Edberto
Ticianeli
Campanha do MDB em 1978, no município de Capela |
A primeira ação
do golpe militar de 31 de março de 1964, para se consolidar, foi anular as forças
políticas que se articulavam em torno do governo deposto de João Goulart. Para
tal fim lançaram mão do Ato Institucional nº 1, que expurgou da vida política as
lideranças que poderiam mobilizar a sociedade contra a ditadura que se
iniciava. Inúmeros cidadão tiveram seus direitos políticos e mandatos eletivos cassados
sob acusações que variavam de atos de corrupção até a militância comunista.
Essa fúria
contra os “financiados por Moscou”, em muitos estados, era confusa. Os inimigos
políticos dos grupos locais alinhados com os militares eram colocados nas
listas dos perseguidos por simples disputas eleitorais provincianas. Assim, entre
1964 e 1977, os mandatos de 173 deputados federais foram cassados pela ditadura
militar. Em Alagoas, personalidades progressistas como Abrahão Fidelis de Moura
e Henrique Cordeiro Oest (que foi eleito por Alagoas) foram cassadas da mesma
forma que Oséas Cardoso e Aloysio Nonô (ARENA), que chegou a se filiar ao MDB.
Em outubro
de 1965, o Ato Institucional nº 2 destruiu o sistema partidário vigente,
instituindo o bipartidarismo e eleições indiretas para presidente, governadores
e prefeitos das capitais. Os dois partidos consentidos deveriam cumprir, sob
rígida vigilância, os papeis de situação e oposição. A Aliança Renovadora
Nacional (ARENA) daria apoio ao governo militar, enquanto o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB) seria encarregado de acomodar a oposição, como também serviria
para não deixar a Ditadura Militar muito caracterizada, com partido único.
Em 24 de
março de 1966 o MDB fez o seu registro oficial e tratou de se livrar,
imediatamente, da sigla que os militares queriam que fosse adotada: MODEBRA.
Uma prova de que na caserna poderia se entender de tudo, menos de propaganda. O
partido nasce tendo como base principal os egressos do velho Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), cria de Vargas. Logo recebeu as importantes lideranças,
oriundas do Partido Social Democrático (PSD), de Tancredo Neves e Ulysses
Guimarães.
Não durou
muito e grupos de esquerda também desembarcaram na legenda oposicionista. Era a
única trincheira legal que possibilitava a luta pela democracia. Em Alagoas, o
MDB recebe o grupo de Muniz Falcão, que tinha contas a ajustar com o Regime
Militar devido à perseguição realizada contra o seu principal líder, que havia
sido eleito governador em 1965, mas, por manobras “legais”, não conseguiu
assumir. Em 1966, o MDB consegue eleger sete dos 23 senadores do país, e 132
deputados federais das 409 vagas em disputa.
Neste ano, o
senador eleito por Alagoas foi Teotônio Vilela (ARENA). Djalma Marinho Muniz
Falcão, irmão de Muniz, consegue o mandato de deputado federal ao lado de Cleto
Marques Luz e Aloysio Nonô. Na Assembleia Legislativa, os deputados estaduais
do MDB são os seguintes: Higino Vital, Elísio Maia, Rubens Canuto, Alcides
Muniz Falcão, Diney Torres, Antônio Amaral, Antônio Lopes de Almeida, Moacir
Andrade, Roberto Mendes, Luiz Coutinho e Ademar Medeiros. Uma bancada de 11
deputados das 35 cadeiras. Alguns deles foram cassados em 1969.
Em 1970,
fruto das cassações autorizadas pelo Ato Institucional nº 5, o MDB não consegue
lançar nenhum candidato ao senado e elege apenas Vinicius Cansanção para a
Câmara dos Deputados. Na Assembleia Legislativa, o quadro de descenso se
repetiu e o partido conseguiu eleger somente quatro deputados: Antônio
Ferreira, Alcides Muniz Falcão, Walter Figueiredo e Higino Vital.
Mesmo com o recrudescimento
da repressão do general Garrastazu Médici, em 1974 o MDB vai à televisão e
surpreende o país ao receber uma votação expressiva, elegendo 67% dos senadores
e ocupando 40% das cadeiras da Câmara Federal. Em Alagoas, a candidatura do
vereador Pedro Muniz Falcão perdeu a eleição para o senado, mas conseguiu
98.213 votos contra 140.989 de Teotônio Vilela, com o detalhe de ter ganhado a
eleição em Maceió. Na Câmara dos Deputados, o MDB amplia para duas as vagas
conquistadas, com José Costa e Vinicius Cansanção. Na Assembleia Legislativa,
seis deputados representam o partido: Mendonça Neto (o mais votado entre todos
os deputados com 15.171 votos), Manoel Afonso de Melo, Alcides Muniz Falcão,
Luiza Evangelista, Walter Figueiredo e Francisco Pimentel.
Em 1976, o
MDB em Maceió ativa o setorial universitário do partido e começa a receber uma
leva de estudantes de esquerda, que no ano seguinte vai formar, na
clandestinidade, o núcleo principal da reorganização do PCdoB em Alagoas. Da
mesma forma, o PCB e outras lideranças egressas da esquerda passam a participar
do MDB, rejuvenescendo as suas fileiras. A oposição ao regime militar já está
suficientemente fortalecida para voltar às ruas. As manifestações acontecem em
todo o Brasil. Temendo o uso da televisão pela oposição, os militares decretam a
Lei Falcão, reduzindo a propaganda eleitoral apenas às fotografias dos
candidatos e seu currículo apresentado por um locutor.
Mesmo com
estas restrições, os militares continuam a perder apoio, e em 1977, o general
Geisel decreta o famoso Pacote de Abril, limitando as campanhas eleitorais e
aumentando o mandato presidencial para seis anos. Para o senado, institui que
nos anos em ocorresse a renovação de 2/3 do senado, um dos senadores seria
indicado pelo colégio eleitoral, criando a figura do Senador Biônico. Além disso,
inventou a sublegenda para as eleições de prefeito e senador.
Com a
candidatura de José Moura Rocha ao senado, em 1978, o MDB empolga os eleitores
em Alagoas e faz uma campanha histórica. Moura consegue expressivos 157.703
votos, mas perde para Luiz Cavalcante e Rubens Vilar, na sublegenda, que somam,
189.728 votos, beneficiados pelas artimanhas militares do Pacote de Abril. Na
disputa para a Câmara dos Deputados, o MDB mantém as suas duas vagas, com José
Costa e Mendonça Neto. Na Assembleia, o partido amplia sua bancada para sete
deputados: Agripino Alexandre, Manoel Afonso de Melo, Alcides Muniz Falcão,
Francisco Pimentel, Renan Calheiros, Afrânio Vergetti e Alcides Andrade.
Ato de fundação do PMDB em Alagoas. Início de 1980, no Teatro Deodoro, com Ulisses Guimarães, Paulo Brossar e Teotônio Vilela. Foto de Adailson Calheiros. |
Em 1979,
acaba o bipartidarismo e seus dois partidos. O MDB se extingue no dia 27 de
novembro de 1979, sendo substituído pelo Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), sob a liderança nacional de Ulysses Guimarães. Em Alagoas,
Teotonio Vilela é a maior expressão do novo/velho partido. Depois de cumprir papel
destacado na luta pela anistia, Teotônio articula um forte grupo político para
disputar o poder em 1982, quando descobre que está com câncer. Mas esta já é
outra história.
Um comentário:
Ademar Medeiros é meu avô. Nunca ouço falarem nele... foi presidente do MDB em Alagoas.
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