domingo, 29 de janeiro de 2012

Cabra macho da peste

Cleto Falcão (Do livro Missão Secreta em Igaci, de 1984).
Ato de fundação do PMDB em Alagoas, no Teatro Deodoro, 1980.
Foto de Adailson Calheiros.

Miguel Arraes havia retornado do exílio. A repressão ainda não havia "digerido" a anistia, muito menos a presença de Arraes no Brasil. Teotônio levou Arraes a um restaurante em São Paulo a fim de apresentá-lo a alguns companheiros do futuro PMDB, a frente política que estava nascendo. Com mais de vinte pessoas na mesa, Teotônio sentou-se ao lado de Arraes. No meio do jantar, entram bruscamente no restaurante quatro homens de capa, ostensivamente armados. Dirigem-se a Miguel Arraes.

— O senhor queira fazer o favor de nos acompanhar.

— Quem são os senhores? — perguntou Arraes.

— Somos da policia e precisamos investigar uma denuncia contra o senhor. Por favor, nos acompanhe.

Miguel Arraes já fazia menção de acompanhá-los quando Teotônio interveio.

— Um momento. Os senhores trazem alguma ordem legal de prisão?

— Não. Isso não e uma prisão, é um convite.

Teotônio enfureceu-se.

— Tenham respeito a um ex-governador. Os senhores estão pensando o que? Eu sou um Senador da Republica e exijo ser respeitado. Se isso e um convite, o Governador rejeita, por que não gosta da companhia de repressores. De qual policia vocês são?

— Somos do DOPS.

Teotônio levantou-se. Instruiu Miguel Arraes para ficar ali mesmo. Foi até um telefone, (eram duas horas da madrugada) e acordou Romeu Tuma, delegado do DOPS em São Paulo. Tuma negou que os homens fossem do DOPS. Fez uma rápida checagem nos órgãos policiais e concluiu que os homens eram ex-integrantes do Doi-Codi.
Voltou até a mesa.

— Eu já sei quem são os senhores e também sei o que os senhores querem. Os senhores são torturadores do Doi-Codi inconformados com a anistia. Estão querendo fazer terror com o governador Miguel Arraes. Pois saibam vocês que só levam o governador se for na marra. E eu também vou junto. Se vocês nos matarem, agüentem as conseqüências de terem assassinado um ex-governador e um Senador da República. E se não nos matarem, amanha vou direto ao Ministro da Justiça denunciá-los um por um.

Um dos homens fez menção de pegar na arma. Teotônio dirigiu-se a ele.

— Eu sou de Alagoas. Você tá pensando que eu tenho medo disso?

A essa altura o restaurante já estava lotado de políticos e amigos de Miguel Arraes e Teotônio. Sentindo a pressão, os homens encaminharam-se ao elevador. Teotônio, bruscamente, entrou no elevador com eles. Pela janela Arraes viu um carro estacionado lá embaixo na porta do restaurante. Desceu todo mundo correndo pelas escadas — estavam no segundo andar — temendo uma violência física contra Teotônio. Embaixo já encontraram Teotônio fazendo um comício:

— Quem é o chefe? Eu quero falar com o chefe de vocês. Quem é o vagabundo que esta comandando esse terrorismo?

Assustados os homens entraram rapidamente no carro e saíram em disparada.

Quem me contou essa historia não foi Teotônio. Foi Miguel Arraes.

Um comentário:

Allves Del Valle disse...

Bravo!!! Aplausos...
Viva a Anistia e a bravura do Sen. Teotônio Vilella, o Menestrel da Alagoas, O Homem da Paz...