domingo, 14 de dezembro de 2008

A crise impressa

Publicado em Carta Capital

Eduardo Graça, de Nova York
12/12/2008

Para onde vai a imprensa escrita norte-americana? Enquanto os canais de tevê de notícias 24 horas celebram espetaculares índices de audiência desde o início da prolongada campanha presidencial e a internet se revelou fundamental ao fenômeno Barack Obama, jornais e revistas seguem perdendo leitores. A Tribune Company, que publica dois dos mais importantes títulos do país, o Los Angeles Times e o Chicago Tribune, entrou com um pedido de falência e o New York Times anunciou que vai hipotecar seu edifício-sede, um belo prédio de 52 andares projetado pelo arquiteto italiano Renzo Piano, inaugurado com pompa no ano passado. A melhor ilustração para entender a que ponto chegou a indústria jornalística dos EUA talvez seja a já famosa reunião do bilionário Samuel Zell com a equipe do Orlando Sentinel no início do ano. Magnata do mercado imobiliário, Zell arrematou o já combalido conglomerado de jornais Tribune por 8,5 bilhões de dólares. Em seu primeiro encontro com os editores do jornal da Flórida, foi direto: “Estava cá pensando como poderia descrever meu trabalho para vocês. Creio que, grosso modo, meu desafio é levantar uma instituição de 126 anos, não? Pois bem, pensem em mim como um Viagra”. Tempos depois, em reunião com a equipe do Los Angeles Times, o mesmo Zell teria garantido “não ter vindo para ser o capitão do Titanic”. As infelizes metáforas de Zell, que se transformaram em anedotas em capítulo infeliz de uma das mais ricas tradições jornalísticas do país, não pararam nos domínios do Tribune. Em entrevista à NPR, a corporação pública de rádio dos EUA, o editor-executivo do jornal mais influente do país, Bill Keller, disse na terça-feira que, se tivesse de escolher uma manchete para definir a atual situação do seu The New York Times, esta seria “Nós sobreviveremos”, em caixa altíssima. Ironicamente, a mesma NPR, apesar de manter uma audiência sólida de 26,4 milhões de ouvintes por mês, anunciaria dois dias depois o corte de 7% de sua força de trabalho e o cancelamento de dois programas, o Day to Day, com audiência de 2 milhões de ouvintes, e o News & Notes, voltado para a comunidade negra. A revista Newsweek, uma das mais influentes semanais e parte do grupo The Washington Post, também estaria, de acordo com o Wall Street Journal, preparando uma “remodelação”, diminuindo de formato, e aumentando o espaço para fotos e opinião, reduzindo as mais custosas reportagens. A revista cortaria entre 500 mil e 1 milhão dos 2,6 milhões de exemplares semanais. Analistas afirmam que a Newsweek seria a primeira revista de notícias norte-americana a seguir a receita da britânica The Economist, transformando-se em um fórum de discussão, deixando grandes reportagens e denúncias em segundo plano. Neste ano, as duas principais revistas semanais do país, a Time e a Newsweek, perderam, respectivamente, 17% e 21% em anúncios em relação ao ano passado.

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