quinta-feira, 30 de abril de 2009

Leitor eletrônico enfrenta resistência dos amantes de livros






Joanne Kaufman - The New York Times

Sara Nelson, ex-editora da Publishers Weekly, participava de um jantar quando Ed Rollins, consultor de campanha do Partido Republicano, chegou com um Kindle.
"E eu disse apenas: 'posso vê-lo?' ", conta Nelson, também a autora de So Many Books, So Little Time ("Tantos livros, tão pouco tempo"). "Durante esta lua-de-mel com o Kindle - quando muita gente não tem um - você ainda pode ver o que alguém está lendo com a desculpa de estar conhecendo o aparelho." (Para registro, o Kindle de Rollins estava entupido de jornais do dia.) Nelson possui um Kindle e um Sony Reader. E, para ela, a posse de um leitor de livros eletrônicos, embora não necessariamente uma medalha ao mérito literária, pelo menos passa a idéia de um compromisso com os livros.
"É muito caro", disse sobre o Kindle 2, que a Amazon vende por US$ 359. "Se você vai pagar isso, está declarando ao mundo que você gosta de ler - e que provavelmente você não está usando o aparelho para ler livros comerciais baratos."
Mas para outros escritores e editores, o Kindle é a má idéia derradeira que deve desaparecer. Anne Fadiman ficou aliviada ao descobrir que a coletânea de ensaios que escreveu, Ex Libris, não estava disponível no Kindle. "Seria irônico se estivesse", disse sobre o livro, no qual ela evoca sua paixão eterna por livros como objetos.
"Existe uma caixinha na Amazon em que se lê: 'Avise a editora que você quer ler este livro no Kindle'", ela disse. "Espero que ninguém avise a editora."
O mercado editorial está envolvido em questões de peso sobre o Kindle e outros aparelhos semelhantes: eles vão ajudar ou atrapalhar a venda de livros e o avanço de escritores? Vão canibalizar o setor? Fundir-se a ele?
Ora, eles estão ignorando o que realmente importa: como o Kindle vai afetar o esnobismo literário? Se você tem 1,5 mil livros em seu Kindle - é quanto ele agüenta -, isso faz de você mais ou menos bibliófilo do que se tivesse os mesmos 1,5 mil livros em sua prateleira? (Para continuar com o argumento, vamos supor que você chegou a ler alguns deles.) A prática de julgar as pessoas pela capa de seus livros é antiga e consagrada pelo tempo. E o Kindle, que se parece com um tipo gigante de calculadora branca, é o equivalente tecnológico a um papel de embrulho impessoal. Se as pessoas se livrarem de suas coleções de livro ou pararem de comprar novos volumes, vai ficar extremamente difícil formar opiniões rápidas sobre elas quando entrarmos casualmente em suas salas.
"Sempre observo quantos e quais livros estão nas prateleiras", disse Ammon Shea, que passou um ano lendo todo o dicionário de inglês da Oxford e publicou um livro sobre ele. "É a versão intelectualóide de fuçar o armário de remédios de alguém."
É uma aposta segura dizer que o Kindle não vai atrair pessoas que raramente pegam um livro ou, no outro extremo do espectro, aquelas que procuram primeiras edições em feiras de livros antigos. Mas quanto a avaliar um estranho de longe, talvez o maior problema do Kindle e de seu tipo seja o fator de camuflagem: quando ninguém consegue saber o que você está lendo, como deixar claro que você está se aprofundando na nova biografia de Lincoln ao invés de, digamos, Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você?
"Você perde todas essas coisas maravilhosas ao não ver o livro físico?", questionou Kurt Andersen, romancista e apresentador do programa de rádioStudio 360. "Com certeza. Mas não acho que seja o fim do mundo. Pelo menos as pessoas ainda pagam 10 paus pelo livro." (A maioria dos livros para o Kindle custa US$ 9,99 na Amazon.com.) Andersen se orgulha de viver em um lar com dois aparelhos Kindle. "Dar às pessoas uma nova forma de ler livros é bacana e bom", declarou.
Para alguns amantes de livros e editores, existem inúmeras razões para repudiar o Kindle. As editoras não vão conseguir aquele empurrãozinho que acontece quando viajantes vêem alguém lendo, digamos, o último James Patterson e dizem para si mesmos: "Faz tempo que quero um. Acho que vou comprar uma cópia antes de pegar o trem".
E, com os livros deixando o papel, está decretada a morte do início de conversa no estilo: "Ah, vejo que você está lendo o último (inserir nome do autor ilustre)".
Michael Silverblatt, apresentador do semanal radiofônico Bookworm, usa o termo "desejo literário" para descrever a atração que ocorre quando vemos um estranho lendo seu livro ou escritor favorito. "Quando era um adolescente na fila de uma mostra de filmes no Museu de Arte Moderna e via alguém carregando um livro que adorava, eu começava a fantasiar sobre sermos melhores amigos ou amantes", disse.
David Rosenthal, vice-presidente-executivo e editor da Simon & Schuster, lembra do advento das brochuras Vintage, uma linha de literatura de ficção que "cabia perfeitamente no bolso de sua calça Levi's com o título aparecendo, como uma forma de divulgação do tipo de intelectual que você era".
Ele usa um Sony Reader para os manuscritos, "pois é mais fácil do que carregá-los para casa", mas não lê livros por prazer no aparelho. "É certamente conveniente, mas ainda não cheguei a ler um livro publicado e finalizado nele", disse Rosenthal. "Para mim, é estranho ter um painel de metal ao invés de um livro."
Ellen Feldman, que escreve literatura de ficção, se preocupa com o que acontecerá com a ligação inexplicável entre amantes de livro se o Kindle se tornar generalizado. Ela estava almoçando em um restaurante em Upper East Side quando viu um homem na mesa ao lado lendo a coletânea completa dos poemas de Emily Dickinson.
"Comecei a examiná-lo", disse Feldman, cujos romances incluem Scottsboro e O Menino que Amava Anne Frank. "Tive várias fantasias - tentei lembrar se havia uma faculdade nas proximidades, onde talvez ele fosse um professor."
Nicholson Baker, que escreve ficção e não-ficção, se sente da mesma forma, embora se defina pelo conteúdo de sua biblioteca (física). Há alguns anos, ele chegou a um emprego temporário com uma cópia de Ulisses. "Queria que soubessem que eu não era só mais um temporário", disse, "mas um temporário que estava lendo Ulisses".
Atualmente, conta, ele "vibra se alguém lê meus livros. Não importa de qual forma".
Devido ao estado financeiro sofrível do mercado de livros, a maioria dos escritores pode estar deixando de lado seu preconceito. Chris Cleave, romancista que tem uma coluna no jornal The Guardian, deixa a coisas às claras. "Amo meus leitores e quero que eles leiam meu material", disse. "Distribuiria meus livros escritos a mão se necessário."

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O filho de pedreiro que enfrentou Gilmar Mendes


“Enganaram-se os que pensavam que o STF (Supremo Tribunal Federal) iria ter um negro submisso, subserviente (...)” — Ministro Joaquim Barbosa


Quando o ministro Joaquim Barbosa bate-boca com o seu colega Gilmar Mendes e diz que ele "está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro" e que “Vossa Excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso”, faz aflorar algo que era esperado: o embate entre o "líder da oposição ao governo" (Gilmar Mendes) e, talvez, o único ministro com independência para enfrentá-lo. Mas quem é esse ministro que peitou o arrogante Gilmar Mendes? A Wikipédia, a enciclopédia livre, nos dá uma idéia de quem é esse filho de pedreiro.

Joaquim Benedito Barbosa Gomes (Paracatu, 7 de outubro de 1954) é um jurista brasileiro; ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil desde 25 de junho de 2003, quando nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o único negro entre os atuais ministros do STF.
Joaquim Barbosa nasceu em Paracatu, noroeste de Minas Gerais. É o primogênito de oito filhos. Pai pedreiro e mãe dona de casa, passou a ser arrimo de família quando estes se separaram. Aos 16 anos foi sozinho para Brasília, arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense e terminou o segundo grau, sempre estudando em colégio público. Obteve seu bacharelado em Direito na Universidade de Brasília, onde, em seguida, obteve seu mestrado em Direito do Estado.
Prestou concurso público para Procurador da República, e foi aprovado. Licenciou-se do cargo e foi estudar na França, por quatro anos, tendo obtido seu Mestrado em Direito Público pela Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas) em 1990 e seu Doutorado em Direito Público pela Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas) em 1993. Retornou ao cargo de procurador no Rio de Janeiro e professor concursado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi Visiting Scholar no Human Rights Institute da faculdade de direito da Universidade Columbia em Nova York (1999 a 2000), e Visiting Scholar na Universidade da California, Los Angeles School of Law (2002 a 2003). Fez estudos complementares de idiomas estrangeiros no Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Áustria e na Alemanha. É fluente em francês, inglês e alemão.
Principais posições
Demonstra coragem incondicional com que se posiciona em certas questões. É o único ministro abertamente favorável à legalização do aborto; é contra o poder do Ministério Público de arquivar inquéritos administrativamente, ou de presidir inquéritos policiais. Defende que se transfira a competência para julgar processos sobre trabalho escravo para a Justiça federal.
Defende a tese de que despachar com advogados deva ser uma exceção, e nunca uma rotina, para os ministros do Supremo. Restringe ao máximo seu atendimento a advogados de partes, por entender que essa liberalidade do juiz não pode favorecer a desigualdade. Insurge-se contra a prestação preferencial de jurisdição às partes de maior poder aquisitivo ("furar fila"). Essa sua postura tem lhe custado a antipatia dos advogados de certas elites, habituados que estão à receptividade que seus nomes lhes propiciam. Opõe-se ao foro privilegiado para autoridades.

sábado, 18 de abril de 2009

PIPOCA

FAZENDO ESCOLA
O deputado Cícero Ferro, do bloco “Daqui não, daqui ninguém me tira”, está fazendo escola. O mais novo “folião” é o recém cassado governador do Maranhão, Jackson Lago. Ele diz que só sai “arrastado” e, Roseana Sarney — sua sucessora no Palácio dos Leões — mandou dizer que não vai fazer nada para desentocar o ex-governador: o apelo é para que ele tenha consciência e saia.

POETA NA ACADEMIA
O consagrado poeta alagoano Maurício de Macedo (http://mauriciodemacedo.blogspot.com/) está disputando votos. Ele é candidato a ocupar, na Academia Alagoana de Letras, a cadeira que seu pai, Gilberto de Macedo, honrou até o seu falecimento, ocorrido recentemente. O outro candidato é o José Medeiros. Detalhe: os dois são médicos.

VERBA DE GABINETE
A pendenga da verba de gabinete volta à tona puxada pela vereadora Heloisa Helena. Ela quer saber se é legal ou não receber esses recursos e tem razão em cobrar um parecer da Justiça, já que ela está sendo punida exatamente pela mesma Justiça que considerou a verba de gabinete como salário e, portanto, com imposto de renda a recolher. O pior é que essa verba é paga aos vereadores em dinheiro. Por quê? Não confiam nos bancos e na instituição do cheque?

sábado, 4 de abril de 2009

Complô contra a Ditadura



A militância política nos ensina a estar sempre em alerta para as teorias do complô, mas os fatos acontecidos nessa primeira semana de abril levam a acreditar que a história armou um complô contra o golpe militar de 1964. Na semana desse 1º de abril de 2009, data dos 45 anos da instalação da ditadura militar no Brasil, o mundo capitalista assiste as incursões do presidente Lula, mundo afora, empenhado em encontrar mecanismos que protejam os países mais pobres de pagarem pela crise econômica mundial, crise provocada por banqueiros “brancos de olhos azuis”. Ironia das ironias para os militares golpistas: a esquerda — considerada uma ameaça ao capitalismo das Américas e utilizada como desculpa para vários golpes em nosso continente — tem agora o controle de várias nações latino-americanas — e o presidente da maior delas, Lula, é considerado “o cara” por Barack Obama, seu colega dos EUA.
Mas o complô contra a memória do golpe não para aí. Morre, no dia 3 de abril, Marcio Moreira Alves. O combativo jornalista — premiado pela cobertura jornalística do tiroteio da Assembléia alagoana, em 1957, quando foi atingido por um tiro — é eleito deputado federal em 1966 pelo MDB, e foi personagem de um dos episódios mais lembrados do regime militar: a edição, em 1968, do Ato Institucional nº 5, o famigerado AI-5. Com esse instrumento “legal”, o ditador de plantão podia fechar as casas legislativas e censurar ou impedir de funcionar os meios de comunicação. Marcio Moreira Alves havia sugerido, em pronunciamento na Câmara, o boicote às atividades de comemoração do Sete de Setembro daquele ano. A Ditadura não gostou e mandou cassá-lo. A Câmara não cassou e os militares, com o AI-5 em uma das mãos e as baionetas na outra, eliminaram as vozes dos deputados oposicionistas. A morte desse respeitado jornalista reacende as lembranças sobre a face repressiva do regime de 64, principalmente quando, diante da crise econômica, há uma tendência a se discutir somente aspectos desenvolvimentistas daquele período.
Em seu famoso discurso, Marcio Moreira Alves profetizava que “discordar em silêncio pouco adianta”. Tinha razão: sua própria morte falou mais alto do que os murmúrios das lembranças do golpe de abril.