sentimento de solidariedade às vítimas daquela carnificina que a Rede Globo, traduzindo do inglês para o português, chamava de “intervenção cirúrgica”. A imprensa tratou de ocultar as razões econômicas da guerra forjando justificativas “humanitárias e democráticas”. Não mencionava o verdadeiro motivo do massacre: o controle sobre uma das regiões produtoras de petróleo mais importantes do mundo.

3 comentários:

Anônimo disse...

A influência de interesses econômicos e políticos na concessão de serviços públicos de rádio e televisão é um fato incontestável. E também é inconteste que isso é ruim. A "sugestão" apresentada pelo jornalista de cassação das concessões por desrespeitar a liberdade de expressão, porém, é pior. Como almeja o dito jornalista alcançar a liberdade de expressão cassando a voz daqueles que não se alinham ideologicamente ao seu ponto de vista? É assim que pretende restabelecer a "liberdade"? Sorte a dele que, em nosso país, ele pode emitir suas opiniões e falar as bobagens que quiser. Num país como o que apregoa, esse direito não seria permitido.

Sandra Valéria disse...

Parabéns pelo seu Blog....muito bem elaborado e com conteúdo...que é o mais importante.

Anônimo disse...

Ao contrário de como interpetra o comentarista anônimo, para mim ficou claro que o jornalista em nenhum momento defendeu a cassação de vozes desalinhadas com a mídia (aliás, isso é o que acontece em nosso país), mas sim que os motivos que respaldam a cassação (violados diariamente) estão relacionados na Constituição Federal (eles existem). O Estado democrático não terá como garantir a pluraridade de opiniões ficando à mercê da elite que dá a versão que quer aos fatos, limitando, deturpando e desprezando a voz da imensa maioria.