sábado, 4 de abril de 2009

Complô contra a Ditadura



A militância política nos ensina a estar sempre em alerta para as teorias do complô, mas os fatos acontecidos nessa primeira semana de abril levam a acreditar que a história armou um complô contra o golpe militar de 1964. Na semana desse 1º de abril de 2009, data dos 45 anos da instalação da ditadura militar no Brasil, o mundo capitalista assiste as incursões do presidente Lula, mundo afora, empenhado em encontrar mecanismos que protejam os países mais pobres de pagarem pela crise econômica mundial, crise provocada por banqueiros “brancos de olhos azuis”. Ironia das ironias para os militares golpistas: a esquerda — considerada uma ameaça ao capitalismo das Américas e utilizada como desculpa para vários golpes em nosso continente — tem agora o controle de várias nações latino-americanas — e o presidente da maior delas, Lula, é considerado “o cara” por Barack Obama, seu colega dos EUA.
Mas o complô contra a memória do golpe não para aí. Morre, no dia 3 de abril, Marcio Moreira Alves. O combativo jornalista — premiado pela cobertura jornalística do tiroteio da Assembléia alagoana, em 1957, quando foi atingido por um tiro — é eleito deputado federal em 1966 pelo MDB, e foi personagem de um dos episódios mais lembrados do regime militar: a edição, em 1968, do Ato Institucional nº 5, o famigerado AI-5. Com esse instrumento “legal”, o ditador de plantão podia fechar as casas legislativas e censurar ou impedir de funcionar os meios de comunicação. Marcio Moreira Alves havia sugerido, em pronunciamento na Câmara, o boicote às atividades de comemoração do Sete de Setembro daquele ano. A Ditadura não gostou e mandou cassá-lo. A Câmara não cassou e os militares, com o AI-5 em uma das mãos e as baionetas na outra, eliminaram as vozes dos deputados oposicionistas. A morte desse respeitado jornalista reacende as lembranças sobre a face repressiva do regime de 64, principalmente quando, diante da crise econômica, há uma tendência a se discutir somente aspectos desenvolvimentistas daquele período.
Em seu famoso discurso, Marcio Moreira Alves profetizava que “discordar em silêncio pouco adianta”. Tinha razão: sua própria morte falou mais alto do que os murmúrios das lembranças do golpe de abril.

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