Há poucos dias, o jornalista Bernardino
Souto Maior noticiou em seu blog, no Portal Cada Minuto, que o também
jornalista Marcelo Firmino tinha sido demitido da Gazeta de Alagoas. A
informação surpreendeu e provocou comoção entre os profissionais de
comunicação. Afinal, Firmino é um dos melhores profissionais do jornalismo
alagoano.
Entretanto, outra informação importante
da matéria do Bernardino ficou em segundo plano. Lá na última linha está
escrito: “Comenta-se na redação da Gazeta, que outras demissões poderão vir por
aí”. Seria uma especulação do jornalista ou a Gazeta vai mesmo passar por um
processo de adaptação ao mercado consumidor do jornal impresso?
É possível que a crise do jornal
impresso, que vem engolindo redações há algum tempo, tenha chegado para valer
na Gazeta. Mesmo lamentando a redução do mercado de trabalho para jornalistas,
não se pode negar que inúmeros jornais e revistas estão fechando no mundo
inteiro devido à redução no número dos seus leitores.
Em Alagoas, não é conhecido nenhum
estudo sobre este fenômeno. O IVC, que verifica a circulação dos jornais, é
guardado a sete chaves. Mas, o único jeito para saber se os leitores dos
jornais impressos em Alagoas continuam a comprar jornal como antes, é
perguntando a eles.
Pesquisa
Um simulacro de pesquisa foi enviado
para 28 personalidades alagoanas, inquirindo sobre como se dá, hoje, o acesso
delas à informação. Foram entrevistas rápidas, envolvendo cinco empresários, um
publicitário, dois arquitetos, dois jornalistas, um músico, um assessor legislativo,
dois economistas, um engenheiro, um médico, dois advogados, dois
administradores de empresa, uma assistente social, uma assistente
administrativa, três professores, um líder comunitário, um historiador e um
servidor público.
O primeiro questionamento foi se eles
continuavam a ler jornal impresso como antes. A metade dos entrevistados
admitiu que não lê mais. Um deles continua lendo como antes e 13 leem bem menos
ou raramente. O destaque ficou para um jornalista que trabalha em assessoria de
comunicação. Ele afirmou que não lê mais o jornal impresso.
O volume de informações é o principal
motivo para 11 dos entrevistados optarem pela internet como fonte de notícias.
Oito argumentam que o motivo é a rapidez com que a notícia chega até eles. A facilidade
de acesso à internet é lembrada por cinco dos entrevistados. Somente um deles
afirmou que é avesso à informação com origem nesta mídia. Dois não explicaram e
um disse que se informa pela televisão.
Mesmo sofrendo pelo enorme abandono, o
jornal impresso ainda é elogiado por algumas das suas características. “A
vantagem de um jornal impresso é a possibilidade de visualização de todo um
layout, uma leitura dinâmica das manchetes, das fotos e localização das colunas
que estávamos acostumado”, argumenta um empresário.
Para uma arquiteta, “a organização dos
assuntos, geralmente agrupados em cadernos, torna a leitura mais objetiva e
mais personalizada também. Afora isto, penso que os jornais dispõem de mais
credibilidade e confiabilidade do que as publicações eletrônicas, no que
concerne às fontes de pesquisas. O papel, em si, guarda o tempo de uma forma
mais palpável e visível. Eu diria que os jornais impressos são ótimos
receptáculos do tempo”.
Parcialidade
Outro dado importante detectado na
pesquisa foi a quase inexistência de assinaturas para acesso a qualquer mídia.
Um dos dois assinantes de jornal revelou que ultimamente só lê o Caderno
Digital, e o outro, um empresário, disse que assina pelos classificados, mas
que vai cancelar a assinatura. Outro assina a revista Veja e Exame há mais de
30 anos. Dos usuários da internet, somente um assina a UOL/Folha.
A questão da parcialidade da informação
também ganha destaque como motivo para o abandono das mídias impressas. Um
médico argumenta que “quando passamos a entender os interesses que movem a
imprensa, fica difícil acreditar no que é publicado. Faz tempo que sigo pela
web aquilo que me interessa e as fontes que acho confiáveis. Sem falar na
péssima qualidade dos textos e nos press
releases, publicados em várias mídias sem mudar uma vírgula! São ruins
demais”.
Uma assistente social vai na mesma
direção. “Perdi um pouco o saco, pois é muita manipulação. A notícia tem dono”.
Um jornalista argumenta que não há liberdade de imprensa para afirmar que “a
Internet permitiu uma maior democratização da informação”. Para um servidor
público, a sua preferência pelas notícias em blogs e sites da internet se deve
ao conteúdo pobre dos jornais impressos em Alagoas.
Mesmo sem maiores pretensões de pesquisa
com métodos científicos, essa coleta de opiniões pode servir para se ter uma
ideia do estrago que a internet está fazendo com o jornal impresso. Não há
dúvidas: o mercado de leitores não é mais o mesmo e o papel do jornal impresso e o dos seus profissionais têm que ser repensado.
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