O 1º Encontro Mundial de Blogueiros, realizado em Foz do Iguaçu (Paraná, Brasil), nos dias 27, 28 e 29 de outubro, confirmou a força crescente das chamadas novas mídias, com seus sítios, blogs e redes sociais. Com a presença de 468 ativistas digitais, jornalistas, acadêmicos e estudantes, de 23 países e 17 estados brasileiros, o evento serviu como uma rica troca de experiências e evidenciou que as novas mídias podem ser um instrumento essencial para o fortalecimento e aperfeiçoamento da democracia.
Como principais consensos do encontro – que buscou pontos de unidade, mas preservando e valorizando a diversidade –, os participantes reafirmaram como prioridades:
- A luta pela liberdade de expressão, que não se confunde com a liberdade propalada pelos monopólios midiáticos, que castram a pluralidade informativa. O direito humano à comunicação é hoje uma questão estratégica;
- A luta contra qualquer tipo de censura ou perseguição política dos poderes públicos e das corporações do setor. Neste sentido, os participantes condenam o processo de judicialização da censura e se solidarizam com os atingidos. Na atualidade, o WikiLeaks é um caso exemplar da perseguição imposta pelo governo dos EUA e pelas corporações financeiras e empresariais;
- A luta por novos marcos regulatórios da comunicação, que incentivem os meios públicos e comunitários; impulsionem a diversidade e os veículos alternativos; coíbam os monopólios, a propriedade cruzada e o uso indevido de concessões públicas; e garantam o acesso da sociedade à comunicação democrática e plural. Com estes mesmos objetivos, os Estados nacionais devem ter o papel indutor com suas políticas públicas.
- A luta pelo acesso universal à banda larga de qualidade. A internet é estratégica para o desenvolvimento econômico, para enfrentar os problemas sociais e para a democratização da informação. O Estado deve garantir a universalização deste direito. A internet não pode ficar ao sabor dos monopólios privados.
- A luta contra qualquer tentativa de cerceamento e censura na internet. Pela neutralidade na rede e pelo incentivo aos telecentros e outras mecanismos de inclusão digital. Pelo desenvolvimento independente de tecnologias de informação e incentivo ao software livre. Contra qualquer restrição no acesso à internet, como os impostos hoje pelos EUA no seu processo de bloqueio à Cuba.
Com o objetivo de aprofundar estas reflexões, reforçar o intercâmbio de experiências e fortalecer as novas mídias sociais, os participantes também aprovaram a realização do II Encontro Mundial de Blogueiros, em novembro de 2012, na cidade de Foz do Iguaçu. Para isso, foi constituída uma comissão internacional para enraizar ainda mais este movimento, preservando sua diversidade, e para organizar o próximo encontro.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
sábado, 29 de outubro de 2011
Voto secretíssimo
Eleição de 1982. Em Murici, Renan comandava a boca de urna do PMDB. Final da tarde, chega o agrônomo Horácio Aguiar, o Horacinho, amigo do peito de Renan, atrasado para votar. Chega na secção e Renan estava na porta. Horacinho já recebe uma cédula preenchida que Renan lhe entrega apressadamente. Entra na cabina, deposita o voto, lá fora procura Renan.
- Renan, me diz uma coisa: eu sei que para deputado federal votei em você e para prefeito votei em seu pai. Mas para deputado estadual eu votei em quem?
Renan fica furioso:
- Deixa de curiosidade, Horacinho. Tu não sabe que o voto é secreto?!!!
Extraído do livro Missão Secreta em Igaci, de Cleto Falcão.
- Renan, me diz uma coisa: eu sei que para deputado federal votei em você e para prefeito votei em seu pai. Mas para deputado estadual eu votei em quem?
Renan fica furioso:
- Deixa de curiosidade, Horacinho. Tu não sabe que o voto é secreto?!!!
Extraído do livro Missão Secreta em Igaci, de Cleto Falcão.
Marcadores:
Horácio Aguiar,
Murici,
Renan Calheiros,
Voto secreto
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
O mundo neoliberal da sociedade da informação
Edberto Ticianeli
Desde os anos 70 que a expressão Sociedade da Informação já circulava no meio acadêmico. Coube ao sociólogo Daniel Bell, autor do livro O advento da sociedade pós-industrial, a primeira abordagem sobre um corpo social fundamentado no conhecimento teórico como o coração de uma nova economia que estaria apoiada numa sociedade de informação. Ele apontava que numa realidade como essa as ideologias seriam desnecessárias.
Nos anos 90, novamente o termo volta ao debate, agora em um contexto dominado pela internet e pelas tecnologias da informação e da comunicação. O G7, fóruns da Comunidade Européia e da OCDE, agências das Nações Unidas, Banco Mundial e o próprio governo dos EUA passaram a discutir essa nova sociedade. No final dos anos 90 a União Internacional de Telecomunicações, a ONU programaram Cúpulas Mundiais para 2003 e 2005 adotando Sociedade da Informação como tema.
Sociedade da Informação nasce – política e ideologicamente – como instrumento da globalização. O neoliberalismo se propunha a instituir um mercado sem fronteiras nacionais, regulado somente pelas leis do mercado. Seus mentores principais se abrigavam na Organização Mundial do Comércio (OMC), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, que atuavam forçando os países em desenvolvimento a abrirem suas portas para os investimentos estrangeiros. O fim desse filme todos conhecem: mais fome, desigualdade e miséria espalhados pelo mundo, convivendo com computadores, celulares, sistemas GPS, TV digital, fibra ótica e internet.
A globalização neoliberal anunciava a Sociedade da Informação como um novo ambiente econômico sem conflitos sociais, lutas de classe e revoluções. A única revolução possível seria a tecnológica. A riqueza deixaria de vir da exploração do homem e passaria a vir da geração de conhecimento e informação, o que exigiria maiores qualificações profissionais e acadêmicas. Os robôs trabalhariam para os homens e as facilidades propiciadas pela tecnologia criariam o paraíso na terra. Os benefícios tecnológicos escondiam ou justificavam uma realidade econômica mundial de aumento do desemprego e expansão da miséria, deixando ver somente as maravilhosas possibilidades que a telinha do iPhone oferecia. A consequência imediata, de uma sociedade em que o seu desenvolvimento está centrado na tecnologia da informação, é a entrega à indústria de telecomunicações da tarefa de ser o carro chefe da economia. O segundo vagão, certamente será ocupado pela indústria produtora de serviços e conteúdos digitais.
Se é verdade que os avanços tecnológicos trouxeram o voto eletrônico, a TV digital, a biblioteca digital, as redes sociais, o banco on-line e o e-mail, por outro lado também permitiram que fronteiras fossem invadidas em nome da construção de uma sociedade global da informação, nome pomposo para um enorme mercado mundial de consumo dos serviços e produtos, controlado pelos novos imperadores da terra. O problema dos valores neoliberais é que eles não sabem como justificar, no seu paraíso da informação, a presença dos milhões de miseráveis do mundo real que continuam sem escola e sem acesso sequer à energia elétrica, excluídos da sociedade de informação e até da raça humana.
Marcadores:
capitalismo,
neoliberalismo,
sociedade da informação,
tecnologia
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global. A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça. Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
New Scientist
Nota introdutória publicada por Ladislau Dowbor em sua página:
The Network of Global Corporate Control - S. Vitali, J. Glattfelder eS. Battistoni - Sept. 2011
Um estudo de grande importância, mostra pela primeira vez de forma tão abrangente como se estrutura o poder global das empresas transnacionais. Frente à crise mundial, este trabalho constitui uma grande ajuda, pois mostra a densidade das participações cruzadas entre as empresas, que permite que um núcleo muito pequeno (na ordem de centenas) exerça imenso controle. Por outro lado, os interesses estão tão entrelaçados que os desequilíbrios se propagam instantaneamente, representando risco sistêmico.
Fica assim claro como se propagou (efeito dominó) a crise financeira, já que a maioria destas mega-empresas está na área da intermediação financeira. A visão do poder político das ETN (Empresas Trans-Nacionais) adquire também uma base muito mais firme, ao se constatar que na cadeia de empresas que controlam empresas que por sua vez controlam outras empresas, o que todos "sentimos" ao ver os comportamentos da mega-empresas torna-se cientificamente evidente. O artigo tem 9 páginas, e 25 de anexos metodológicos. Está disponível online gratuitamente, no sistemaarxiv.org
Um excelente pequeno resumo das principais implicações pode ser encontrado no New Scientist de 22/10/2011 (e está publicado a seguir).
(*) O gráfico em forma de globo mostra as interconexões entre o grupo de 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia mundial. O tamanho de cada ponto representa o tamanho da receita de cada uma
A rede capitalista que domina o mundo
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."
Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
Barclays plc
Capital Group Companies Inc
FMR Corporation
AXA
State Street Corporation
JP Morgan Chase & Co
Legal & General Group plc
Vanguard Group Inc
UBS AG
Merrill Lynch & Co Inc
Wellington Management Co LLP
Deutsche Bank AG
Franklin Resources Inc
Credit Suisse Group
Walton Enterprises LLC
Bank of New York Mellon Corp
Natixis
Goldman Sachs Group Inc
T Rowe Price Group Inc
Legg Mason Inc
Morgan Stanley
Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
Northern Trust Corporation
Société Générale
Bank of America Corporation
Lloyds TSB Group plc
Invesco plc
Allianz SE 29. TIAA
Old Mutual Public Limited Company
Aviva plc
Schroders plc
Dodge & Cox
Lehman Brothers Holdings Inc*
Sun Life Financial Inc
Standard Life plc
CNCE
Nomura Holdings Inc
The Depository Trust Company
Massachusetts Mutual Life Insurance
ING Groep NV
Brandes Investment Partners LP
Unicredito Italiano SPA
Deposit Insurance Corporation of Japan
Vereniging Aegon
BNP Paribas
Affiliated Managers Group Inc
Resona Holdings Inc
Capital Group International Inc
China Petrochemical Group Company
The Network of Global Corporate Control - S. Vitali, J. Glattfelder eS. Battistoni - Sept. 2011
Um estudo de grande importância, mostra pela primeira vez de forma tão abrangente como se estrutura o poder global das empresas transnacionais. Frente à crise mundial, este trabalho constitui uma grande ajuda, pois mostra a densidade das participações cruzadas entre as empresas, que permite que um núcleo muito pequeno (na ordem de centenas) exerça imenso controle. Por outro lado, os interesses estão tão entrelaçados que os desequilíbrios se propagam instantaneamente, representando risco sistêmico.
Fica assim claro como se propagou (efeito dominó) a crise financeira, já que a maioria destas mega-empresas está na área da intermediação financeira. A visão do poder político das ETN (Empresas Trans-Nacionais) adquire também uma base muito mais firme, ao se constatar que na cadeia de empresas que controlam empresas que por sua vez controlam outras empresas, o que todos "sentimos" ao ver os comportamentos da mega-empresas torna-se cientificamente evidente. O artigo tem 9 páginas, e 25 de anexos metodológicos. Está disponível online gratuitamente, no sistemaarxiv.org
Um excelente pequeno resumo das principais implicações pode ser encontrado no New Scientist de 22/10/2011 (e está publicado a seguir).
(*) O gráfico em forma de globo mostra as interconexões entre o grupo de 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia mundial. O tamanho de cada ponto representa o tamanho da receita de cada uma
A rede capitalista que domina o mundo
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."
Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
Barclays plc
Capital Group Companies Inc
FMR Corporation
AXA
State Street Corporation
JP Morgan Chase & Co
Legal & General Group plc
Vanguard Group Inc
UBS AG
Merrill Lynch & Co Inc
Wellington Management Co LLP
Deutsche Bank AG
Franklin Resources Inc
Credit Suisse Group
Walton Enterprises LLC
Bank of New York Mellon Corp
Natixis
Goldman Sachs Group Inc
T Rowe Price Group Inc
Legg Mason Inc
Morgan Stanley
Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
Northern Trust Corporation
Société Générale
Bank of America Corporation
Lloyds TSB Group plc
Invesco plc
Allianz SE 29. TIAA
Old Mutual Public Limited Company
Aviva plc
Schroders plc
Dodge & Cox
Lehman Brothers Holdings Inc*
Sun Life Financial Inc
Standard Life plc
CNCE
Nomura Holdings Inc
The Depository Trust Company
Massachusetts Mutual Life Insurance
ING Groep NV
Brandes Investment Partners LP
Unicredito Italiano SPA
Deposit Insurance Corporation of Japan
Vereniging Aegon
BNP Paribas
Affiliated Managers Group Inc
Resona Holdings Inc
Capital Group International Inc
China Petrochemical Group Company
Marcadores:
capitaliismo,
Cristo Redentor,
empresas transnacionais,
matemáticos,
poder global
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Pão de Açúcar: Cristos e Niteróis
Edberto Ticianeli
Cristo Redentor no Morro do Cavalete, em Pão de Açúcar Foto: Tomatão |
O município de Pão de Açúcar, em Alagoas, tem um Cristo sobre um morro e do outro lado do rio São Francisco fica Niterói, um povoado do município sergipano de Porto da Folha. A conclusão imediata, para quem não conhece as origens do topônimo Pão de Açúcar, é que os alagoanos daquela região queriam prestar uma homenagem ao Rio de Janeiro, que tem o famoso morro do Pão de Açúcar. Mas, a origem não é essa.
Forma para o pão de açúcar |
Morro do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro |
Em Alagoas, a nossa Pão de Açúcar tem também origem no século XVII. O historiador Moreno Brandão, coincidentemente um pão-de-açucarense ilustre, localiza o início do povoamento em 1611. O primeiro nome do lugar, Jaciobá, foi dado pelos índios Uramaris, que significa em guarani “Espelho da Lua”. As terras doadas a eles por D. João VI ficavam entre o morros do Cavalete e do Aranha. Os Xocós, da Ilha de São Pedro, em Sergipe, não gostaram da nova vizinhança e invadiram o local, mas mantiveram o belo nome de Jaciobá.
Morro do Cavalete em Pão de Açúcar, Alagoas |
Como se percebe claramente, não há influência do Pão de Açúcar do Rio de Janeiro sobre o nosso, em Alagoas. Os dois topônimos surgiram na mesma época e com as mesmas origens. Outro esclarecimento: em Pão de Açúcar, o Cristo fica sobre o morro do Cavalete e no Rio de Janeiro sobre o morro do Corcovado; aqui é nome de município, lá é nome de um morro, aquele dos bondinhos.
Morro do Cavalete em 1939 Foto: Edgar de Cerqueira Falcão |
Como pão-de-açucarense, reconheço que o nome da minha cidade guarda informações importantes sobre aspectos econômicos da história que nos deu a identidade que temos hoje, e por isso, me orgulho de dizer que sou filho de Pão de Açúcar. Mas não me sentiria menos orgulhoso se minha terra ainda se chamasse Jaciobá, o “Espelho da Lua”, o que destacaria outros aspectos não menos importantes da nossa identidade.
Marcadores:
Alagoas,
Cristo Redentor,
Etevaldo Amorim,
Niterói,
Pão de Açúcar,
topônimo
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Como funciona a lavagem de dinheiro
Lavagem de dinheiro o procedimento usado para disfarçar a origem de recursos ilegais. Quando alguém ganha dinheiro de forma ilícita – por exemplo, com crimes como tráfico de drogas, contrabando, sequestro e corrupção – não pode simplesmente sair torrando a grana. Tem de armar estratégias para justificar a fonte e, assim, evitar suspeitas da polícia ou da Receita Federal.
A expressão “lavar dinheiro” surgiu nos Estados Unidos para designar um tipo de falsificação de dólares que incluía colocar as notas na máquina de lavar para que adquirissem aparência de gastas. De lá para cá, a “lavanderia” sofisticou seus métodos. A integração do sistema financeiro mundial permite que os recursos viajem entre contas bancárias de diferentes países em questão de segundos e, assim, o dinheiro sujo acaba incorporado à economia formal.
De acordo com o FMI, de 2,5% a 5% do PIB (produto interno bruto) de cada país no mundo têm origem ilícita. No Brasil, isso equivale a um montante de 37,5 bilhões a 75 bilhões de reais.
Empresas de fachada
Criminosos abrem uma empresa em nome de um laranja, num ramo que lida com bastante dinheiro em espécie, como bingo ou restaurante. O dinheiro sujo entra na conta corrente da empresa como tendo sido obtido com os serviços e, por isso, fica limpo
Vantagem: A movimentação na conta bancária de uma empresa não costuma levantar suspeitas
Pista: Movimentar somas incompatíveis com a natureza do negócio pode chamar a atenção
Empréstimos faz-de-conta
Um integrante da quadrilha pede empréstimo no banco e usa, como garantia, imóveis, investimentos ou ações obtidos com dinheiro sujo. O banco concede o empréstimo e limpa, sem querer, os recursos ilegais
Vantagem: O dinheiro originário de um banco pode ser reinvestido sem levantar suspeitas
Pista: Sucessivos empréstimos, e facilidade para saldá-los, podem levantar suspeitas
Compra de jóias, pedras preciosas ou obras de arte
Método bastante usado, já que vendedores de objetos valiosos não costumam questionar sobre a origem do dinheiro. Para limpar a grana, basta revender os quadros ou jóias
Vantagem: Em caso de fuga, esses objetos são transportados facilmente
Pista: Várias compras e revendas de objetos caros, feitas por pessoas que não podem comprovar a fonte do dinheiro
Paraísos fiscais
Criminosos compram empresas em paraísos fiscais – como são conhecidos os países que guardam sob sigilo todas as informações financeiras de quem tem conta em banco. Assim, é difícil ligar o dinheiro da empresa ao criminoso que detém as ações. Depois, basta reinvesti-lo através de bancos no Brasil
Vantagem: É muito difícil encontrar o verdadeiro dono do dinheiro
Pista: Nenhuma
Conto do bilhete premiado
Alguém com acesso ao nome dos premiados da loteria informa o criminoso, que procura o sortudo e oferece uma quantia ainda maior para comprar o bilhete
Vantagem: É um método simples, mas não pode ser usado abusivamente. Afinal, ninguém (além do ex-deputado João Alves) ganha 200 vezes na loteria
Pista: O nome de sortudos repetidos costuma ser enviado ao Ministério da Fazenda
Fontes consultadas: Paulo Falcão, delegado-chefe da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal, e Antônio Gustavo Rodrigues, presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Ministério da Fazenda
Paraísos fiscais
Países onde a tributação de renda é inferior a 20% do patrimônio. As frouxas regras bancárias atraem muitos criminosos.
Empresas offshore
São empresas de investimento - proibidas de produzir qualquer coisa no território do país onde estão - localizadas quase sempre em paraísos fiscais.
Laranja ou testa-de-ferro
Alguém que empresta/aluga seu nome para que outra pessoa movimente contas bancárias, abra empresas ou compre imóveis.
Fonte: CESCAPI
A expressão “lavar dinheiro” surgiu nos Estados Unidos para designar um tipo de falsificação de dólares que incluía colocar as notas na máquina de lavar para que adquirissem aparência de gastas. De lá para cá, a “lavanderia” sofisticou seus métodos. A integração do sistema financeiro mundial permite que os recursos viajem entre contas bancárias de diferentes países em questão de segundos e, assim, o dinheiro sujo acaba incorporado à economia formal.
De acordo com o FMI, de 2,5% a 5% do PIB (produto interno bruto) de cada país no mundo têm origem ilícita. No Brasil, isso equivale a um montante de 37,5 bilhões a 75 bilhões de reais.
Empresas de fachada
Criminosos abrem uma empresa em nome de um laranja, num ramo que lida com bastante dinheiro em espécie, como bingo ou restaurante. O dinheiro sujo entra na conta corrente da empresa como tendo sido obtido com os serviços e, por isso, fica limpo
Vantagem: A movimentação na conta bancária de uma empresa não costuma levantar suspeitas
Pista: Movimentar somas incompatíveis com a natureza do negócio pode chamar a atenção
Empréstimos faz-de-conta
Um integrante da quadrilha pede empréstimo no banco e usa, como garantia, imóveis, investimentos ou ações obtidos com dinheiro sujo. O banco concede o empréstimo e limpa, sem querer, os recursos ilegais
Vantagem: O dinheiro originário de um banco pode ser reinvestido sem levantar suspeitas
Pista: Sucessivos empréstimos, e facilidade para saldá-los, podem levantar suspeitas
Compra de jóias, pedras preciosas ou obras de arte
Método bastante usado, já que vendedores de objetos valiosos não costumam questionar sobre a origem do dinheiro. Para limpar a grana, basta revender os quadros ou jóias
Vantagem: Em caso de fuga, esses objetos são transportados facilmente
Pista: Várias compras e revendas de objetos caros, feitas por pessoas que não podem comprovar a fonte do dinheiro
Paraísos fiscais
Criminosos compram empresas em paraísos fiscais – como são conhecidos os países que guardam sob sigilo todas as informações financeiras de quem tem conta em banco. Assim, é difícil ligar o dinheiro da empresa ao criminoso que detém as ações. Depois, basta reinvesti-lo através de bancos no Brasil
Vantagem: É muito difícil encontrar o verdadeiro dono do dinheiro
Pista: Nenhuma
Conto do bilhete premiado
Alguém com acesso ao nome dos premiados da loteria informa o criminoso, que procura o sortudo e oferece uma quantia ainda maior para comprar o bilhete
Vantagem: É um método simples, mas não pode ser usado abusivamente. Afinal, ninguém (além do ex-deputado João Alves) ganha 200 vezes na loteria
Pista: O nome de sortudos repetidos costuma ser enviado ao Ministério da Fazenda
Fontes consultadas: Paulo Falcão, delegado-chefe da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal, e Antônio Gustavo Rodrigues, presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Ministério da Fazenda
Paraísos fiscais
Países onde a tributação de renda é inferior a 20% do patrimônio. As frouxas regras bancárias atraem muitos criminosos.
Empresas offshore
São empresas de investimento - proibidas de produzir qualquer coisa no território do país onde estão - localizadas quase sempre em paraísos fiscais.
Laranja ou testa-de-ferro
Alguém que empresta/aluga seu nome para que outra pessoa movimente contas bancárias, abra empresas ou compre imóveis.
Fonte: CESCAPI
Marcadores:
Alagoas,
Lavar dinheiro,
top,
tribunal de contas
Lula não vê solução para a crise fora da política
MADRI, Espanha (AFP) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou nesta quarta-feira, em Madri, que a solução da crise econômica passa obrigatoriamente pela política e recordou que o G20, em seus encontros de 2008 e 2009, já havia proposto medidas contra a crise que não foram executadas.
Participando na conferência "Global Progress", que reuniu líderes socialistas de vários países europeus, Lula mostrou-se convicto de que, sem discussão política sobre a crise, não haverá solução para ela.
“Temos uma geração de políticos que surgiu acreditando que o mercado pode resolver todos os problemas”, afirmou, entre aplausos, o ex-presidente brasileiro, recordando que recentemente o mercado fracassou com a falência do Lehman Brothers.“Os políticos precisam atuar e acho que as decisões que tomamos não foram cumpridas”, afirmou.
Lula declarou ainda que o Fundo Monetário Internacional (FMI) “não foi criado par resolver os problemas dos países ricos” e sim de nações como o Brasil.
“Eu tinha vergonha de que um país do tamanho do Brasil não soubesse o que fazer e precisasse do FMI”. “Mas agora o FMI desapareceu e não sabe resolver o problema da crise americana, não sabe resolver o problema da crise europeia”, destacou Lula, que aposta na criação de uma instituição multilateral que atue de forma efetiva.
E nas cúpulas do G20 de Washington (2008) e Londres (2009), recordou Lula, os países mais ricos e os emergentes concluíram: “Não podemos descansar até que a economia global esteja totalmente recuperada”.
“Tenho a impressão de que, evitada a catástrofe, a comunidade internacional se acomodou”, assinalou ainda, alertando sobre a atual situação: “Quanto custava resolver o problema da Grécia há alguns anos e quanto custa agora?”
Apelando para a responsabilidade global, de todos os países, incentivou uma política de tomar as rédeas para resolver a crise.
“Vamos apontar os caminhos para que os países voltem à normalidade”, destacou. “Crescimento econômico, mais comércio e menos protecionismo”, concluiu.
Marcadores:
crise,
FMI,
Global Progress,
Lula
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Impopularidade
O meu amigo Geraldo de Majella distribuiu convite para o lançamento, nesta quarta-feira (19), às 19 horas, do livro Mozart Damasceno, o bom burguês, lá na Pizzaria Armazém Guimarães.
Como o livro é um extenso relato da vida do empresário Mozart Damasceno, militante do Partido Comunista Brasileiro, em Murici, e um dos principais financiadores do PCB, lembrei dessa história publicada no livro Missão Secreta em Igaci, do Cleto Falcão.
IMPOPULARIDADE
Governador Silvestre Péricles |
Silvestre era um anticomunista feroz. No seu governo, os comunistas foram muito perseguidos, a ponto de muitos deles terem que se retirar para a Bahia, onde o clima era mais cordial.
Certo dia, Silvestre resolveu ir de automóvel até Salvador. Os jornais baianos noticiaram o fato. Os comunistas, conhecendo o trajeto do Governador, organizaram uma manifestação de repúdio para recebê-lo.
Quando vem passando a comitiva, à frente o carro do Governador Silvestre, com o advogado Paulo de Castro Silveira e o Deputado Tenório Cavalcanti, a multidão irrompeu em vaias, gritos e insultos. Silvestre aproxima-se de Paulo de Castro Silveira e diz:
domingo, 16 de outubro de 2011
Ocupar Wall Street...e depois?
Giovanni Alves - Carta Maior
O M12M, Movimento 12 de Março ou “Geração à Rasca”, em Portugal; o M15M, Movimento 15 de Março ou movimento dos indignados, na Espanha e o “Occupy Wall Street”, nos Estados Unidos, surgem no bojo da aguda crise financeira que atinge o núcleo orgânico do capitalismo global desde 2008. O movimento “Occupy Wall Street” nos EUA se inspirou nos movimentos sociais europeus como o M15M da Espanha. Por conseguinte, o movimento dos indignados espanhóis se inspirou nas rebeliões de massa que impulsionaram a “Primavera Árabe” e que derrubaram governos na Tunísia e Egito.
A profunda crise do subprime de 2008 foi muito sentida pelos países norte-africanos, piorando os níveis de pobreza, e tendo como detonador a elevação do preço dos alimentos e outros produtos básicos. A multidão árabe, composta em sua maioria por jovens trabalhadores precários e desempregados, se mobilizaram por meio das redes sociais.
Em todos os novos movimentos sociais, o papel das redes sociais, como o facebook e twitter, na organização das manifestações sociais de massa foi importante. Na verdade, “Occupy Wall Street”, o movimentos dos indignados e o movimento “geração à rasca” são exemplos candentes da verdadeira globalização “dos debaixo” que se contrapõe hoje a globalização dos “de cima”.
Podemos salientar algumas das características desses novos movimentos sociais:
Primeiro, são movimentos de densa e complexa diversidade social, exprimindo a universalização da condição de proletariedade (os 99%). No caso europeu, muitos dos manifestantes são jovens empregados e operários precários, trabalhadores desempregados, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro, constituindo o denominado “precariato”; incluem também, no caso do “Occupy Wall Street”, veteranos de guerra, sindicalistas, pobres e profissionais liberais, anarquistas, hippíes, juventude desencantada, trabalhadores organizados, sindicalistas, etc.
Entre milhares de pessoas, encontraram-se, lado a lado, por exemplo, jovens anticapitalistas e enfermeiras em defesa do sistema de saúde. Há cartazes de protesto contra o racismo, o presidente Obama, os republicanos, os democratas, a fome, as guerras no Iraque e Afeganistão.
Em contrapartida, defende-se os direitos dos trabalhadores, os dos prisioneiros em greve de fome, mais impostos para os milionários e a reestruturação do sistema financeiro. No movimento dos indignados espanhóis, defendem, por exemplo, a “democracia real”. Enfim, trata-se do denso e vasto continente do novo (e precário) mundo do trabalho e da proletariedade extrema que emerge no bojo dos “trinta anos perversos” de capitalismo neoliberal.
Segundo, são movimentos sociais pacíficos, recusando-se a adotar táticas violentas e contra a lei, evitando, deste modo, a criminalização. Eles têm profunda consciência moral e senso de justiça social, o que explica o sentido da expressão “indignados” (a crítica do capitalismo hoje implica, no plano da consciência contingente, um vetor intelectual-moral radical capaz de mobilizar o conjunto da “multidão” de proletários que se vêem ultrajados em sua dignidade humana).
Terceiro, utilizam-se das redes sociais, como facebook e twitter, ampliando sua área de intervenção territorial e mobilização social. Produzem sinergias sociais em rede, tecendo estratégias de luta territorial num cenário de crise social ampliada. Há tempos o MST - Movimento dos Sem-Terra, no Brasil, e o Zapatismo, no México, utilizam estratégias de ocupação como tática de luta e visibilidade social. Eles nos ensinam que, hoje, a luta contra o capital global que desterritorializa é a luta pela territorialização ampliada, difusa e descentrada (todos esses novos movimentos sociais não têm um líder).
Quarto, são movimentos sociais capazes de inovação e criatividade política na disseminação de seus propósitos de contestação social. Por exemplo, os manifestantes do “Occupy Wall Street” vestiram-se de zumbis corporativos para expor o caráter da ordem burguesa em sua etapa de crise estrutural, ou ainda, em virtude da proibição de utilizarem megafones, a multidão mais próxima dos oradores repete suas frases, para que os mais distantes pudessem ouvir e, por sua vez, repeti-las também. É o "microfone humano";
Quinto, expõem, com notável capacidade de comunicação e visibilidade, as misérias da ordem burguesa no pólo mais desenvolvido do sistema apodrecido pela financeirização da riqueza capitalista. A luta social anti-capitalista hoje é a luta para dar visibilidade às suas contradições candentes. Sob o capitalismo manipulatório, a regra é a ocultação das misérias da ordem burguesa. Os indignados europeus e norte-americanos expõem e criticam a concentração de riqueza (eles dizem representar os 99% contra os 1%), a precariedade do trabalho e da vida e principalmente, desmitificam a democracia ocidental.
Sexto, os novos movimentos indignados, incluindo, é claro, o “Occupy Wall Street”, são movimentos que reivindicam a democratização radical contra a farsa democrática dos países capitalistas centrais. Esses movimentos sociais possuem um sentido de “agrietar” o capitalismo, isto é, fazer rachaduras no capitalismo global (expressão utilizados por John Holloway em seu último livro). Rachaduras que podem dar visibilidade ao Inferno do Real. De certo modo, sem o saber, os indignados buscam “negar” o capitalismo no interior do próprio capitalismo. Na medida em que ocorre a democratização radical da sociedade, desefetiva-se o Estado político do capital. Entretanto, os novos movimentos sociais da proletariedade extrema são, como a Esfinge do mito grego, uma incógnita social. Enfim, dizem eles: “decifra-me ou devoro-te”.
O detalhe crucial que podemos salientar das características indicadas acima é que são movimentos democráticos de massa que ocorrem em países capitalistas sob o Estado de direito democrático - o que não era o caso, por exemplo, da Tunísia e Egito. A ampliação do desemprego e precariedade social no decorrer da década de 2000 nos EUA e União Européia, e principalmente a partir da crise financeira de 2008, impulsionaram a radicalidade das massas de jovens (e velhos) precários e indignados com governos sociais-democratas e conservadores incapazes de deterem o “moinho satânico” do capitalismo global. Portanto, os novos movimentos sociais são reverberações radicais do capitalismo financeiro senil.
A crise financeira de 2008 expôs a mediocridade do governo democrata de Barak Obama que não conseguiu deter a influência de Wall Street na política norte-americana, frustrando muitos norte-americanos que acreditaram que ele deteria a hegemonia financeira. A crise da divida soberana de 2010 e a crise financeira da Zona do Euro expuseram a venalidade dos partidos social-democratas e socialistas nos elos mais fracos da União Européia. Os partidos hegemônicos da esquerda européia aceitaram a política neoliberal de austeridade da “troika” (FMI, Comissão Européia e Banco Central Europeu) aplicadas com zelo e fervor pela direita conservadora (o caso da Grécia e Portugal é paradigmático!).
Na verdade, a crise do “núcleo orgânico” do sistema mundial do capital diz respeito não apenas a crise financeira com o estouro da bolha imobiliária em 2008 e a crise da dívida soberana européia em 2010 em virtude da incontinência fiscal de alguns países europeus; ou mesmo, a crise social devido a ampliação do desemprego e da precariedade laboral no bojo da corrosão do Estado social europeu que, diga-se de passagem, precede a crise financeira; a crise do nosso tempo histórico é também, e principalmente, a crise política dos partidos da ordem burguesa, partidos conservadores-liberais e partidos social-democratas ou socialistas, que nas últimas décadas, constituíram uma rede de interesses promíscuos com a grande finança especulativo-parasitária, iludindo, o tempo todo, seus eleitores incautos.
Ao mesmo tempo, vislumbramos a crise do pensamento critico corroído pelo pós-modernismo e neopositivismo. No caso do continente europeus, berço do Iluminismo ocidental, a crise intelectual-moral da inteligência crítica é dramática. Na medida em que renunciou, em sua maioria, à critica radical do capitalismo a título da crença na possibilidade do “capitalismo ético” capaz de articular bem-estar social com interesses de acumulação de valor, a inteligência européia hoje, com honrosas exceções, encontra-se como os personagens divagantes do romance “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago. Como diz Slavoj Zizek, falta-lhes a tinta vermelha!. Ao mesmo tempo, no cenário político da crise européia, o ilusionismo da esquerda social-democrata ou socialista só é comparável ao cinismo dos conservadores de direita na preservação incólume da ordem burguesa.
Os novos movimentos sociais que ocorrem no bojo do capitalismo senil têm o sentido radical dos carecimentos vinculados à condição de proletariedade e a vida reduzida de amplos contingentes de jovens órfãos de futuridade. Os jovens indignados nos obrigam a refletir sobre as formas e metamorfoses da consciência social. Eles representam um cadinho complexo e rico de formas de consciência social critica que emergem no estado de barbárie social.
Num primeiro momento, a presença da massa de jovens e velhos rebeldes nas ruas e praças nos fascinam. O fervor em reconquistar de forma coletiva e pacífica, territórios urbanos, praças e largos, verdadeiros espaços públicos marginalizados pela lógica neoliberal privatista que privilegiou não espaços de manifestação social, mas espaços de consumo e fruição intimista. O que assistimos hoje nos EUA e Europa é quase uma catarse coletiva. Trata-se de individualidades pulsantes de indignação e rebeldia criativa, cada um com suas preocupações e dramas humanos singulares de homens e mulheres proletários; cada um com seus sonhos e pequenas utopias pessoais capazes de dar um sentido à vida por meio da resignificação do cotidiano como espaço de reivindicação coletiva de direitos usurpados.
Num primeiro momento, os novos movimentos sociais não incorporam utopias grandiosas de emancipação social que exigem clareza politico-ideológica. Pelo contrário, eles expressam, em sua diversidade e amplitude de expectativas políticas, uma variedade de consciência social critica capaz de dizer “não" e mover-se contra o statu quo. Possuem em sua contingência irremediável de movimento social, um profundo lastro moral do impulso critico. Como indignados, eles fazem, mas não o sabem (como diria Marx). No plano contingente, fazem uma critica radical do capitalismo como modo de produção da vida social. Mas não podemos considerá-los, a rigor, movimentos sociais anti-capitalistas. Na verdade, o que predomina entre os manifestantes é um modo de consciência contingente capaz de expor, com indignação moral, as misérias do sistema sociometabólico do capital, mas sem identificar suas causalidades histórico-estruturais (o que não significa que não haja os mais diversos espectros de ativistas anti-capitalistas).
Os movimentos sociais agem no plano da cotidianidade insubmissa, rompendo com a pseudo-concreticidade paralisante da rotina sistêmica, mas permanecendo no esteio da vida cotidiana. Talvez, falta-lhes clareza do próximo passo ou do elo mais próximo da corrente de indignação coletiva que clama, por exemplo, pela democracia real. Por isso, nos interrogamos: Ocupar Wall Street...e depois?
Entretanto, acreditamos que a função heurística magistral dos novos movimentos sociais é tão-somente expor as misérias da ordem burguesa senil. Mobilizam múltiplas expectativas, aspirações de consumo e sonhos da boa vida, projetando no movimento coletivo fantasias pretéritas, presentes e futuras de emancipação social ainda não bem discernidas. Talvez eles representem o espectro indefinido e nebuloso do comunismo que, como espectro do pai de Hamlet, nos anuncia que há algo de podre no Reino da Ordem burguesa.
Ora, enquanto cientistas sociais (e não apenas como ativistas sociais), temos que analisar os novos movimentos sociais com objetividade e na perspectiva da lógica dialética capaz de apreender a riqueza do movimento contraditório do real. Aviso aos navegantes pós-modernos: hoje, mais do que nunca, o método dialético tornou-se indispensável no exercício da crítica social. Torna-se imprescindível apreender no movimento do real, a dialética candente entre subjetividade e objetividade, alcances e limites, contingência e necessidade, barbárie e civilização. Não podemos ser tão-somente seduzidos pelo fascínio da contingência indignada nas praças e ruas. Os novos movimentos sociais de indignados compõem o quadro da barbárie social que impregna a ordem burguesa mundial, abrindo um campo de sinistras contradições sociais que dilaceram por dentro a ordem do capital – dilaceram, mas são incapazes, em si e por si, de ir além.
Nessas circunstancias criticas, surgem interrogações candentes que nos afligem irremediavelmente:
(1) terão os movimentos sociais de indignados capacidade de elaborar em si e para si uma plataforma política mínima capaz de exercitar a hegemonia social e cultural, preparando-se para uma longa “guerra de posição”, acumulando forças sociais e políticas sob o cenário da barbárie social e do capitalismo manipulatório?;
(2) terão eles possibilidade de criar condições efetivas (politico-ideológicas) para o surgimento de novas organizações de classe, capazes de traduzir, no plano da institucionalidade democrática, as medidas necessárias para realizarem os anseios dos indignados, sob pena da frustração irremediável? (é importante lembrar, como nos alerta Boaventura de Sousa Santos, que o colapso de expectativas é o esteio do fascismo social).
Enfim, até que ponto movimentos sociais como o “Occupy Wall Street” e os movimentos de indignados europeus terão a densidade histórica necessária para derrubar ou pautar governos, refundar ou enterrar partidos, fortalecer ou descartar lideranças?
(3) Finalmente, até que ponto seriam eles efetivamente capazes de fazer história numa perspectiva para além do capitalismo que, em si e para si, é incapaz de incorporar as demandas sociais do precariato, tendo em vista a nova fase do capitalismo histórico imerso em contradições sociais candentes?
Estamos diante de impasses históricos inéditos. Por um lado, o aprofundamento da crise social na década de 2010 na Europa e nos EUA, a perspectiva de guerra – desta vez contra o Irã - e de recessão global; e por outro lado, a falta de estratégia de poder e anti-poder dos movimentos sociais, o extremismo conservador e a hesitação (e mediocridade política) de partidos políticos da esquerda social-democrata e socialista, coloca-nos diante de um caldo ameaçador do fascismo político sob o pano de fundo da barbárie social.
Não podemos subestimar, num cenário de barbárie social, a capacidade de resposta reacionária do establishment. É ingenuidade política acreditar que o Estado burguês não utilizará mecanismos de administração policial, no tempo certo, que vise isolar os novos movimentos sociais, na medida em que eles se ampliam; invisibilizá-los de modo midiático, caso se torne necessário (há uma intensa batalha midiática ocorrendo em todo o mundo!) ou então, dissuadi-los e absorve-los com concessões residuais capazes de preservar a ordem burguesa; no limite, pode-se simplesmente reprimi-los a título de preservar a ordem pública com o apoio da “classe média” perplexa e amedrontada pela ameaça do terrorismo auto-induzido do estado de exceção.
A crise do capitalismo global colocará para a humanidade, sob pena de irmos à ruína, a necessidade do controle social, capaz de dar resposta aos carecimentos radicais postos pelos movimentos sociais que ocupam espaços públicos do mundo do capital e lutam contra o estado de barbárie social do capitalismo global em sua fase senil. Como diria o velho barbudo:Hic Rhodus, hic salta!
(*) Giovanni Alves é professor da UNESP, pesquisador do ,CNPq, atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra/Portugal e autor do livro “ Trabalho e Subjetividade – O “espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Editora Boitempo, 2011). Site: www.giovannialves.org /e-mail: giovanni.alves@uol.com.br.
Marcadores:
capitalismo,
crise,
movimentos sociais,
Redes sociais,
Wall Street
sábado, 15 de outubro de 2011
TV do Paraná censura Dilma Rousseff
Presidenta Dilma no Paraná |
Os tucanos estão desequilibrados. No domingo passado, o governador Marconi Perillo, de Goiás, deu uma de valentão e se meteu numa briga de rua (veja vídeo). No meio da semana, José Serra bateu boca com Aécio Neves, criticando o mineiro por antecipar o debate sucessório. “Querer colocar o carro adiante dos bois só atrapalha e desorganiza a oposição”, disparou em seu twitter.
Ontem (13), foi a vez do governo tucano do Paraná cometer uma atrocidade. A presidenta Dilma Rousseff foi a Curitiba anunciar a liberação de mais R$ 1,75 bilhão em recursos do governo federal para a construção do metrô na capital paranaense. A TV Educativa, que foi desmontada e aparelhada pelo tucano Beto Richa e hoje se chama E-Paraná, transmitiu a solenidade ao vivo.
Desenho animado no discurso de Dilma
Os discursos do governador e do prefeito de Curitiba, o seu aliado incondicional Luciano Ducci (PSB), foram exibidos na íntegra. Já nos pronunciamentos da presidenta da República e do ministro das Cidades, Mário Negromonte, a E-Paraná cortou a transmissão ao vivo e colocou no ar o desenho animado “Cocoricó”. A denúncia da grave censura foi feita pela “insuspeita” rádio CBN.
O episódio canhestro, que mostra o caráter autoritário e nada republicano do governo Beto Richa, gerou constrangimento e pode até resultar numa ação do Ministério das Comunicações – já que as TVs são concessões públicas federais. Para o blogueiroEsmael Morais, que já foi censurado várias vezes, o caso confirma a falsidade do discurso tucano em defesa da liberdade de expressão.
“Abalo emocional” ou cultura autoritária
“Não é a primeira vez que o governo tucano utiliza-se da censura. Recentemente, este blog mostrou que a censura do PSDB não perdoou nem mesmo ex-governadores, que foram excluídos das pesquisas nos bancos de dados da Agência Estadual de Notícias. Na campanha de 2010, Beto Richa censurou pesquisas, jornais, revistas, sites, twitter e este blog — alegando “abalo emocional”, afirma Esmael Morais.
O PT de Curitiba divulgou nesta sexta-feira dura nota de repúdio à censura na E-Paraná. A presidenta do diretório, Roseli Isidoro, também anunciou em entrevista à rádio CBN que pedirá ao Ministério das Comunicações uma investigação rigorosa sobre o grave caso de atentado à liberdade de expressão. Abaixo, a íntegra da nota do PT:
*****
O PT de Curitiba repudia veementemente a forma discriminatória como a TV Educativa do Paraná transmitiu ontem a solenidade em que a Presidenta da República, Dilma Rousseff, anunciou a destinação de R$ 1 bilhão do governo federal a fundo perdido e mais R$ 750 milhões em empréstimos à prefeitura de Curitiba para a construção do metrô. De acordo com as notas “Aqui quem canta de galo… 1 e 2”, publicadas pelo colunista Reinaldo Bessa, na edição de hoje da Gazeta do Povo, a TV pública do Estado do Paraná tirou do ar de forma deliberada os pronunciamentos do ministro das Cidades, Mario Negromonte, e da presidenta Dilma.
Temos muito orgulho dos governos petistas de Lula e Dilma, pautados pela ação republicana, pelo compromisso com a qualidade de vida da população e pelo foco em projetos prioritários para alavancar o desenvolvimento econômico com inclusão social, levando recursos e benefícios a todos os cantos do país, independentemente do partido do governador ou do prefeito de plantão. Por isso, nos indigna o comportamento imaturo e antidemocrático que motivou a censura na transmissão da TV Educativa do Paraná. Entendemos que esse tipo de atitude não seja gratuito e nem tão pouco aconteça sem uma “ordem vinda de cima”.
O dia de ontem, em que o governo federal assumiu, pelo PAC da Mobilidade, bancar, enfim, a realização da obra do metrô em Curitiba foi um marco histórico e, portanto, inesquecível. Mas a Prefeitura de Curitiba e o Governo do Estado do Paraná fizeram de tudo ao seu alcance para apagar o brilho de uma festa que deveria celebrar a conquista popular.
O PT de Curitiba defendia que o evento acontecesse em espaço adequado e que favorecesse a participação da população curitibana, real beneficiária desse grandioso empreendimento. Além do espaço físico ser inadequado ao porte da solenidade, vimos uma imprensa espremida e sem condições de realizar plenamente o seu trabalho de cobertura jornalística e, até minutos antes da presidenta entrar no salão, o cerimonial enxugava as cadeiras molhadas por goteiras existentes no teto do Salão de Atos do Parque Barigui. Essa receptividade inadequada evidenciou uma profunda falta de respeito e má vontade por parte das autoridades locais, que cerceou também a participação do cidadão. Tudo muito lamentável!
O PT de Curitiba quer saber de onde partiu a ordem para a censura que se viu na transmissão da TV Educativa do Paraná e exige explicações da direção da emissora. Também repudiamos o uso político e “pequeno” da concessão pública, voltada ao interesse próprio do governador do Paraná e em benefício de poucos. Isso é antidemocrático e vergonhoso para o nosso estado!
Curitiba-PR, 14 de outubro de 2011.
Roseli Isidoro - Presidenta do Diretório Municipal do PT de Curitiba.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Etiqueta de validade
Blog do Alon - 13/10
É visível um certo cansaço com certa política, mas qual será a tradução da fadiga na vida real? Como será nas eleições? É razoável supor que ou essa energia será canalizada partidariamente ou vai dissipar-se
É humano certo deslumbramento com os movimentos ditos espontâneos. Eles adicionam glamour à política, pelo contraste com a crueza da realidade dela olhada sem filtros, em estado bruto. Das manifestações contra a corrupção Brasil afora até a “ocupação” de Wall Street.
O problema é que se movimentos de massa são bons para criar estados de espírito, e mesmo para bloquear parcialmente a capacidade de intervenção do Estado, como agora no Chile, não estão porém aptos a governar. A utopia do democratismo direto costuma virar do avesso quando tenta passar da fantasia à realidade.
Governar é trabalho para minorias, profissionais organizados em facções, partidos políticos. Que irão realizar a cada momento os projetos supostamente apoiados pela maioria, mas não será o governo da maioria. Será o governo segundo o suposto desejo da maioria, mas operado por uma máquina política dedicada.
Espertas são as máquinas políticas que se abrem aos movimentos sociais para alimentar-se da energia deles, mas é uma operação necessariamente datada, com vencimento.
Pois uma vez no poder a tendência se inverte e o Estado passa a usar os instrumentos tradicionais — da repressão à cooptação — para reduzir o caos, diminuir a desorganização da sinfonia.
Pode não ser muito animador, mas assim é a vida. Desde quase os primórdios. Por razões práticas. Quem ocupa as horas do dia na luta pela sobrevivência não tem como se dedicar às atividades de governo. Daí nasce a necessidade de mecanismos especializados e dedicados.
Podem ser sacerdotes ou nobres. Ou militares. Nas sociedades modernas nasceram os parlamentos, as eleições periódicas. A essência é sempre a mesma. Organizar a rotina para que a sociedade sobreviva, produzindo e reproduzindo-se em ciclos periódicos.
Daí que movimentos precisem, em algum momento, buscar sua tradução na política organizada. Nos anos 70 do século passado o sindicalismo ascendente buscava expressão partidária e o então MDB (antecessor do PMDB) ofereceu guarida. Mas Luiz Inácio Lula da Silva preferiu, após algumas experiências, trilhar o próprio caminho.
Os resultados são conhecidos.
Ontem um punhado de cidades foi novamente palco de protestos contra a corrupção, um processo que vem se desenvolvendo à margem dos partidos. Pois todos eles são de alguma forma governo. Não têm como se apresentar ao distinto público vestidos de branco imaculado.
E é natural que os manifestantes procurem apartar-se de alinhamentos partidários. Uma boa estratégia. Já ensinava Muhammad Ali: flutuar como uma borboleta e picar como uma abelha. Se se abrirem à participação organizada de partidos, transformar-se-ão em alvo fixo.
Do jeito que está, o máximo que os contramanifestantes conseguem é tentar azucrinar pelas redes sociais. Tentar ridicularizar. Uma certa confissão de impotência. E também de alguma perda de sensibilidade. E, episodicamente, de boçalidade.
Mas e os resultados? O movimento pede mudanças legislativas e reforço das atribuições de órgãos de controle. Tudo bem, mas será suficiente? As instituições não existem no éter. Quem as opera é o Estado, comandado por um governo.
É visível certo cansaço com certa política, mas qual será a tradução da fadiga na vida real? Como será nas eleições?
É razoável supor que ou a energia será canalizada partidariamente ou vai dissipar-se diante da resistência, ou da inércia, das máquinas políticas estabelecidas, aliás muito bem estabelecidas. Especialmente as governistas.
É visível um certo cansaço com certa política, mas qual será a tradução da fadiga na vida real? Como será nas eleições? É razoável supor que ou essa energia será canalizada partidariamente ou vai dissipar-se
É humano certo deslumbramento com os movimentos ditos espontâneos. Eles adicionam glamour à política, pelo contraste com a crueza da realidade dela olhada sem filtros, em estado bruto. Das manifestações contra a corrupção Brasil afora até a “ocupação” de Wall Street.
O problema é que se movimentos de massa são bons para criar estados de espírito, e mesmo para bloquear parcialmente a capacidade de intervenção do Estado, como agora no Chile, não estão porém aptos a governar. A utopia do democratismo direto costuma virar do avesso quando tenta passar da fantasia à realidade.
Governar é trabalho para minorias, profissionais organizados em facções, partidos políticos. Que irão realizar a cada momento os projetos supostamente apoiados pela maioria, mas não será o governo da maioria. Será o governo segundo o suposto desejo da maioria, mas operado por uma máquina política dedicada.
Espertas são as máquinas políticas que se abrem aos movimentos sociais para alimentar-se da energia deles, mas é uma operação necessariamente datada, com vencimento.
Pois uma vez no poder a tendência se inverte e o Estado passa a usar os instrumentos tradicionais — da repressão à cooptação — para reduzir o caos, diminuir a desorganização da sinfonia.
Pode não ser muito animador, mas assim é a vida. Desde quase os primórdios. Por razões práticas. Quem ocupa as horas do dia na luta pela sobrevivência não tem como se dedicar às atividades de governo. Daí nasce a necessidade de mecanismos especializados e dedicados.
Podem ser sacerdotes ou nobres. Ou militares. Nas sociedades modernas nasceram os parlamentos, as eleições periódicas. A essência é sempre a mesma. Organizar a rotina para que a sociedade sobreviva, produzindo e reproduzindo-se em ciclos periódicos.
Daí que movimentos precisem, em algum momento, buscar sua tradução na política organizada. Nos anos 70 do século passado o sindicalismo ascendente buscava expressão partidária e o então MDB (antecessor do PMDB) ofereceu guarida. Mas Luiz Inácio Lula da Silva preferiu, após algumas experiências, trilhar o próprio caminho.
Os resultados são conhecidos.
Ontem um punhado de cidades foi novamente palco de protestos contra a corrupção, um processo que vem se desenvolvendo à margem dos partidos. Pois todos eles são de alguma forma governo. Não têm como se apresentar ao distinto público vestidos de branco imaculado.
E é natural que os manifestantes procurem apartar-se de alinhamentos partidários. Uma boa estratégia. Já ensinava Muhammad Ali: flutuar como uma borboleta e picar como uma abelha. Se se abrirem à participação organizada de partidos, transformar-se-ão em alvo fixo.
Do jeito que está, o máximo que os contramanifestantes conseguem é tentar azucrinar pelas redes sociais. Tentar ridicularizar. Uma certa confissão de impotência. E também de alguma perda de sensibilidade. E, episodicamente, de boçalidade.
Mas e os resultados? O movimento pede mudanças legislativas e reforço das atribuições de órgãos de controle. Tudo bem, mas será suficiente? As instituições não existem no éter. Quem as opera é o Estado, comandado por um governo.
É visível certo cansaço com certa política, mas qual será a tradução da fadiga na vida real? Como será nas eleições?
É razoável supor que ou a energia será canalizada partidariamente ou vai dissipar-se diante da resistência, ou da inércia, das máquinas políticas estabelecidas, aliás muito bem estabelecidas. Especialmente as governistas.
Marcadores:
corrupção.,
manifestações,
movimentos sociais,
Redes sociais
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
O milagre de Dom Helder Câmara na Assembléia Legislativa de Alagoas
Cleto Falcão, Política é isso mesmo. 1979.
Moacir Andrade |
Moacir Andrade, médico e deputado cassado pela Revolução, teve uma das mais destacadas e destemidas atuações como oposicionista na Assembléia Legislativa. Dentre outras coisas, denunciou por corrução o Ministro da Justiça, Gama e Silva, "pai do AI-5", o que aliás foi a gota d'água no seu processo de cassação.
Certa vez pediu a presença de Dom Helder Câmara na Assembléia Legislativa, a fim de proceder a uma palestra a respeito de um tema polêmico. Foi um verdadeiro deus-nos-acuda. Uns a favor, outros neutros e outros radicalmente contra a presença do Arcebispo naquela casa legislativa.
Em meio a uma discussão, o deputado Gilberto Sarmento, conhecido por sua aversão à tribuna, sem pedir a palavra levanta-se e grita:
— Esse Dom Helder é um comunista.
Moacir Andrade, que ocupava a tribuna, não deixou passar a oportunidade.
— Milagre! Estão vendo, meus colegas, antes mesmo de chegar aqui, Dom Helder já está fazendo milagre. Conseguiu fazer com que o deputado Gilberto Sarmento falasse pela primeira vez.
Marcadores:
Cleto Falcão,
Dom Helder Câmara,
milagre,
Moacir Andrade
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
A fotografia de Guevara
Edberto Ticianeli
Olhar de tristeza e indignação com as mortes no ato de terrorismo |
No dia 4 de março de 1960, às 8 horas, o navio francês La Coubre atracou no porto de Havana com um carregamento de armas comprado na Bélgica. O governo de Washington havia tentado impedir de todo jeito que a carga chegasse a Cuba, país agora governado por Fidel Castro. No meio da tarde do mesmo dia, duas explosões destruíram o navio e a carga, além de matar 136 pessoas.
Já no dia seguinte, 5 de março, o governo revolucionário organizou um ato em homenagem às vítimas. O jornal cubano Revolución enviou o fotografo Alberto Korda para cobrir o evento. Entre as várias fotografias, ele fez duas tomadas de Che Guevara, uma na vertical e outra na horizontal. Assim nascia a mais famosa foto do mundo: Guerrillero Heroico.
O sucesso da foto não foi imediato. Com a morte de Guevara em 1967, na Bolívia, o italiano Giangiacomo Feltrinelli utilizou a parte central da foto horizontal e imprimiu vários pôsteres em homenagem a Che Guevara.
Filme original |
A imagem se espalhou e se transformou na fotografia mais famosa do mundo de acordo com o Instituto-Faculdade de Arte de Maryland (Maryland Institute College of Art). Já o Victoria and Albert Museum declarou ser a foto de Kapra "a imagem mais reproduzida da história da fotografia".
A foto de Kapra também foi utilizada numa pintura, em monotipia, pelo artista plástico irlandês radicado nos EUA, James "Jim" Fitzpatrick, que liberou a imagem para reprodução.
O próprio Alberto Korda nunca recebeu nada por suas fotos. Ele, como Guevara, também era comunista e dizia que a divulgação da foto ajudava a espalhar os ideais revolucionários de Guevara.
Monotipia de Jim Fitzpatrick |
Essa preocupação de Korda com a utilização correta da imagem de Guevara fez com que ele impedisse que a foto fosse utilizada num anúncio de vodka. Em 2007, em entrevista ao New York Times, a filha de Che Guevara, Aleida Guevara, denunciou a utilização comercial abusiva da imagem do seu pai.
Em todo o mundo, além dos militantes de esquerda, é comum ver a imagem de Che Guevara em bandeiras de times de futebol e shows de rock, num fenômeno que tem merecido o estudo e o desenvolvimento de várias teses acadêmicas.
Em homenagem aos 44 anos da morte de Guevara, lembramos da foto que fez manter a sua imagem viva, ou que o transformou no morto mais vivo da história. Hasta siempre, comandante.
Marcadores:
Alberto Kapra,
Che Guevara,
Cuba,
Fidel Castro
Assinar:
Postagens (Atom)