Jorge Vieira – Jornalista
“Morte do homem porque a fé se apagou, o amor esfriou, a esperança desabou, a fidelidade desertou. Morte do homem porque o individualismo dilacerou a solidariedade, o rancor apunhalou a fraternidade, a injustiça sepultou a igualdade. (Mikel Dufrenne).
Muito se ouve e se assiste sobre a crise na velha Europa, mas poucas são as análises que tratam realmente em profundidade da verdadeira raiz do problema e, menos ainda, de suas conseqüências em nível interno e externamente. É frente a esta realidade, que o presente artigo procura alguns prolegômenos que sinalizem para o entendimento da sua atual turbulência.
Nos últimos cinco séculos, seja em razão das navegações e posterior colonização, o continente europeu tornou-se uma referência para a humanidade na produção filosófica, no conhecimento científico e tecnológico. Por muito tempo, como resultado do expansionismo, foi assumido como verdade única, ou seja, modelo de desenvolvimento social, político, econômico, religioso, filosófico e científico.
As razões não faltam para isso, tanto positivas quanto negativamente. Essas nações viram emergir pensadores e tecnologias importantes para humanidade. Como ignorar o pensamento do grego Sócrates; a Alemanha de Hegel, Kant e Marx; a Itália de São Francisco de Assis e de Gramsci; a França de Descartes, de Rousseau (a região de Rhone-Alpes está celebrando 300 anos de seu nascimento, com a realização de várias atividades), Lévi-Strauss, Gruzinski, entre tantos outros. Dentre outras, pode-se destacar a famosa Revolução Francesa e a Revolução Russa, respectivamente em 1789 e 1917.
Estas sociedades alcançaram níveis de desenvolvimento tecnológicos invejáveis, como também as suas respectivas populações, a exemplo da assistência à educação e à saúde, moradia, transporte coletivo e no bem estar social. Há 30 anos, o proletariado da chamada Europa Ocidental era o sonho do trabalhador dos países periféricos.
Então, nesse contexto, o que aconteceu e o que mudou para a Europa se encontrar envolvida nesta profunda crise? Tomando partido na reflexão, ocorreu que o modelo de sociedade desenvolvido internamente e implantado no resto mundo se esgotou! A exploração das riquezas naturais e humanas conseguia a dependência e a acumulação de riqueza dos países detentores de tecnologias, garantindo consequentemente o domínio político e econômico.
A globalização tecnológica traz a sua ambigüidade: tanto gera a dependência, quanto abre possibilidades. A França, por exemplo, consome significativamente produtos de origem espanhola e chinesa. Com o esgotamento do domínio, observa-se uma população acomodada, apática e sem perspectiva. A juventude não se movimenta em defesa de mudanças. Aliás, será que ela acredita em alguma coisa? Mudar o que e para quem?
No caso da França, em geral, a sociedade envelheceu! Nas igrejas, a faixa etária gira em torno do 70 anos. Bem, aquelas que ainda não viraram museu, que ainda é frequentada por esses abnegados católicos. Refiro-me a essa denominação por que foi a historicamente hegemônica. Quanto às outras, são grupos que permanecem minoritários.
Nas Universidades, parte significativa dos estudantes é composta de estrangeiros. Os restaurantes universitários parecem mais a Torre de Babel, onde se fala o português do Brasil e de Portugal; o chinês e japonês; as línguas africanas; espanholas; árabes; e também o francês, entre muitas outras.
A crise econômica pode ser a ponta do iciberg de uma problemática bem mais profunda.
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