Edberto Ticianeli
Ameaça de arrastão fechou o Centro de Maceió Foto: Gilca Cinara |
Se vivemos uma situação extraordinária na segurança pública, não há como não reconhecer que as soluções terão que ser extraordinárias também. As experiências no Rio de Janeiro têm mostrado que nas regiões sob o domínio do crime organizado não basta fazer uma ronda policial de vez em quando. É preciso ocupar, como numa guerra tradicional.
É aí que a porca torce o rabo. Para esse tipo de ação se exige um grande e caro efetivo policial, além de ações sociais que os governantes nem sempre estão dispostos a realizar. Principalmente os que defendem um estado mínimo, com poucos servidores públicos e muitos serviços terceirizados.
Como essa solução não está sendo aventada, vamos ficando com a brincadeirinha do cobertor curto. Quando acontece uma ação mais ousada da bandidagem, a segurança pública responde concentrando temporariamente seus poucos policiais para atender o clamor público, deixando descobertas outras áreas.
Uma breve retrospectiva dos episódios de violência em Maceió comprova isso. Em julho deste ano, uma onda de assaltos a residências, bares e restaurantes na parte baixa da cidade, levou a polícia a criar o Projeto Ronda Cidadã. Em outubro, como os assaltos passaram a acontecer em outras regiões, o projeto foi ampliado para mais sete bairros da capital. Assim, Serraria, Gruta de Lourdes, Pinheiro, Farol, Pitanguinha, Pajuçara e Jaraguá também passaram a receber policiamento especial.
Ainda em julho, após o brutal assassinato e esquartejamento de uma dona de casa, o Conjunto Carminha recebeu, por pouco tempo, reforço policial. Em novembro, foi a vez do Conjunto Village Campestre ganhar atenção da polícia, após a implantação do toque de recolher por parte dos traficantes.
Na Pitanguinha, ainda em novembro, os traficantes determinaram o fechamento de uma escola e do posto de saúde, e impediram que a Câmara de Maceió realizasse uma sessão pública no Conjunto Denissom Menezes. Eles roubaram a estrutura que estava sendo montada e assaltaram os funcionários da empresa responsável pelo evento. E lá foi a polícia para o Denissom Menezes.
Já em dezembro, o comércio do Jacintinho também recebeu o aviso que seria saqueado, e três ônibus foram queimados na periferia da cidade. E novembro, um ônibus já tinha sido incendiado em Maceió. A polícia foi para o Jacintinho e passou a acompanhar alguns ônibus.
Agora foi a vez do Centro de Maceió, mercado público e os shoppings serem ameaçado por arrastões. Qual a reação da polícia? Reuniu com os empresários e garantiu que o aparato policial está mobilizado para garantir a segurança nessas áreas. E como ficam as outras regiões? É um jogo de revezamento.
Na verdade, não há em Alagoas política pública para se enfrentar o crime organizado. Basta ver o que foi colocado para o setor no orçamento de 2012. A confusão é tal que o governador e o secretário de defesa social andam batendo cabeças: Teo Vilela diz que o PCC pode estar atuando em Alagoas, enquanto que o seu secretário, Dário Cesar, afirmava que em Alagoas não existe mercado para essas quadrilhas.
Infelizmente, fora as ações emergenciais, não há nada de mais consistente no horizonte que dê esperanças aos alagoanos. A violência, como se apresenta em nosso estado, exige decisões políticas e investimentos que o atual governo não está disposto a realizar. Enquanto isso não mudar, vamos ter que nos arriscar na nossa guerra de cada dia.
2 comentários:
Maceió está sendo vítima dela mesmo, das pessoas e suas escolhas, e também considero impossível que esta cidade seja sede de tamanho evento chamado arrastão. É necessário estrutura, e no entanto não temos estrutura de absolutamente NADA!
O problema é que a violência é institucional. Quando o povo resolver fazer uma limpa nas prefeituras, assembleia e câmaras de vereadores, a coisa muda um bocado. Num lugar onde oficial dos bombeiros desvia doações, é difícil não se perder as esperanças.
Postar um comentário