Mácleim Carneiro |
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
Assim, versos de Arriete Vilela, Lêdo Ivo, Jorge de Lima, José Geraldo, Edvaldo Damião, Jorge Cooper, Gonzaga Leão, Maurício de Macedo, Sidney Wanderley, Diógenes Junior, Otávio Cabral, Ronaldo de Andrade e Paulo Renault ganharam música.
Sem se prender a estilos, fluindo livremente por gêneros tão díspares quanto brasileiríssimos, voz adequada para entoá-los, Mácleim sacou a levada ideal para sonorizar a musicalidade preexistente em cada verso. Assim, não há acorde que não rime com palavra, não há ritmo que não fortaleça o encadeamento da poesia, nem harmonia que não acrescente ainda mais luz às ideias poéticas.
Além de dois arranjos para madeiras, escritos por Edu Morelembaum, todos os outros são do próprio Mácleim e do pianista Jiuliano Gomes, que privilegiam naipes de sopros e de cordas, enquanto a percussão se esbalda, os samples são coadjuvantes de luxo, e o violão e o piano cumprem papel de delicada firmeza.
Quem ama desama/ Toda vez que ama/ E converte o gelo/ Em túrgida chama (Lêdo Ivo), é música com pegada pop e direito a teclado e guitarra.
Na bebida vejo tua figura/ Que passeia pelo copo/ Eu prometi congelar sua imagem/ Até me apoderar de você (Edvaldo Damião). Após introdução de piano e baixo acústico, versos são expostos delicadamente.
Sob os auspícios de percussão e naipe de sopros, destaque para o clarone baixo, o samba chama e Mácleim e Wilma Araujo cantam: No lugar em que nasci corvo rareia/ e abundam urubus e sabiás/ Iludido pelo canto das sereias/ Que, aliás, inexistem no lugar (Sidney Wanderley).
As cordas do Quarteto Pau Brasil criam o clima. O piano vem junto. Junior Almeida canta com Mácleim: Já não sei como grito:/ Se através das palavras/ Ou dos meus olhos aflitos (Diógenes Junior).
No requinte dos violões de Mácleim e Fernando Melo (do Duofel), as palavras ganham brilho e dramaticidade (um dos grandes momentos!): Tanto tempo o pai cansou/ – Minha vida já é vício/ Disse assim sem sacrifício/ Já querendo o armistício/ Sem mostrar qualquer indício/ o pai cansou/ Vestindo capa de gelo/ Fechou os olhos calou-se/ Não fossem braços cruzados/ Nem me daria por conta (Otávio Cabral).
Ah, esses poetas, tantos... Palavras ditas, aflitas... Rimas em redondilhas, sextilhas, súbitas... Música apalavrada, misturada à alma e ao sonhar... Voz que canta, recita, alimenta, propaga belezas...
O CD Esses poetas tem sólidos argumentos musicais (viva Mácleim!) para fazer a cabeça dos que descrêem da existência de boa música fora do sudeste, e além da que se vê e ouve na TV e nas rádios. Ora, existem dezenas de Mácleims espalhados pelo Brasil – pena que nem todos consigam ouvi-los.
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