segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Leitores abandonam o jornal impresso em Alagoas

Há poucos dias, o jornalista Bernardino Souto Maior noticiou em seu blog, no Portal Cada Minuto, que o também jornalista Marcelo Firmino tinha sido demitido da Gazeta de Alagoas. A informação surpreendeu e provocou comoção entre os profissionais de comunicação. Afinal, Firmino é um dos melhores profissionais do jornalismo alagoano.

Entretanto, outra informação importante da matéria do Bernardino ficou em segundo plano. Lá na última linha está escrito: “Comenta-se na redação da Gazeta, que outras demissões poderão vir por aí”. Seria uma especulação do jornalista ou a Gazeta vai mesmo passar por um processo de adaptação ao mercado consumidor do jornal impresso?

É possível que a crise do jornal impresso, que vem engolindo redações há algum tempo, tenha chegado para valer na Gazeta. Mesmo lamentando a redução do mercado de trabalho para jornalistas, não se pode negar que inúmeros jornais e revistas estão fechando no mundo inteiro devido à redução no número dos seus leitores.

Em Alagoas, não é conhecido nenhum estudo sobre este fenômeno. O IVC, que verifica a circulação dos jornais, é guardado a sete chaves. Mas, o único jeito para saber se os leitores dos jornais impressos em Alagoas continuam a comprar jornal como antes, é perguntando a eles.

Pesquisa

Um simulacro de pesquisa foi enviado para 28 personalidades alagoanas, inquirindo sobre como se dá, hoje, o acesso delas à informação. Foram entrevistas rápidas, envolvendo cinco empresários, um publicitário, dois arquitetos, dois jornalistas, um músico, um assessor legislativo, dois economistas, um engenheiro, um médico, dois advogados, dois administradores de empresa, uma assistente social, uma assistente administrativa, três professores, um líder comunitário, um historiador e um servidor público.

O primeiro questionamento foi se eles continuavam a ler jornal impresso como antes. A metade dos entrevistados admitiu que não lê mais. Um deles continua lendo como antes e 13 leem bem menos ou raramente. O destaque ficou para um jornalista que trabalha em assessoria de comunicação. Ele afirmou que não lê mais o jornal impresso.

O volume de informações é o principal motivo para 11 dos entrevistados optarem pela internet como fonte de notícias. Oito argumentam que o motivo é a rapidez com que a notícia chega até eles. A facilidade de acesso à internet é lembrada por cinco dos entrevistados. Somente um deles afirmou que é avesso à informação com origem nesta mídia. Dois não explicaram e um disse que se informa pela televisão.

Mesmo sofrendo pelo enorme abandono, o jornal impresso ainda é elogiado por algumas das suas características. “A vantagem de um jornal impresso é a possibilidade de visualização de todo um layout, uma leitura dinâmica das manchetes, das fotos e localização das colunas que estávamos acostumado”, argumenta um empresário.

Para uma arquiteta, “a organização dos assuntos, geralmente agrupados em cadernos, torna a leitura mais objetiva e mais personalizada também. Afora isto, penso que os jornais dispõem de mais credibilidade e confiabilidade do que as publicações eletrônicas, no que concerne às fontes de pesquisas. O papel, em si, guarda o tempo de uma forma mais palpável e visível. Eu diria que os jornais impressos são ótimos receptáculos do tempo”.

Parcialidade

Outro dado importante detectado na pesquisa foi a quase inexistência de assinaturas para acesso a qualquer mídia. Um dos dois assinantes de jornal revelou que ultimamente só lê o Caderno Digital, e o outro, um empresário, disse que assina pelos classificados, mas que vai cancelar a assinatura. Outro assina a revista Veja e Exame há mais de 30 anos. Dos usuários da internet, somente um assina a UOL/Folha.

A questão da parcialidade da informação também ganha destaque como motivo para o abandono das mídias impressas. Um médico argumenta que “quando passamos a entender os interesses que movem a imprensa, fica difícil acreditar no que é publicado. Faz tempo que sigo pela web aquilo que me interessa e as fontes que acho confiáveis. Sem falar na péssima qualidade dos textos e nos press releases, publicados em várias mídias sem mudar uma vírgula! São ruins demais”.

Uma assistente social vai na mesma direção. “Perdi um pouco o saco, pois é muita manipulação. A notícia tem dono”. Um jornalista argumenta que não há liberdade de imprensa para afirmar que “a Internet permitiu uma maior democratização da informação”. Para um servidor público, a sua preferência pelas notícias em blogs e sites da internet se deve ao conteúdo pobre dos jornais impressos em Alagoas.

Mesmo sem maiores pretensões de pesquisa com métodos científicos, essa coleta de opiniões pode servir para se ter uma ideia do estrago que a internet está fazendo com o jornal impresso. Não há dúvidas: o mercado de leitores não é mais o mesmo e o papel do jornal impresso e o dos seus profissionais têm que ser repensado.

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