Barack Obama
comandou a fila dos hipócritas
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Não há como
não lembrar a música do Gilberto Gil, Não Chore Mais (No Woman, No Cry), quando
se vê as imagens da cerimônia que homenageou o falecido líder sul-africano
Nelson Mandela.
“Bem que eu
me lembro / Da gente sentado ali / Na grama do aterro, sob o sol /
Ob-observando hipócritas / Disfarçados, rondando ao redor”.
Com o
estádio Soccer City de Johannesburgo lotado e com a presença de 60 chefes de
Estados, a cerimônia inaugurou o memorial em homenagem a Mandela, um comunista
que foi brutalmente perseguido e que passou a maior parte da sua vida na
prisão.
O primeiro time
de hipócritas era chefiado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Foi um dos seus governantes, Ronald Reagan, nos anos 80, quem colocou Mandela
na relação dos terroristas.
Essa
inclusão agrediu Mandela até 2008. Quando tinha viajar para as reuniões da ONU,
nos Estados Unidos, era obrigado a solicitar ao governo de Washington uma
liberação especial.
Foi também
de Reagan, em 1981, a infeliz frase que avaliava como “essencial para o mundo
livre” o apartheid imposto pelo regime sul-africano.
Dick Cheney,
em 1985, que era congressista antes de ser o vice de George Bush, impediu que
fosse aprovada uma moção pela libertação de Mandela. Depois, em 2004, ele
explicou o seu voto dizendo que Mandela “tinha uma dedicação de longa data ao
comunismo e a saudar terroristas”.
O
envolvimento dos Estados Unidos com o regime do apartheid não foi de simples
apoio. O jornal The New York Times denunciou, em 1990, que CIA ajudou o governo
sul-africano a prender Mandela em 1962.
Na fila dos
hipócritas, os britânicos também merecem destaque. Estavam presentes o
primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, e três ex-primeiros-ministros
britânicos: Tony Blair, Gordon Brown, e John Major.
Margaret
Thatcher, a falecida ex-primeira-ministra, considerava, em 1987, que o
Congresso Nacional Africano — partido de Mandela — era “uma típica organização
terrorista”. E profetizava: “Qualquer um que pense que ele vá governar a África
do Sul está vivendo na terra do faz de contas”. Quebrou a cara.
Dois
congressistas britânicos, Terry Dicks e Teddy Taylor, não poupavam agressões a
Mandela. O primeiro se referia ao líder sul-africano como um “terrorista
negro”, e o segundo dizia: “Nelson Mandela deveria ser baleado”.
Na fila dos
hipócritas, destaca-se, ainda, os governantes de Israel, que foi parceiro ativo
do regime segregacionista sul-africano, e o último a saltar do barco no apoio à
minoria branca. Na maior cara de pau, lamentam a morte de Mandela,
considerando-o um “apaixonado defensor da democracia”. O “mundo perdeu um
grande líder que mudou o curso da história”, completam.
No lugar de
tanta hipocrisia, talvez fosse o momento de se ouvir destes chefes de Estados
um pedido público de desculpas a Nelson Mandela, e ao resto do mundo.
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