quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Natal e a solidariedade

Fagner, Chico Buarque, Zé Ramalho e João do Vale

Uma das maiores virtudes humanas é a solidariedade. Essa capacidade de se preocupar com os destinos dos outros, que infelizmente anda tão esquecida em tempos de egoísmos estimulados pela competição de mercado.

É bom não confundir solidariedade com piedade, um sentimento mais associado à compaixão, e que deixa sempre o piedoso como superior. O ser solidário não olha com pena para os que sofrem: ele se propõe a ajudar, sem vincular esse gesto a um reconhecimento ou agradecimento. A solidariedade está mais próxima a uma mistura de indignação com a situação e de respeito por outro ser humano, por um igual que sofre.

O Natal, momento propício para reflexões, me estimula a pensar sobre a solidariedade e me faz lembrar de uma música que sempre que ouço, aviva a importância desse sentimento.

Refiro-me a Minha história de João do Vale e Raimundo Evangelista. Do Evangelista não sei muito, mas o João do Vale já tem o seu nome inscrito entre os grandes da música brasileira.

Nasceu em Pedreiras em 1934, no Maranhão. Com 13 anos  já estava em São Luís fazendo os primeiros versos em um grupo de bumba-meu-boi. Foi para o sul do país e trabalhou como ajudante de caminhão, mineiro e pedreiro.

Mesmo sem saber escrever, mas com as suas músicas decoradas, ia para as rádios procurando quem se interessasse por elas. Em 1950, um irmão de Luiz Gonzaga gravou a sua primeira música, o que lhe abriu as portas para o reconhecimento público.

Para quem não conhece, essa é a letra de Minha história. Para mim, uma bela homenagem à solidariedade. É com ela que desejo para os amigos e amigas um Natal de solidariedade e um Ano Novo com conquistas que nos aproximem de um mundo mais justo e melhor.

Seu moço, quer saber, eu vou cantar num baião
Minha história pra o senhor, seu moço, preste atenção

Eu vendia pirulito, arroz doce, mungunzá
Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar

E quando era de noitinha, a meninada ia brincar
Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar:
- O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar
- O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar

Hoje todo são "doutô", eu continuo João Ninguém
Mas quem nasce pra pataca, nunca pode ser vintém
Ver meus amigos "doutô", basta pra me sentir bem
Ver meus amigos "doutô", basta pra me sentir bem

Mas todos eles quando ouvem, um baiãozinho que eu fiz,
Ficam tudo satisfeito, batem palmas e pedem bis
E dizem: - João foi meu colega, como eu me sinto feliz
E dizem: - João foi meu colega, como eu me sinto feliz

Mas o negócio não é bem eu, é Mané, Pedro e Romão,
Que também foram meus colegas, e continuam no sertão
Não puderam estudar, e nem sabem fazer baião

Se quiser ouvir, clique aqui.

Um comentário:

Almino Lima disse...

Grande João do Vale! o desejo dele é também o meu - Educação e Arte para todos neste País.