sábado, 30 de julho de 2011

Uma história do Pescoço

 Pescoço, Antonio Moreira, Nilson Miranda (de costa) e José Reis
Para o garçom Pescoço, do extinto Restaurante Gracy, um dos fregueses mais chatos era um empresário bem sucedido e arrogante. Quando queria ser atendido, sentava nas mesas centrais e cometia a heresia de tratar Pescoço como garçom, como se fosse um desconhecido. Pescoço gostava da intimidade, que lhe permitia fazer o tipo rude que o tornara famoso.

O dito empresário entrou em falência dos seus negócios e sumiu por uns tempos. Anos depois, voltou ao comércio, mas agora como pequeno empreendedor. Certa noite ele chegou ao Gracy e procurou a mesa mais escondida, sentou e quando Pescoço se aproximou, ele humildemente disse:

- Pescoço, arranja pra mim uma macarronada simples e me ajude com um pãozinho.

Para quem não conheceu o Gracy, a macarronada simples era a mais barata e o prato se reduzia ao macarrão com molho, a famosa “coitadinha”. Quanto ao pão, que era cobrado por fora, dependia do garçom fazer a gentileza de trazer um pedaço sem cobrar. A pior parte do pão eram os cotovelos, que normalmente eram jogados fora por serem duros.
Parque Rodolfo Lins e o Gracy nos anos 40

Pescoço, percebendo que o antigo freguês estava passando por momentos de fragilidade financeira, resolveu se vingar da sua arrogância, que no passado tanto o humilhara. Sem se afastar da mesa, gritou para o balcão e para o resto do Gracy:

- Salta uma “coitadinha” e duas cutuvas para o cidadão aqui, que ele está a perigo.

Nesse dia, teve gente que jurou ver um ar de riso no rosto do Pescoço.

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