quarta-feira, 13 de julho de 2011

O abandono das praças centrais de Maceió: um resgate fotográfico

Edberto Ticianeli

As praças de Maceió já foram locais aprazíveis de reuniões e encontros. Durante o dia era palco para os negócios e a política, e à noite, o domínio era da convivência social. Nada disso mais acontece nas nossas praças. É verdade que no período noturno nem as ruas são mais seguras. Mas, isso não justifica a situação de abandono da maioria delas.

Como define a engenheira florestal Alessandra Teixeira Silva, “As praças são unidades urbanísticas fundamentais para a vida urbana e o seu modo de tratamento e uso indicam o nível de civilidade de seus usuários e o exercício dos direitos e deveres de cidadania nela vivenciados”.

Conclusão: pelas nossas praças, vivemos na barbárie. A que mais chama a atenção é a Praça Sinimbu. Cercada de importantes equipamentos urbanos, principalmente os culturais (Espaço Cultural da UFAL, Casa Jorge de Lima e Museu Theo Brandão), foi lentamente transformada em acampamento permanente dos Sem Terra, da feira de carros usados e, ultimamente, de barracas de artesanato. Sempre adornada por matagais e lixo.

Mas nem sempre foi assim. Antes do prédio construído pela UFAL, quem dominava a arquitetura local eram os prédios da extinta Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil e do Liceu de Artes e Ofícios. O coreto e seus jardins iluminados eram atrações para todos.

Praça Sinimbu na década de 20



















A Praça Deodoro também já teve seus dias de glória. Cercada por prédios históricos, era o principal ponto de encontro das famílias de Maceió. Ainda na década de 60, podia-se ver os casais circularem a praça de braços dados, antes de tomarem um sorvete na Gut-Gut.  

Praça Deodoro na década de 1950



















O quase já esquecido Parque Rodolfo Lins, na Levada, foi reduzido a um terminal de ônibus que teima em ser chamado de Praça do Pirulito. A sua parte mais larga foi transformada, nos anos 60, na Feira dos Camelôs. Antes disso, a praça fazia parte de uma das mais importantes áreas da cidade, por sua importância econômica. Ficava próxima ao Porto da Levada, na Lagoa Mundaú, que também funcionava como aeroporto (hidroaviões), e era o ponto de entrada e saída de todo o comércio com a Grande Maceió lacustre.

O Parque Rodolfo Lins era cercado por bons restaurantes e por um cinema. Também abrigava as festas natalinas e os grandes comícios políticos da cidade. Hoje, só tem seu nome lembrado quando se discute a interminável novela do VLT (Veículo Leve sobre Trilho).

Parque Rodolfo Lins nos anos 40, ainda com o Restaurante Gracy




















A Praça dos Martírios, mesmo tendo o privilégio de conviver com a segurança do palácio que até recentemente foi sede do governo estadual, também hospeda, durante a noite, várias famílias dos chamados Sem Teto.  Sua arquitetura sofreu muitas alterações, mas sempre mantendo a sua fonte luminosa, que não funciona há muito tempo.

Praça dos Martírios nos anos 50, ainda sem a fonte luminosa

















Outras praças centrais da cidade, como a Rosa da Fonseca e a da Cadeia, deram lugar a novos equipamentos. A primeira foi incorporada ao Bar do Chopp e a segunda divide um estacionamento com barracas de camelôs.

Praça Dona Rosa da Fonseca em 1921, antes de ser engolida pelo Bar do Chopp














Praça da Cadeia em 1960, com sua quadra de esportes e a cadeia


















A Praça do Montepio dos Artistas, antiga Bráulio Cavalcante, foi reduzida a um banheiro público e ao comércio de lanches. A Praça Zumbi dos Palmares, que hoje não passa de um amontoado de barracas, já foi conhecida como a Boca da Cidade e dividia o cartão postal de Maceió com o Hotel Bela Vista.

Praça do Montepio nos anos 50















Praça dos Palmares nos anos 50, ainda com o Hotel Bela Vista


















Por último, a Praça Dom Pedro II, que guarda um dos mais ricos sítios arquitetônicos da capital, também cede seus espaços para o estacionamento da Assembleia Legislativa, barracas e grades que isolam o poder do povo. Mas, em outras épocas, acreditem, já recebeu um tratamento de praça.

Praça D. Pedro II nos anos 50

















Mesmo que as fotos nos remetam a momentos nostálgicos, temos que lembrar que a Maceió de antigamente, ficou no antigamente. A questão que se coloca é: que tipo de praça deve ter a Maceió dos nossos dias. Não tenho respostas, mas o que não pode acontecer é a naturalização do abandono. 

4 comentários:

DAMINISMO disse...

Muito bom, parabéns pela idéia!

Sissi Lessa disse...

Ótimo, parabéns, sem palavras.

Anônimo disse...

O povo está abandonado, quem dirá às praças.

ZaZo disse...

Que postagem fantástica Ticianele! Parabéns, ótimo trabalho!