quarta-feira, 7 de março de 2012

Longe vá, temor servil

Edberto Ticianeli
Igreja de São José do Poxim.

Uma das características mais odiosas dos governos monárquicos é a sacralidade do poder. O rei parece governar em nome de Deus, o que o aproxima muito das funções papais. O Brasil viveu longo tempo sob estes valores. Com olhares atuais, as relações de então entre os súditos e a monarquia brasileira parecem ridículas.

A correspondência abaixo é testemunho disto. Ela é do início de 1823 e é uma manifestação do Senado (atual câmara de vereadores) da Vila do Poxim, hoje reduzida a um povoado de Coruripe. Nela, os representantes parabenizam a Dom Pedro I, logo após a conquista da autonomia política do Brasil.

O texto está no livro Documentos para a história da independência, uma publicação conjunta da Comissão Executiva dos Festejos do Sesquicentenário da Independência do Brasil (Alagoas) e Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, impresso em 1972.


Imperial Senhor. Sendo a gratidão em todo o tempo o caráter das nobres almas, e reconhecidas, se tornou para nós o mais sagrado dever, logo que V. M. Imperial liberalmente se constituiu o Pai da Pátria, e Defensor Perpétuo do Brasil; quem transbordou em nossos fiéis corações o júbilo pela sempre memorável e feliz aclamação de V. M. Imperial pelo primeiro Imperador Constitucional deste vasto Império, e com quanto nos foi possível testemunhamos solenemente os nossos votos no dia 8 de dezembro do ano próximo de 1822, dando ao Senhor Deus dos Exércitos por meio dos Ministros do Santuário, as devidas graças pelo importante Tesouro, com que nos enriqueceu na Augusta Pessoa de V. M. Imperial, cujas virtudes serviram de assunto a um discurso, que habilmente foi recitado, rematando-se tão magestosa função com o sonoro Hino Te Deum Laudamus, tendo precedido onze dias de iluminação geral, e festins, em que o povo como a porfia bem manifestava sua congratulação.

Este sempre leal Senado, por si, e em nome dos habitantes desta Vila tem a honra de ir beijar as Reais Mãos de V. M. Imperial, dar-lhe os devidos parabéns, e garantir a sua eterna submissão, respeito, e filial amor ao melhor dos Soberanos, e debaixo do auspício de V. M. Imperial de quem desejamos ser imitadores, protestamos que o nosso brasão é — Independência ou Morte. —

O Céu benigno fecunde os preciosos dias de V. M. Imperial e acumule de seus dons sagrados a Imperial Família, ídolo da nossa veneração. Para completa felicidade do povo Brasileiro sejam atendidas estas súplicas, nascidas dos nossos sinceros corações, como se nos faz mister. Nós somos, Senhor, com o mais profundo respeito de V. M. Imperial, humilíssimos e sempre leais súditos.

(Vila do Poxim.).

Joaquim José de Mello.
Domingos André dos Santos.
João da Ressurreição Lima e Lessa.
Job José de Oliveira.
Manoel Teixeira Lemes.

Obs.: Não vem datado, mas é de 1823. Doc. n.° 806 G (cópia) — maço 12.

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