quinta-feira, 30 de junho de 2011

Teles vão ter que expandir e baratear Banda Larga




Parece que o enfrentamento entre o governo e as teles na questão da expansão da banda larga chegou ao fim com a presidenta Dilma ganhando a quebra-de-braço. Com o acordo, todas as cidades do país serão, até 2014, atendidas por conexões na internet de 1 megabyte de velocidade, com o preço de R$ 35,00.

Desde o final do primeiro mandato do governo Lula que a pendenga vinha se arrastando. As operadoras argumentavam que esse mercado não justificava os investimentos que teriam que fazer. Na realidade estavam de olho nos R$ 9 bilhões do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações.

A resposta do governo foi enérgica: ameaçou com a volta da Telebrás e com a entrada de novas empresas estrangeiras. Não podia continuar existindo um preço alto por um serviço ineficiente, que exclui da internet as cidades, bairros e regiões mais pobres do país. A rede hoje atende a somente 27% dos domicílios.

Mesmo sabendo que muitas idas e vindas acontecerão até o acordo ser cumprido, já dá para comemorar. A expectativa é de que seis milhões de novos pontos de banda larga sejam instalados. Bom para o Brasil, afinal de contas acesso à internet boa e barata, também é inclusão social.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O jornalismo diante das novas mídias

Lilia Diniz

Observatório da Imprensa


Durante séculos, a imprensa orgulhou-se de ser insubstituível. Era o motor, o maestro e o filtro da sociedade. Elegia e derrubava presidentes, ditava moda e construía mitos. A partir de meados da década de 1990, com a popularização da internet, a irrevogável evolução tecnológica universalizou o conhecimento. Nasceram os sites de busca, os blogs e as mídias sociais. Profetas vaticinaram: livros e jornais impressos estão destinados a desaparecer porque o futuro é digital. Cidadãos comuns converteram-se em emissores de notícia, com textos curtos e fragmentados. Twitter, Facebook e Orkut se apresentaram como novas fontes de informação quebrando as barreiras entre a notícia e a sociedade. E até os jornalistas passaram a usar essas ferramentas como matéria-prima para reportagens e artigos.


Na semana passada, uma nova farsa do mundo virtual veio à tona: uma jovem lésbica síria que mantinha um blog com fortes críticas ao governo do presidente Bashar Al-Assad era, na verdade, um estudante de pós-graduação americano que vive na Escócia. Pouco antes de revelar a mentira, o estudante chegou a inventar que a autora do blog “Garota gay em Damasco” havia sido sequestrada a mando do governo. No início de junho, uma outra face do uso das mídias sociais entrou em pauta. O jornalista Bill Keller, que ocupou durante oito anos o cargo de editor executivo do jornal The New York Times, publicou um artigo criticando o uso indiscriminado da tecnologia nas relações pessoais. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (21/6) pela TV Brasil discutiu o impacto das novas mídias na sociedade e no trabalho da imprensa.
Para discutir o tema, Alberto Dines recebeu no estúdio do Rio de Janeiro o jornalista e escritor Muniz Sodré. Mestre em Sociologia da Informação e Comunicação e doutor em Letras, Sodré é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional. É autor de mais de 30 livros na área de Comunicação. Em São Paulo, o programa contou com a presença do jornalista Caio Tulio Costa, que foi o primeiro ombudsman da imprensa brasileira. Caio Túlio trabalhou naFolha de S.Paulo durante 21 anos. Foi um dos fundadores do UOL, do qual foi diretor geral até 2002. Ex-presidente do iG, atualmente é consultor de mídias digitais e professor de Ética Jornalística.
Informação superficial
Em editorial, Dines criticou a preferência da sociedade pela velocidade em detrimento da profundidade. “A contribuição mais forte para o fim dos jornais começou a ser oferecida pelos próprios jornais, quando anunciaram formalmente o seu próximo fim. O episódio mais recente deste suicídio coletivo aconteceu há poucos dias quando o Guardian, um dos jornais mais importantes e bem sucedidos da Inglaterra, anunciou que passaria a investir maciçamente na sua versão digital, que absorveria o noticiário quente. A versão impressa ficaria com as análises, opiniões e a contextualização do que seria veiculado pela internet”, comentou Dines.
Antes do debate no estúdio, a reportagem produzida pelo programa mostrou a opinião da jornalista Míriam Leitão, que atua tanto na imprensa convencional como nas novas plataformas. Para Míriam, o jornalista precisa ter consciência de que a informação veiculada por profissionais de imprensa nas redes sociais tem um peso maior do que as demais notícias que circulam no mundo virtual: “A estrada existe para todo o mundo, mas nós somos os profissionais do volante nesta estrada”.
Amante dos livros em formato tradicional e da palavra impressa, a jornalista explicou que vê com bons olhos a criação de novas plataformas, mas que torce para que as bibliotecas continuem a ter espaço nas casas. “Digamos que acabe este livro, esta idéia que foi inventada por Gutenberg, e que os livros sejam só eletrônicos daqui em diante. O livro é sempre a alma, a ideia, e isso vai continuar para sempre”, avaliou.
O que é real?
A coordenadora de Jornalismo da UFRJ Cristiane Costa contou que, durante a Guerra do Golfo (1990-1991), o perfil de um conceituado blogueiro chamou a atenção da opinião pública. Sob o pseudônimo de Salam Pax,o internauta abastecia seu diário virtual com informações de dentro de Bagdá, conflagrada pelos bombardeiros, enquanto os jornalistas das mídias tradicionais se limitavam a acompanhar as tropas aliadas. Apesar de as informações do blog “Where is Raed?” serem verdadeiras, a opinião pública desconfiou da existência do blogueiro porque parecia irreal que um arquiteto, gay e junkie morasse em Bagdá.
Na era das novas tecnologias, o diferencial, na avaliação do jornalista Arnaldo Cesar, é a qualidade da informação, independente plataforma em que é publicada. “Para você ter conteúdo de qualidade, tem que ter boas fontes de informação e a informação tem que ser checada e rechecada antes de ser impressa ou publicada. Eu acho que o New York Times e os jornais no mundo todo ficaram meio perdidos em relação a isso e hoje já começam a encontrar um caminho”, disse o jornalista. Leão Serva, que foi diretor de Jornalismo do iG e hoje é diretor de Redação do Diário de S.Paulo, comparou as informações que circulam nas redes sociais às cartas anônimas. Nas duas situações é necessário checar a fonte, apurar e ouvir o outro lado da questão. “Eu acho que esses mesmos cuidados são necessários, embora em uma versão digital”, disse Serva.
Convivência pacífica
As novas tecnologias não se sobrepõem aos meios tradicionais, na avaliação de Luiz Garcia, articulista do jornal O Globo: “A imprensa sempre sobreviveu aos novos meios de comunicação. A quantidade de informações que são passadas à opinião pública é sempre muito grande, mas cada um tem a capacidade de escolher e selecionar o que acha melhor. Não creio que algum tipo de mídia diferente, novo, que pode fazer muito sucesso inclusive pelo fato de ser novo, pode afetar as características próprias das mídias mais antigas”.
De Nova York, o correspondente Lucas Mendes comentou a atuação de Bill Keller no NYTimes. “Foi sob o comando dele que o jornal decidiu cobrar pelo acesso online para compensar a brutal queda no faturamento da publicidade. ‘Sem uma nova receita, o fim do Times é inevitável’ – quem diz é o próprio editor-executivo”, contou o jornalista.
No debate ao vivo, Dines perguntou a Caio Túlio Costa se, quando assumiu a direção do UOL, imaginava o rápido desenvolvimento tecnológico que se seguiria, a ponto de ser decretado o fim do jornalismo impresso. “Quando a gente criou o UOL, não tínhamos a noção exata do que estávamos fazendo”, contou Caio Túlio. A ideia, segundo ele, era tentar reproduzir no Brasil o sucesso das grandes provedoras daquele momento, como AOL e a Compuserve. Intuitivamente, a equipe já tinha em mente que para a iniciativa ser bem sucedida era preciso um grande número de pessoas conectadas ao site para garantir o faturamento. Os assinantes e a publicidade deveriam sustentar o provedor.
Verdades e mentiras
Caio Túlio relembrou casos amplamente divulgados em que a mentira estava presente na mídia tradicional, como o do ex-repórter do NYTimes Jayson Blair, que admitiu publicamente, em 2003, que plagiava textos e inventava informações em suas matérias. “Isso faz parte do jogo e evidentemente, o jogo está muito maior agora, com muito mais alcance, com quase uma impossibilidade de controle. E nós, que somos formados nessa mídia tradicional, somos loucos para controlar. Acho que a questão que se coloca é essa: esse controle ficou muito mais difícil e muito mais complexo”, avaliou o jornalista.
O fator humano acaba fazendo com que situações como essas ocorram em qualquer plataforma. “Nós, enquanto jornalistas, trabalhando tecnicamente a informação e agora tendo a concorrência de pessoas, cidadãos – bem intencionados e mal intencionados – de instituições e de empresas, continuamos enfrentando os mesmos problemas de sempre”, sublinhou Caio Túlio.
Para Muniz Sodré, a tecnologia é fascinante porque conserva enigmas e incertezas. “Eu acho que frequentemente perdemos de vista determinadas coisas porque tendemos a avaliar os objetos culturais isoladamente. Foi como o rádio e a televisão. Na verdade, todos esses objetos e dispositivos formam, para mim, um paradigma em que se tenta duplicar o universo anterior”, analisou o professor. Esta duplicação se dá na direção da velocidade, necessária ao sistema capitalista. “O valor ‘ético’ passa a ser o rápido, o veloz. Não é o profundo, o humano o autêntico. Essa duplicação e essa aceleração matam o sentido”, afirmou Muniz Sodré.
A busca pela novidade
O professor acredita as novas tecnologias da informação põem em pauta a crise do sentido e da palavra. E a imprensa é um “pálido reflexo” dessa crise mais profunda. Jornalistas e consumidores estão fascinados pelas novas tecnologias, na avaliação de Muniz Sodré. Muitas vezes, buscam os mais recentes lançamentos sem saber ao certo para o que servem aquelas ferramentas. “Há uma coisa mais grave. É um pouco como a indecisão de um cientista subatômico diante de um objeto subatômico: não sabe se é onda ou se é partícula. Em um nível macro da história, nós, diante de um fato, não sabemos quais são os padrões de verdade, de realidade, de imaginário. E isso parece não importar mais”, observou Sodré.
Para o professor, a sociedade está “surfando na onda das aparências” e não tem os meios de controlar o que é verdade. O jornalismo sempre ofereceu a possibilidade de estabelecer a distinção entre real e irreal porque havia um pacto de credibilidade implícito. Sem uma pausa na transmissão das informações, os dados apenas se multiplicam, sem uma reflexão aprofundada. “Se esse pacto se rompe, essa informação tão abundante, tão prolífica, é tão fascinante quanto o aparelho novo, mas não vale nada”, disse Sodré.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Lançado hoje o projeto "Resistir é Preciso..."



O Memorial da Resistência foi palco para o lançamento de uma das mais importantes obras sobre a memória da nossa imprensa alternativa. Com depoimentos já disponibilizados no site www.resistirepreciso.org.br, o projeto é o resultado do trabalho de pesquisa, digitalização, microfilmagem e contextualização desenvolvido pelo Instituto Vladimir Herzog em parceria com a Petrobrás.

Segundo o próprio site, a intenção maior é resgatar a memória da imprensa alternativa, clandestina e no exílio produzida entre 1964 e 1979, ou seja, do Golpe à Anistia. É um importante trabalho que o Instituto Vladimir Herzog realiza na preservação da história recente do Brasil. Confira.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Triste notícia

Diferente do espaço nobre que ocupa nos jornais impressos, a charge está fora dos sites de notícias em Alagoas

Edberto Ticianeli

Enio Lins, da Gazeta de Alagoas
Poucos profissionais da imprensa alagoana já sentiram o prazer de ver o resultado do seu trabalho ser recortado dos jornais para serem expostos em espaços públicos. Mas, durante 50 anos, as charges de Nunes Lima, publicadas na Gazeta de Alagoas, foram afixadas nos mais nobres salões de barbearias e nas mais humildes tendas de sapateiros. As charges do Enio, Billo, San e Hércules, mesmo não sendo mais expostas em ambientes públicos, continuam a ter posição de destaque nos jornais impressos. O que surpreende é que elas não vêm recebendo o mesmo tratamento nos sítios de notícias da internet. Uma rápida visita aos maiores portais do segmento no país — G1, UOL e R7 — e aos sítios locais — Gazetaweb, Tudo na Hora, Cada Minuto e Alagoas 24 horas — vai confirmar que eles não utilizam a charge no espaço noticioso.

O experiente chargista Enio Lins, que substituiu Nunes Lima na Gazeta de Alagoas, atribui a não utilização da charge às questões econômicas, que levam as empresas a reduzirem o número de profissionais especializados. “Com o tempo, acho que a coisa se ajeita e a charge passa a ocupar o seu devido lugar também nos sites noticiosos. A charge cabe em todas as mídias”, acredita o jornalista, que também acumula, na Organização Arnon de Mello, a função de coordenador editorial. 

Hércules Mendes
Hércules Mendes é outro profissional da charge e da caricatura em Alagoas que também identifica na redução de custos dos meios emissores a razão para a não existência de charges nos noticiosos da internet. “A Charge cabe muito bem nos sites de notícias. E com uma força e propriedade incríveis. Porque o humor, de uma forma geral, tem muita força e é uma forma de linguagem que atrai, que interessa ao receptor”, diz Hércules. Ele ainda identifica que há também falta de adaptação da charge ao meio. “Acredito que a roupagem mais apropriada para esses veículos seria a animação, como as charges do Chico Caruso. O que talvez dificulte seja que nem todo chargista trabalha com a técnica da animação. O próprio Chico, conta com o apoio de uma equipe para animar as suas charges”, explica.

Billo, da Tribuna Independente
Da nova geração dos chargistas alagoanos, o jornalista Marcus Vinicius Luna, o Billo, da Tribuna Independente, também analisa a ausência da charge nos sites jornalísticos como falta de interesse dos proprietários dos veículos. “As informações veiculadas na internet são formadas basicamente por textos curtos e muita imagem. Estão lá as fotos, animações, infográficos, ilustrações e vídeos. Não existe outro lugar mais propício para se veicular charges”, afirma.

Poder da charge

A primeira charge brasileira foi publicada no Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, no dia 14 de dezembro de 1837. Seu autor foi o ilustrador Araújo Porto Alegre e desde então a charge nunca mais deixou de ocupar papel de destaque nos jornais brasileiros. Enio Lins considera que a charge brasileira já nasce como um dos elementos mais crítico da imprensa, assumindo o papel de combate aos poderosos e governantes. “Esse papel de elemento de ataque via humor gráfico foi muito utilizado no enfrentamento do regime militar entre 1964 e 1984, o que lhe deu mais prestígio ainda. É uma parte integrante do jornalismo mundial, com longa história”, constata Enio.

Hércules Mendes também encontra essas mesmas particularidades na charge. “A grande característica da charge é a motivação política. Essa é a grande razão de ter tomado espaço nos veículos de comunicação de massa. É imediata e necessita de informação atualizada. É contundente. A charge não convive com o elogio, com a bajulação, senão perde sua razão de ser. Ela destrói mitos e desmascara a mentira. É tremendamente devastadora, o que a torna muito temida, chegando mesmo a ser censurada”, avalia Hércules. Para atenuar o poder da charge, ele lembra Millor Fernandes, que dizia, “não tenhas medo, o humorista nunca atira para matar...”.

Aprendendo a ser chargista

O chargista não aprende sua profissão em curso superior. Para regularizar a situação do chargista como jornalista, os sindicatos e a Fenaj adotam um tratamento especial para esses profissionais. Os chargistas Henfil, Millôr, Cláudio Abramo, Paulo Francis, Fortuna, Jaguar, Ziraldo e vários outros só foram aceitos como jornalistas em 1982. Tratada como um editorial gráfico por autores importantes, a charge não se consolidou como uma disciplina nas faculdades de comunicação. Para os chargistas, a escola da vida termina sendo a maior professora.

Billo atribui às revistas em quadrinhos e aos desenhos animados na TV, as influências que o levaram ao desenho ainda na infância. “Fui seduzido pelos trabalhos de Hanna-Barbera, Disney, Looney Tunes e Mauricio de Souza. Lia muito os quadrinhos do Pernalonga, Mickey Mouse e sua turma, Manda-Chuva, Dom Pixote, Turma da Mônica, Recruta Zero etc. Assim, fui pegando gosto pelo desenho e tentando copiar tudo o que eu via. Mas foi na adolescência que comecei a me interessar por trabalhos mais críticos, como os da revista Mad. Posteriormente, conheci a charge jornalística e senti que era aquilo que eu queria fazer”, recorda Billo. Ele ainda diz que para ser um bom chargista é preciso ter boa dose de senso crítico, poder de síntese, leitura e muita dedicação ao desenho. “O traço é a marca registrada desse tipo de profissional”, ensina.

A caricatura foi a porta de entrada de Hércules Mendes na charge. “Cheguei por acaso, fazendo logo de início caricaturas de pessoas. Os franceses chamam de Portrait Charge, a essa modalidade de humor gráfico. É uma varredura crítica do personagem, os seus traços característicos, suas deformações físicas, suas desproporções, sua expressão facial e corporal. A charge transfere esses componentes para o fato, o acontecido ou mesmo ainda, para o que está por acontecer”, diz Hércules. Para ele, o chargista se forma no dia a dia, de posse de muita informação e com um grande poder de observação. “A memória, a informação, a irreverência ou o espírito crítico, alimentam a criatividade. Claro que tem que haver uma certa habilidade para o desenho caricatural”, complementa.

Enio Lins, pelo próprio
O jornalista e arquiteto Enio Lins avalia que o jornalista chargista pode ser gerado também fora das faculdades, a exemplo dos fotógrafos. A sua formação como desenhista também veio a partir das revistas em quadrinhos. Por suas habilidades com os traços, sempre era chamado a ilustrar os trabalhos estudantis. “Desenhei em "impressos" de todos os meios que me estavam à mão, desde os anos 70. No começo, eram os jornais secundaristas confeccionados no mais rudimentar dos métodos, o mimeógrafo a álcool, depois o mimeógrafo a óleo. Mas o movimento estudantil universitário foi a principal escola, quase simultânea com as primeiras publicações de desenhos na Gazeta de Alagoas”, recorda Enio.

Referências

Nunes Lima
Como todo profissional no início da sua formação, o chargista também recebe a influência das principais referências do setor. Em Alagoas, a charge tem a forte marca de Nunes Lima, que trabalhou na Gazeta de Alagoas durante 50 anos. Hércules Mendes reconhece a importância e o pioneirismo do Nunes. “A sua charges tinha uma linguagem simples, direta, de uma popularidade a toda prova”. Enio Lins também admite ter aprendido com o “mestre Nunes”. “Nos anos 60, eu copiava as charges dele publicadas na Gazeta de Alagoas”. Lamentavelmente, atendendo a orientação médica e dos seus familiares, Nunes não pode conceder entrevista.

Hércules Mendes também recorda dos ensinamentos que recebeu de Carivaldo Brandão, do Jornal de Alagoas, além de outros chargistas que fizeram escola em Alagoas. Billo avalia que Alagoas sempre foi muito bem servida por chargistas.

A expressiva charge alagoana, que já tem uma história de destaque no jornalismo impresso, estranhamente não ocupa espaço algum nos sítios de noticias da internet. Independente das razões, se por contenção de despesas dos proprietários dos sítios ou por falta da adequação da linguagem ao meio, o certo é que o jornalismo perde, com isso, a chance de usar o humor como um dos seus mais contundentes discursos críticos. 

Os entrevistados citaram os seguintes profissionais como referências nas suas formações:

Em Alagoas: Nunes, Enio, Billo, San, Hércules, Manuel Viana, Léo e Carivaldo Brandão.

No Brasil: J. Carlos, Carlos Estêvão, Chico Caruso, Paulo Caruso, Lan, Ziraldo, Paixão, Fernandez, Dálcio, Duck, Siné, Quino, Trúcius, Carlos Estêvão, Millor, Ziraldo, Cláudius, Amorim, Henfil, Ronaldo Cunha Dias, Fortuna, Henfil, Angeli, Glauco, Laerte, Luiz Gê e Luiz Fernando Veríssimo. 

De outros países: Quino, que o Enio identifica como o melhor cartunista do mundo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O governo Dilma e a disputa por cargos

Elói Pietá
Judson Cabral, Lenilda Lima e Elói Pietá em recente encontro em Maceió

A disputa dos partidos que apóiam o governo Dilma no Congresso pelos cargos federais, é um tema que percorreu todo o primeiro semestre, e permanece como elemento de tensão. Expressou turbulências ainda não equacionadas na base parlamentar; foi um dos ingredientes da mudança no ministério que cuida das relações institucionais; levou a significativa alteração no cotidiano da presidenta, uma positiva flexão para maior diálogo com parlamentares e partidos.

O governo de Dilma está muito tranquilo na sociedade como mostrou a recente pesquisa do Datafolha. Mas tem enfrentado ventos vindos do Congresso, seja gerados pela disputa de cargos, seja por disputas do conteúdo de políticas públicas.

Está certa a presidenta em apertar os critérios, averiguando a capacitação e o passado de cada uma das indicações para os cargos. Demonstra que começa seu mandato com o olhar predominante de servir à sociedade, de cumprir com os compromissos econômicos e sociais que lhe deram o apoio da maioria.

Ela acerta ao acompanhar de perto a gestão, exigir resultados, cobrá-los com firmeza desde a concepção dos projetos até a sua execução final. Pois os partidos que se juntaram nas eleições e na atual coalizão governamental tem trajetórias e concepções políticas diferentes. Exemplo disso são as divergências em relação ao Código Florestal.

O preenchimento de cargos por integrantes de um ou de outro partido representará uma ênfase diferente na ação governamental. Isso se aplica em todas as áreas de governo. Portanto, a disputa por cargos é, em primeiro lugar, uma disputa de orientação concreta das ações de governo em favor deste ou daquele segmento social. É natural que isso aconteça. Razão a mais para que o governo tenha posição unificada em cada área, em cada momento importante, e que seu núcleo central acompanhe de perto a execução das políticas.

A conquista de cargos pelos partidos repercute nos interesses da sociedade e na musculatura destes partidos para a realização de suas políticas. Dizia o sociólogo francês Raymond Aron que os partidos são agrupamentos que pretendem, em nome de uma certa concepção de interesse comum e da sociedade, assumir sozinhos ou em coalizão as funções de governo.

É da natureza dos partidos serem formadores de quadros de governo. É regra da democracia que os cargos de comando sejam preenchidos pela maioria que lhe dá sustentação. São normas de bom governo que os dirigentes e assessores nomeados, além de fidelidade ao programa aprovado nas eleições, tenham competência, conhecimento da área de atuação, respeito à hierarquia, e virtudes de ética pública. Esta é a boa política para o povo.

Mas, há também outra política, onde predominam os interesses individuais e de grupos sobre o interesse da coletividade. Há os que buscam serem nomeados mirando sobretudo poder, salário, benesses, ou simplesmente um emprego. Há padrinhos de nomeados querendo antes de tudo o reforço de carreiras políticas, de facções partidárias. E sobrevivem na política atual heranças do patriarcalismo, do clientelismo, que misturam o privado e o público.

A grande disputa quanto ao sentido do poder estatal na democracia se revela nesta dualidade: poder exercido para o progresso da sociedade que elege seus representantes, ou, poder para proveito de uma pequena parte organizada da sociedade que acessa às estruturas do Estado?

A prioridade precisa sempre estar na aplicação do programa governamental, no implemento das políticas públicas. A sociedade perde, caso a prioridade em alguma área se deslocar para o reforço de interesses individuais, de carreiras políticas, ou de grupos no poder.

O esforço que está sendo feito pelo governo é para que predomine sempre e em todas as áreas o interesse público. A política real nunca é a política ideal, porém o governo não há de ceder mais do que as árvores cedem ao vento, sustentando-se no lugar com suas raízes profundas.

É papel de todos os políticos que priorizam os interesses da sociedade, e é tarefa do PT, o principal partido da coalizão governamental, ajudar a presidenta a garantir a vitória da boa política nesta disputa pelos cargos públicos.

Elói Pietá é secretário geral nacional do PT 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Praça da Cadeia em Maceió

A velha cadeia pública, em frente ao Quartel Geral da PM, no Centro. Essa foto é dos anos 60, um pouco antes dela ser demolida. 




Essa foto é mais antiga. Não havia ainda o traçado de ruas ao redor.

Governo quer atrair movimentos "desorganizados" da internet

A missão principal da Secretaria Geral da Presidência da República é aproximar o governo dos movimentos sociais, para que políticas públicas sejam, em algum grau, permeáveis a reivindicações populares. Seus interlocutores frequentes são centrais sindicais (CUT e Força Sindical, por exemplo), estudantes (UNE), camponeses (Contag), sem-terra (MST), índios (Cimi). Enfim, grupos de interesse organizados em entidades conhecidas.

Por André Barrocal, na Carta Maior

A Secretaria Geral pretende, agora, ampliar a clientela e levar para dentro do Palácio do Planalto movimentos sociais "desorganizados”. Aqueles que, de forma anárquica e espontânea, nascem e manifestam-se pela internet. E que são desprovidos de vínculo com instâncias tradicionais no debate público, como os partidos políticos, a mídia ou os sindicatos.

O objetivo da Secretaria Geral — que lembra a ação feita pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na eleição norte-americana em 2008 — consta do planejamento estratégico dela para 2011. Caso se desenvolva como previsto, deve se materializar em 2012, com a criação de um “portal de participação social”, como já está sendo chamado.

“A idéia é ampliar a democracia. Os instrumentos tradicionais da democracia, sozinhos, hoje não dão mais conta da realidade”, diz Ricardo Poppi, responsável pelo projeto na Secretaria Nacional de Articulação Social, da Secretaria Geral. “A internet é o espaço por excelência de um novo tipo de representação, que é mais utópica, mais direta, como vimos nos países árabes no começo do ano."

O projeto ainda é embrionário, mas Poppi já antecipa o que lhe vai pela cabeça sobre o futuro portal. Seria um espaço de consulta pública permanente, uma espécie de "ágora grega" virtual, onde as pessoas opinariam e deixariam críticas ou sugestões sobre temas propostos pelo governo ou que elas mesmas considerem importantes. Funcionaria ainda como um grande arquivo sobre as conferências nacionais patrocinadas pelo governo (juventude, comunicação, LGBT, por exemplo).

Algo parecido foi adotado recentemente pelo governo do Rio Grande do Sul, que montou um Gabinete Digital (um portal). Nele, os internautas podem fazer perguntas e escolher uma por mês para o governador Tarso Genro responder. A intenção do governo gaúcho não é tratar as perguntas como algo protocolar, mas incorporá-las efetivamente à agenda administrativa.

A Secretaria Geral pretende que aconteça o mesmo no governo da presidente Dilma Rousseff. “O portal vai permitir que as pessoas tenham participação política e influenciem a formulação e a implementação de políticas públicas”, afirma Poppi. “Elas vão poder poder pautar o governo com temas que nem a imprensa nem a burocracia tinham percebido”, completa.

Com formação de nível médio em telecomunicações e de nível superior em ciência política, Poppi trabalhou anteriormente no ministério da Justiça, na coordenação de consultas públicas digitais. A proposta de Lei da Internet, ou de “marco civil” como o ministério a chama, passou por consulta coordenada por ele na qual houve mais de duas mil contribuições.

Para Poppi, a tecnologia digital pode ser um meio extraordinário de participação política. Cita como exemplo um episódio recente envolvendo uma professora do Rio Grande do Norte chamada Amanda Gurgel.

Em audiência pública na Assembléia Legislativa sobre salário dos professores, ela fez um discurso forte sobre a realidade da categoria que constrangeu os parlamentares. O vídeo com a manifestação foi parar noYouTube, virou hit na internet e tornou-se assunto discutido pela população em mesa de bar. “Se não fosse a tecnologia, a fala dessa professora teria impacto apenas local”, afirma Poppi.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Conselho para a comunicação em Alagoas

Marcos Guimarães tem cobrado um
Conselho com poder de deliberação
Mesmo podendo cumprir um papel importantíssimo para o estabelecimento de relações mais democráticas na Comunicação, o Conselho Estadual de Comunicação Social de Alagoas parece que deixou de existir, tamanha a sua inoperância. A sua última aparição foi durante a 1ª Conferência Estadual de Comunicação, em novembro de 2009. Antes disso, entre 2003 e 2005, editou alguns exemplares de um Caderno de Debates. Em 2010 tentou realizar três reuniões, que fracassaram por falta de quorum. Neste ano, nada de reuniões. 

Criado como órgão consultivo em 2001, para dar respaldo político ao então governador Ronaldo Lessa, que se confrontava com as Organizações Arnon de Mello, o Conselho de Comunicação nunca teve sequer uma sala ou um funcionário à sua disposição, mesmo estando agregado ao Gabinete do Governador.

São 15 conselheiros titulares e três suplentes indicados por entidades de classe, instituições de ensino e secretarias estaduais, que não recebem remuneração, mas também não vêm produzindo o esperado de uma instância responsável pelo acompanhamento das políticas públicas de comunicação social em Alagoas.

Diante do risco de se perder, por imobilidade, um espaço tão importante para a sociedade civil, alguns segmentos da comunicação passaram a cobrar um papel diferente para o Conselho. Os sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas encaminharam, em 2010, minuta de projeto de lei que dá poderes deliberativos e o vincula à Secretaria Estadual de Comunicação Social. A proposta, lerdamente, está sendo analisada numa zona nebulosa que fica entre o Gabinete Civil e a Procuradoria do Estado.

É necessário que o Conselho Estadual de Comunicação Social tenha a prerrogativa de estabelecer as políticas públicas do setor em Alagoas, passando a ser a primeira instância para analisar os processos de outorgas das novas concessões, além de estabelecer critérios para a aplicação dos recursos para a publicidade institucional. Só tendo o poder de deliberar sobre essas questões é que o Conselho vai se firmar, a exemplo do Conselho Estadual de Segurança Pública.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

São Paulo e o fantasma de Vargas

Vargas e Lula: políticas desenvolvimentistas

A elite paulista conservadora dá provas de que não vai abandonar o osso (ou filé?) do poder em São Paulo tão cedo. Não é de agora que ela defende com unhas e dentes a sua capitania hereditária. Em 1932, a pretexto de fazer uma revolução constitucionalista, armou-se para enfrentar o governo provisório de Getúlio Vargas. Conversa mole. O que estava em jogo era o fim do domínio político e econômico da aliança paulista/mineira, o café com leite.

Ela nunca perdoou a derrota militar para Vargas.  Em 1964, lá estava ela de novo, junto com a UDN e os militares para golpearem Jango, acusado por eles de ser um comunista e herdeiro dos ideais de Vargas.

Dias antes do golpe militar, a classe média amedrontada foi mobilizada pela elite paulista para uma imensa passeata (ou procissão?), que ficou conhecida como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A palavra de ordem mais gritada era: "Vermelho bom, só o batom".

Mesmo com o golpe, as forças políticas de oposição ao regime militar continuaram vivas e atuando, mesmo de forma limitada. A elite brasileira cobrava mais rigor repressivo contra os contestadores da ditadura. A elite paulista conservadora foi mais além. Em 1979, criou a Operação Bandeirantes, a OBAN, que era uma formação paramilitar fora da lei.

Na articulação do grupo participavam o Grupo Ultragás, Ford, GM, Grupo Camargo Corrêa, Grupo Objetivo e Amador Aguiar (Bradesco).  Alguns destes, como foi o caso de Henning Albert Boilesen, que dirigia o Grupo Ultra, chegaram a ser acusados de participarem das sessões de tortura.

O varguismo sempre assombrou a nobreza paulista. Brizola, por suas ligações históricas com João Goulart, também testemunhou essa rejeição. Suas votações em São Paulo sempre foram pífias e o seu PDT não avançou muito.

E de quem é que a elite paulista conservadora não está gostando agora? De Lula, que cometeu o crime de desenvolver o país atendendo a parte dos anseios dos mais pobres. “É o ressurgimento do populismo varguista!”, vocifera a tradicional oligarquia de São Paulo.

Lula já os derrotou em três disputas pela presidência da república. Mas, nas batalhas pelo governo paulista, a vitória tem sido dos segmentos mais atrasados. Com um detalhe: eles ganham bem antes que a campanha comece, eliminando os candidatos mais fortes que o PT prepara para as eleições estaduais.

Os escândalos com Zé Dirceu e Palocci são exemplares para ilustrar como se processa a disputa nas pré-campanhas. Zé Dirceu e Palocci podem até não serem honestos, mas, com toda a certeza, não foi por isso que foram atingidos. Os dois, quando foram nocauteados, ocupavam cargos chaves para o fortalecimento de uma campanha ao governo paulista, ou até mesmo à presidência da república.

A elite conservadora de São Paulo, por mais que o Estadão ou a Folha empinem o nariz, não tem problemas em conviverem com os Malufs e Pittas, suas crias. Zé Dirceu e Palocci foram derrotados por representarem o que eles consideram ser o varguismo lulista. Isso não justifica os possíveis erros dos petistas, e se devem à Justiça, que paguem.

Sempre é bom entender os fatos além das suas aparências. As forças mais atrasadas de São Paulo aceitam tudo para se manterem no poder. O que elas não suportam mesmo são os que querem incluir os mais pobres e os trabalhadores nas mesas de negociação. O pior é que não se tem a certeza de que Zé Dirceu ou Palacci conseguiriam isso, caso chegassem ao governo de São Paulo.  

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A ressurreição da mãe de um vigarista

Para os twiteiros de Alagoas, a noite deste domingo ficou marcada como a do mico do Marcos Fireman. Ele anunciou a morte de uma liderança da juventude do PSDB e depois descobriu que o rapaz estava vivo e que o governador estava sendo vítima de um velho golpe dos meios políticos: o pedido de ajuda para o enterro.

O episódio me fez lembrar de uma situação semelhante em que estive envolvido. O ano era o de 2006 e eu ocupava o cargo de Secretário Estadual de Cultura. Com o expediente terminado, continuei nas dependências da secretaria adiantando alguns trabalhos. Lá pelas 4 horas da tarde, o vigilante me avisa que tinha um cidadão insistindo em falar comigo e que me conhecia. Pedi que o deixasse entrar. Ele me cumprimentou aparentando intimidade.

- Tudo bom, Ticianeli? Tem ido a Pão de Açúcar?

Não reconheci quem era, como não é raro acontecer a quem tem vida pública.

- Olhe, eu vim aqui para pedir uma ajuda a você – anunciou.

Olhei para o indivíduo e liguei o sistema de defesa. A experiência de muitos anos na política indicava que a “facada” ia ser violenta.

- O que aconteceu é que minha mãe morreu lá em Pão de Açúcar. Mas, não pense que eu vim lhe pedir para me ajudar com o caixão. Essa parte eu já resolvi. O que falta agora é o transporte para lá.

Confirmado. Era o velho golpe de insinuar que vai fazer um grande pedido, para em seguida anunciar que é pouca coisa, forçando a vítima a se sentir aliviada e, facilmente, abrir a carteira. Resolvi que o esperto vigarista merecia uma lição e disse:

- Olhe aqui, meu amigo, eu não vou lhe dar a passagem, mas vou fazer muito mais. Não é justo que você numa situação dessas tenha que pegar um ônibus. Vou conseguir um transporte da prefeitura de Pão de Açúcar para levar você lá.

Peguei o telefone e liguei para o prefeito Cacalo e indaguei se ele estava no sertão (Pão de Açúcar). Ele confirmou. Perguntei, então:

- Cacalo, o sino tocou?

Ele respondeu que não, o que significava que ninguém tinha morrido na cidade.

- Sabe o que é, estou aqui com um amigo aí da terrinha que perdeu a mãe e está precisando de transporte. A mãe dele morava na Rua da Frente e morreu hoje de manhã aí em Pão de Açúcar.

- Ticianeli, você está com um vigarista aí, não é? Adivinhou o escolado Cacalo.

Confirmei e me despedi do prefeito. Olhei para o vigarista e lhe disse:

- Meu amigo, não vou mais lhe dar o transporte. Você vai receber muito mais. Vou lhe dar a melhor notícia da sua vida: A SUA MÃE ESTÁ VIVA! Fique tranquilo que ela não morreu. Eu acho que você recebeu uma informação errada.

Acompanhei o encabulado vigarista até a saída e ele ainda não conseguia dizer nada. Acho que foi a emoção.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O PT e a crise do ministro Palocci

Elói Pietá


Elói Pietá, secretário geral nacional do PT, em recente visita a Maceió

Para os petistas, não sair em defesa de Palocci foi uma reação contra o risco de distanciamento do PT em relação à sua base social. Por isso estamos com a presidenta Dilma e apoiamos sua dolorosa atitude nesta hora. Mesmo tendo que perder um ministro tão importante, ou tendo que parecer vencida pela pressão das oposições, ela preferiu não perder o sentido social de seu governo.

Os petistas não contestam o direito que Palocci tinha de exercer uma atividade privada quando saiu do governo em 2006 e de ter sucesso nela. O que causou espanto e levou os petistas a não apoiarem sua permanência no governo, foi a origem de seus ganhos privados (orientar os negócios de grandes empresas), a magnitude dos resultados (dezenas de milhões de reais), e o alto padrão de vida que ele se concedeu (representado pelo investimento em moradia fora de sua própria origem de classe média).

Nós, petistas, éramos ‘de fora’ nos tornamos ‘de dentro’ do Estado brasileiro. Até hoje a elite rica ou a classe média alta de doutores não simpatiza com ver lá essa geração vinda dos movimentos de trabalhadores. Somos herdeiros dos esforços que o Partido Comunista representou ao levar em 1945 ao Parlamento trabalhadores historicamente excluídos do poder (por pouco tempo, já que logo posto na ilegalidade). Somos herdeiros daqueles que no início dos anos de 1960 ensaiaram alguma presença no Estado através de suas
lideranças sindicais e de partidos socialistas nascentes (tentativa abortada com o golpe militar).

Enfrentamos com muitas dificuldades materiais as eleições. Uma após outra, elegemos homens e mulheres vereadores, deputados, prefeitos, senadores, governadores, até chegar três vezes à presidência da República. Muitos se tornaram assessores nos parlamentos, nos governos, diretores,
secretários, dirigentes de empresas públicas, ministros.

Quando estávamos perto do poder ou nele, as empresas privadas ajudaram nossas campanhas e procuraram nos aproximar delas. Queremos o financiamento público dos partidos para não depender delas. Respeitamos os empresários, mas com a devida distância.

Não queremos sair do que fomos. Sabemos que as relações econômicas e as condições materiais de vida terminam moldando ideias e ações. São milenares as reflexões que alertam para isso. Vamos recordar alguns exemplos.

Lá longe, o filósofo grego Platão, em A República, dizia que os governantes das cidades-estado não deveriam possuir bens, exceto aquilo de essencial que um cidadão precisa para viver. Que deveriam ter o ouro e a prata apenas na alma, porque se fossem proprietários de terras, casas e dinheiro, de guardas que eram da sociedade se transformariam em mercadores e donos de terras, então, de aliados passariam a inimigos dos outros cidadãos.

A Revolução Francesa no fim do século 18 fez brilhar pela ação dos
excluídos as ideias de igualdade, fraternidade e liberdade, contra a
concentração da riqueza e do poder nos reis, na nobreza e no clero. É verdade
que depois houve a restauração do Império, mas também se fortaleceram as
ideias socialistas.

Marx e Engels, que buscavam a emancipação do proletariado, consideravam que, para modificar a consciência coletiva era preciso modificar a base material da atividade econômica. Não bastava, portanto, a crítica das ideias, porque o pensar das pessoas reflete seu comportamento material.

Filósofos sociais posteriores, mesmo aqueles cujas ideias deram suporte ao liberalismo, como Max Weber, falavam de estamentos sociais definidos pelos princípios de seu consumo de bens nas diversas formas de sua maneira de
viver.

Já dizia Maquiavel que a política se altera no ritmo incessante das ondas do mar. Os partidos tendem a ser como estas ondas: vem de muito longe, vem crescendo, até que um dia se quebram mansamente nas praias ou mais rudemente nos rochedos. Defender vida modesta para políticos vindos da vida modesta das maiorias, é para o PT uma das condições indispensáveis para comandar um processo de distribuição da renda e inclusão das multidões excluídas, embora não a condição única. Para cumprir esta condição e nosso
papel, é essencial sermos, como temos sido: fiéis, na nossa vida pessoal e política, aos milhões e milhões de brasileiros que tem votado e confiado em nós. É legítimo para nós progredir ao longo da vida, desde que todos cresçam na mesma medida em que o bem-estar do povo cresce.

Voltando ao companheiro Palocci: respeitamos suas opções, admiramos sua competência, reconhecemos seu trabalho a serviço do povo. Mas, pelas razões expostas, o PT mostrou que prefere o político de vida simples que conhecemos, ao empresário muito bem sucedido sobre o qual agora se fala.

Nesse mix de filosofias sobre a riqueza e seu reflexo no pensamento social, terminamos lembrando o imperativo categórico de Kant: aja de tal modo que a máxima de sua ação possa ser universalizada, isto é, para que todos sejam iguais a você. Por isso que, para continuarmos a ser um partido dos trabalhadores, não é bom que cultivemos o ideal de empresários.

Uma cidade outrora sorriso

Nosso amigo Lula, o Luiz Antonio Jardim, teve mais uma das suas lojas arrombada nesta madrugada. Esse é o desabafo dele.

Anda assustada! Resta um sorriso amarelo. Maceió acolhedora, relaxante, dá lugar a uma população ressaltada com tantos roubos, tantos assaltos, assassinatos e tanta violência. Se existia um pano que encobria as ocorrências em sofridos bairros de periferia, de há muito o sentimento de insegurança tomou conta de toda a Capital. Nos noticiários acumulam-se ocorrências diárias incontáveis: assaltos a transeuntes, assaltos a lojas, postos de combustíveis, consultórios, restaurantes, mercadinhos, assassinatos, agressões. Muitos estabelecimentos pensando em fechar de vez. Detemos o inglório título, segundo dados do Ministério da Justiça, de capital mais violenta do violento Brasil - 107,1 assassinatos por 100 mil habitantes, 25% acima da segunda colocada, nossa vizinha Recife. E sabemos que só parte de todas as ocorrências chegam aos noticiários, chegam às delegacias. Pouquíssimas são investigadas e solucionadas. Nas rodas de amigos, casos escabrosos são temas. E quem não viveu um para contar?

 O pior deste sentimento são os índices crescentes. A constatação que o futuro é ainda mais negro. Sabemos que só policiais nas ruas não resolve a questão, como muitos ditam soluções. Precisamos de ações estratégicas, de recursos pontuais, vontade política e um choque de disciplina e de gestão que acabe com o sentimento de impunidade que paira na atmosfera brasileira. Mais que falta de recursos, existe no sistema público tupiniquim, um problema ainda maior: o da alocação produtiva desses recursos e da gestão eficiente das ações públicas. Precisamos definir bem a fronteira entre o certo e o errado, e entender que a corrupção é a mãe de todos os males. E a corrupção que corrompe mais a nossa sociedade, não é só aquela da merenda escolar, ou da verba para a campanha que indigna o cidadão quando parte dos políticos. A corrupção está endêmica, na falta de disciplina em nossas escolas, na distorção de valores no convívio familiar, na ética que regula as relações humanas. Sugiro aos leitores que até aqui chegaram que visitem a “Teoria das Janelas Quebradas”, trabalho que motivou o programa Tolerância Zero, hoje tão fácil de acessar pelos buscadores desta nossa fantástica Internet – entenderemos um pouco mais de nosso martírio.

Ouvimos que o problema é nacional. Concordo e não me conformo. Existe um ufanismo do crescimento econômico, e louva-se o “ex-pobre” hoje com geladeira e podendo comprar sua TV de LCD em 48 meses. Mas… e como está a qualidade de vida? No carrinho financiado em 60 meses ele anda mais tranquilo que no transporte público, que já não era bom, de 20 anos atrás? Confundimos crescimento com desenvolvimento. E esquecemos que a função primordial do Estado é proporcionar o bem comum.
Quanto a nossa cidade, e ao Estado de Alagoas, urgem ações para que a terra dos marechais” não se torne “a terra dos marginais”. 

sábado, 4 de junho de 2011

Paquistão invadido mais uma vez

O país tem fronteiras muito bem definidas

Novamente os EUA declaram que não respeitam fronteira de ninguém quando está em jogo a tal da segurança nacional deles. No 1º de maio, invadiram o Paquistão e mataram o Osama bin Laden. O mundo não deu muita atenção ao detalhe de que tropas americanas desembarcaram em território paquistanês sem autorização do seu governo. Mas tinha uma “justificativa”: a vítima era um terrorista responsável pelo ataque às Torres Gêmeas, no fatídico 11 de setembro de 2001. Maquiavel ressuscitado para relacionar os fins com os meios.

Hoje, sábado 4 de junho, novamente “as forças do bem” anunciam que atacaram a vila de Laman, no Waziristão do Sul, também no Paquistão, e mataram um alto oficial da Al-Qaeda. Os próprios paquistaneses confirmaram que Ilyas Kashmiri foi morto após o ataque comandado pelos EUA.

Ilyas Kashmiri liderava um grupo de ativistas ligados a Harkatul Jihan al-Islami, uma organização política paquistanesa, e havia a suspeita de que  também fazia parte da cúpula da Al-Qaeda. A casa onde ele estava foi atingida por dois mísseis disparados por aeronaves dirigidas por controle remoto.

No meio das especulações sobre o papel e as ações que Kashmiri executava na organização, salta aos olhos que a mídia, mais uma vez, esquece de perguntar se o Paquistão é um país soberano ou um campo de treinamento de tiro das forças americanas. Qual o papel da ONU nessas questões?

O Estadão.com, por exemplo, nem toca no assunto. Se o cidadão era paquistanês, ligado a Al-Qaeda e ameaçava os EUA, fogo nele. Esse negócio de país e fronteira vai ficando para trás quando o assunto é a segurança do Grande Irmão do Norte. Não cabe, aqui, discutir se as ações de Kashmiri ou de qualquer outro ativista político extremado está certa ou não. Qualquer que seja a resposta, não vai justificar a invasão de um país pelos EUA. Se o Paquistão abriga e protege terroristas, o caso deve ser levado para as instâncias internacionais que regulam as relações entre os países.

No primeiro momento, parece que esse problema não diz respeito a nós, brasileiros. Afinal, não temos nenhum Osama bin Laaden ameaçando o mundo. Mas temos água e uma imensa riqueza natural que desperta a cobiça dos que querem um “mundo sem fronteiras”. Mas qual seria o argumento utilizado para atacar o Brasil? Só por termos riquezas? Pergunte aos afegãos e aos iraquianos se a desculpa dada para invadi-los tinha fundamento. O objetivo era o petróleo e valia a pena inventar qualquer coisa.

Só espero que não nos invadam a pretexto de concluir as obras para a Copa do Mundo de 2014. Seria desmoralizante, mas não duvido que teriam, no mínimo, o apoio do Ricardo Teixeira (CBF) e da Globo.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nota de apoyo a la República Bolivariana de Venezuela

El Grupo de Trabajo del Foro de São Paulo manifiesta su solidaridad con la República Bolivariana de Venezuela frente a las sanciones que el Departamento de Estado de los Estados Unidos de Norteamérica anunció contra la industria petrolera venezolana, el pasado 24 de mayo de 2011, en lo que consideramos un acto de hostilidad y de agresión unilateral del gobierno norteamericano contra Venezuela.

La imposición de sanciones por mantener una política exterior soberana representa una intromisión en los asuntos de la República Bolivariana de Venezuela y una amenaza directa a la estabilidad e integridad política y económica del país suramericano.

El Grupo de Trabajo del Foro de São Paulo hace un llamado a todos los movimientos sociales, partidos políticos y personalidades que hacen vida en el Foro a solidarizarse con el pueblo venezolano y exigir al gobierno de los Estados Unidos de Norteamérica detener la agresión a la República Bolivariana de Venezuela, respetar su soberanía y la determinación de ser libres e independientes que tienen los venezolanos y las venezolanas. Así mismo, expresamos respaldo al gobierno del presidente Hugo Chávez Frías en su lucha por mantener a Venezuela como una nación libre y soberana.


Grupo de Trabajo
Foro de São Paulo

1er. de julio de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Nota da Branskem deixa dúvidas

Não entendi essa nota da Braskem. Ela continua deixando dúvidas sobre o acidente. Vejamos:

1 - Ela diz que "No primeiro acidente houve o rompimento da parte inferior de um equipamento, conhecido por pré-resfriador, com subsequente vazamento de cloro".

2 - Continua explicando e afirma que "No segundo acidente, com a planta fora de operação e o cloro já removido de seu interior, ocorreu o rompimento do bocal inferior de outro equipamento, chamado de inter-resfriador, com desprendimento de fragmentos metálicos. Neste evento não houve vazamento de cloro".

3 - E diz mais: "Ambas as ocorrências foram consequência de um aumento atípico na concentração da tricloroamina – TCA, subproduto gerado no processo. A TCA é resultante da reação da amônia contida no sal com o cloro e é monitorada e eliminada de forma contínua ao longo do processo produtivo.
O primeiro evento ocorreu pela decomposição da TCA em quantidade inesperada, simultaneamente a outros dois fatores: condição de temperatura e operação em modo de degradação parcial dessa substância. No segundo evento, a existência de TCA no bocal inferior foi responsável pela sua ruptura".

4 - A dúvida é: como pode ter havido " um aumento atípico na concentração da tricloroamina – TCA", se "a planta (estava) fora de operação e o cloro já removido de seu interior". O pior é que se deduz que houve uma explosão "com desprendimento de fragmentos metálicos".

O assunto é muito sério e precisa ser tratado com toda transparência. Se é possível explicar, que se faça de forma a não pairar dúvidas.