quarta-feira, 14 de março de 2012

Facebook debate Teotônio Vilela, o pai

Edberto Ticianeli

Postei uma foto no Facebook desafiando para ver quem descobriria um político alagoano na foto, que seria o mais alto (ver foto). Como é comum nas redes sociais, logo surgiu um debate em torno do papel que o tal político cumpriu em Alagoas e no Brasil.

Pela importância dos argumentos, reproduzo o debate. Para quem não descobriu quem era o político, revelo que a foto é de Teotônio Vilela (o pai), então com 17 anos e morando no Rio de Janeiro.

Eis o debate:

Jose Ronaldo
Na época Udenista de carteirinha e nada democrático. Votou favorável ao impeachment contra Muniz Falcão no fatídico ano de 1957. Era correligionário de Arnon de Mello e do resto da gang udenista da época. Inclusive apoiou o golpe de 1964. Quando era vice-governador de Alagoas.

Golbery Lessa
Sim, José Ronaldo, mas no pré-1964 há relatos de atitudes progressista do Teotônio também, que talvez explique a existência dos germes democráticos amadurecidos à época do combate à ditadura. Rubens Colaço, por exemplo, relata que quando foi preso em 1964, pelo Quintela, este queria uma confissão dele de que tinha ligações políticas com Teotônio, Moura Rocha e Maurício Gondin (professor, intelectual e usineiro, com ficha de subversivo no DOPS). Em Fernão Velho, ouvi e gravei relatos de operários aposentados contando intervenções fortes de Teotônio Vilela em defesa do direito de greve, quando ele era vice-governador do Luiz Cavalcante, um dos articuladores do golpe em Alagoas. Ou seja, havia nele contradições ideológicas que, num contexto em que liberais conservadores passaram a querer acabar com a ditadura militar, pois estavam fora do poder, talvez expliquem porque foi o Teotônio um dos mais decididos e porque sua pregação ganhou uma dimensão humanista.
José Ronaldo, Golbery Lessa, Geraldo de Majella e Raul Cleto

Geraldo de Majella
Concordo, Golbery. O golpismo era a plataforma política da UDN. A análise de qualquer período histórico deve ser feito com menos paixão - apesar da paixão ser uma condição humana - mas deve ser no mínimo ponderada. A mesma UDN alagoana abrigava figuras como Lourival de Mello Mota, um democrata. A leitura e o conceito que temos hoje de democracia não é a mesma leitura que havia na década de cinquenta , sessenta, por exemplo.

Golbery Lessa
Mello Mota e Rui Palmeira, por exemplo. Um cara que criou filhos como Wladimir Palmeira e Moacyr Palmeira, duas figuras decisivas na esquerda brasileira, não pode ser igualado aos do baixo escalão moral da UDN. Esses dois camaradas podem ser figuras éticas e políticas exemplares por motivos aleatórios, isso é possível, mas eu acho que eles sofreram uma influência positiva clara do pai. Por outro lado, não conheço cada momento da trajetória do Rui Palmeira para saber se ele se manteve moralmente íntegro em todas as conjunturas que atuou.

Geraldo de Majella
Ronaldo, muita gente apoiou o golpe militar de 1964 em Alagoas e no Brasil. Mas devemos levar em consideração que muitos deles logo romperam com os militares. É a dinâmica da vida e da política. Teotônio foi um dos políticos e empresários de Alagoas que esteve do lado dos golpistas. Mas é necessário dizer que foi um dos primeiros a romper politicamente com os golpistas e cumpriu um papel importantíssimo no processo de denúncias da ditadura, no processo de acumulação de forças para se chegar a um certo consenso em plenários com o oposicionistas para votar a Lei da Anistia. A Anistia aprovada não era a anistia que ele, Teotônio, queria, nem a que muitos de nós queríamos, mas foi a possível. Será que os homens não podem mudar de posição?

Geraldo de Majella
José Ronaldo, você é um antigo militante comunista, pelo menos foi. O Golbery é um dirigente comunista, não posso qualificá-lo como sendo da nova geração, por já passar dos quarenta anos de idade. Eu fui um militante comunista, posso afirmar categoricamente de uma geração intermediária, entre a sua, Ronaldo, e a do Golbery. O que há de comum entre nós? O fato dos três serem historiadores e termos preocupações com Alagoas, cada um a seu modo, é claro, mas o que efetivamente queremos é viver numa Alagoas melhor, mais justa, desenvolvida, alegre e democrática. Para mim é o suficiente, no momento. Palavras da salvação.

Golbery Lessa
Tudo isso demonstra que as pesquisas sobre a vida do Teotônio Vilela precisam avançar muito. Não se sabe o básico sobre ele.

Raul Cleto
Em 64 eu tinha 9 anos...acho que meu pai era major do exército...servia no rio de janeiro...foi responsável pelo inquérito no Instituto Manguinhos...local de muitos cientistas...e comunistas...diziam lá ter uma célula...anos mais tarde - eu já na faculdade - meu pai explicou que nada demais havia constatado dentro daquele famoso instituto...que tinha conhecido sim,pessoas de esquerda - diferentes ao seu pensamento -,mas todas imbuídas das melhores intenções...terminou o inquérito com muitos amigos...e foi até presenteado com um jantar de despedida pelos mesmos...alguns desses cientistas - segundo meu pai -,após isso,resolveram se exilar no exterior...talvez com medo de algo futuro...mas como meu pai muitos militares não se envolveram em violência...defenderam seus pontos de vista...mas não compactuaram com a tortura...uma minoria posso dizer...pois vivi em vilas militares e ouvia desde menino historias de muitos deles...como na esquerda também tinham pessoas que defendiam a luta armada...o sequestro...etc..meu pai foi um homem justo e muitíssimo correto...e defendia seus princípios...e chegou a votar em Lula na sua 1ª eleição...um coisa inconcebível anos atrás...quando na faculdade comecei a ser simpatizante do PC do B,lá em casa foi uma tragédia...brigamos muito por um bom tempo..depois tanto eu cedi por um lado como ele também cedeu por outro...e votou junto comigo em Eduardo Bonfim para deputado constituinte...melhoramos os dois.

Geraldo de Majella
Belo depoimento, Raul. O fato de ter sido militar na ativa no período compreendido entre 1964 e 1985 não significa esta envolvido com tortura, assassinatos. Mas, infelizmente, uma minoria de militares das três armas se envolveram com a tortura e assassinaram muitos patriotas. Por isso a Comissão da Verdade faz todo o sentido não como forma de retaliação. Mas como compromisso de restabelecer a verdade histórica e ajudar o País a entender melhor o período ditatorial.

Geraldo de Majella
Golbery, o Teotônio Vilela é um personagem importante da história de Alagoas e do Brasil. Concordo com você, falta muito para se compreender o papel dele na história, seja como deputado estadual, vice-governador, senador e como intelectual.

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