quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Corno sob a Teoria do Domínio do Fato


EdbertoTicianeli

As expressões famosas sobre os brasileiros foram enriquecidas com mais uma criação da sabedoria popular.

Depois de ter Deus como compatriota e ser considerado como o melhor técnico de futebol do mundo, o brasileiro agora também é tratado como jurista. Um avanço enorme para nós, já que esta é uma área do saber que exige muito estudo.

Mas, como não se estuda muito neste país, o curso foi intensivo e a distância, pela televisão. A metodologia utilizada foi um estudo de caso: o Mensalão - opa, falha nossa, jurista popular não fala assim –, o correto é Ação Penal 470.

A partir de agora vai ser comum encontrar em mesa de bar vários juristas a discutirem a Teoria do Domínio do Fato, aquela que permite punir sem provas.

Imagine o debate no Bar do Roberto Ladrão, no Poço.

- Zé Dirceu mereceu ser punido. Ele foi o chefe do Mensalão – argumenta o jurista atacante.

- Mas não tem nenhuma prova contra ele – responde o jurista zagueiro.

- E precisa? Agora o que vale é a Teoria do Domínio do Fato: se parece que é, então é.

- Se for assim eu posso afirmar que você é corno.

- Você está me desrespeitando. Se você não provar o que diz, vai pagar caro por isso.

- Eu não preciso provar nada: você é corno sob a luz da tal Teoria do Domínio do Fato que você mesmo defendeu.

- Como assim?

- Data máxima vênia, me responda: onde está sua mulher agora?

- Não sei. Deve ter ido para o dentista ou fazer compras no shopping.

- Se você não sabe onde anda a sua mulher, posso concluir que você está pedindo para levar galha, o que caracteriza uma intencionalidade. Isso me permite dizer que você é corno sem que eu tenha que provar nada.

- Eu não concordo com isso.

- Então recorra ao Supremo, cormo amigo.

Um comentário:

Antônio Manoel Góes disse...

Genial, douto e conspícuo Ticianeli! Ilações 'galhógicas' passam doravante, 'lato sensu', malgrado supostamente 'meias-verdades', a sugerir a realidade dos fatos, explicitada em eventuais protuberâncias frontais no crânio do 'de cujus'. Alea jacta est!