segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O motorista bêbado e os três Reis Magos

Olhou para a direita, mas não conseguiu saber se vinham veículos daquela direção. O presépio não permitia uma visão segura. Adiantou o carro um pouco mais, esticou o pescoço sobre o volante, ouviu pneus cantarem e recebeu a pancada.

Desceu ainda atordoado e conversou com o motorista do outro veículo. Sem maiores prejuízos. Nada que um bom funileiro não pudesse resolver. Tinha bebido uns vinhos e deveria assumir suas responsabilidades diante do erro.

Olhou para o presépio e percebeu que a posição dos três Reis Magos é que tinha forçado ele a avançar além do permitido. Entrou no presépio e pediu explicações.

- Pessoal, meu nome é Francisco e como vocês acabaram de ver, sofri um acidente aqui ao lado por culpa de vocês.

Silêncio na manjedoura. Um pastor ainda tentou falar, mas foi silenciado por um severo olhar de São José. Francisco percebeu e disse:

- O senhor pode ficar tranquilo. A minha conversa aqui é com esses três que estão do lado da rua.

Vendo que Francisco estava muito irritado, o mais velho dos três se apresentou:

- Olhe, meu nome é Belquior e fiz uma longa viagem, seguindo uma estrela, para adorar o nascimento do rei dos judeus e presenteá-lo.

- E esses dois? – indagou Francisco.

- Também vieram com o mesmo propósito. O mais novo é o Gaspar e o outro é o Baltasar.

- Pois bem, é louvável que vocês tenham vindo de tão longe para dar presentes, mas precisava ficar na rua? Não dá para vocês ficarem um pouquinho mais para dentro? É só tirar aquele jumento dali que dá para arrumar melhor.

Demonstrando que não estava gostando da conversa, Baltasar argumentou:

- O senhor pode não saber, mas a culpa de estarmos aqui é da sua família.

- Minha família? Como?

Baltasar explicou:

- Um ancestral seu chamado Francisco de Assis, em 1223, foi quem teve a ideia de nos colocar aqui durante o Natal.

Francisco não se deu por vencido:

- Pode até ter sido um parente meu, o que santificaria a minha família, mas não explica porque vocês têm que ficar nessa posição.

Gaspar, que carregava uma sacola de ouro, deu a conversa por encerrada:

- Meu caro Francisco, nós podíamos até lhe pagar pelo prejuízo, mas o nosso ouro é para presentear o menino que está ali. Se o senhor estiver incomodado com a nossa posição no presépio, procure a Superintendência Municipal de Trânsito.

De cabeça baixa, Francisco saiu rapidamente. Já perto do carro gritou:

- Eu merecia mais respeito de vocês. Afinal, eu sou um Francisco e vou reclamar com o outro Francisco, o Papa.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Incrível descoberta da Globo: os eleitores se dividem nas eleições

Na noite deste domingo (26), após o anúncio da vitória de Dilma Roussef (PT) (51,63%) sobre Aécio Neves (PSDB) (48,36%), os comentaristas da Rede Globo se apressaram em apresentar a vitória da Dilma como um problema, já que o país saía dividido do pleito.

Será que uma diferença mínima compromete a governabilidade em um país democrático? A partir de qual vantagem não se caracteriza uma divisão?

Para responder a estas indagações vamos olhar para os resultados das últimas eleições, pelo menos das que ocorreram após a redemocratização iniciada em 1985.

Em 1989, na primeira eleição direta para presidente após o Golpe Militar de 1964, Fernando Collor (PRN), candidato apoiado abertamente pela Globo, venceu no segundo turno com 53,03% dos votos válidos. Lula (PT) obteve 46,96%.

Em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) vence já no primeiro turno uma lista de candidatos, incluindo o Lula (PT), conseguindo 55,22% dos votos válidos. Somente 5,16% a mais do que a candidata Dilma conseguiu agora.

Candidato à reeleição em 1998, ainda no primeiro turno, FHC vence novamente Lula e outros candidatos com 53,06% dos votos válidos. Ultrapassando em somente 1,43% a votação da Dilma em 2014.

A eleição de Lula em 2002 se deu no segundo turno com ele conseguindo 61,27% contra 33,37% de José Serra.

Em 2006, Lula (PT) volta a vencer no segundo turno. Consegue 60,82 % dos votos válidos. Geraldo Alckmin (PSDB) fica com 39,17%.

E agora? 60% a 40% caracteriza um país dividido?

Dilma Roussef sucede Lula em 2010, derrotando José Serra. Ela obteve 56,03% dos votos válidos contra 43,94% do candidato tucano. Outro país dividido?

Se compararmos os resultados das eleições presidenciais do Brasil com a dos EUA, país considerado por muitos como um exemplo de democracia, podemos ficar surpresos com os números.

Em 2008, Barack Obama (Democrata) obteve 52,9% dos votos e derrotou John McCain (Republicano), conseguiu 45,7% dos votos. Reeleito em 2012, Barack Obama (Democrata) teve 51,01% contra 47,16% de Mitt Romney (Republicano).

Você ouviu de algum comentarista da Globo que os EUA estaria dividido? Aliás, desde 1869 que Republicanos e Democratas se revezam no poder. Os EUA, onde fica Miami, é um país dividido?

Sinceramente, acho que os comentaristas da Globo não souberam reconhecer a derrota que sofreram e ficaram conversando besteira para não chorarem ao vivo.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Renan Filho ganha na campanha eleitoral selfie

Faltando pouco mais de um mês para o fim da campanha eleitoral de 2014, posso afirmar sem medo de errar que essa é a primeira campanha selfie da nossa história.

Com a crescente importância das redes sociais na divulgação das atividades dos candidatos, os costumes deste ambiente digital terminaram por contaminar as campanhas.

Basta o candidato chegar à porta da casa de um eleitor - durante uma caminhada, por exemplo -, que já tem alguém esperando de celular levantado para tirar uma foto.

Alguns candidatos também utilizam o selfie para divulgar sua foto ao lado de personalidades que o apoiam ou para demonstrar a multidão que o acompanha.

A primeira grande modificação nas campanhas, com a adoção do selfie, é o tempo gasto nas caminhadas. Às vezes, são três ou quatro poses numa única casa. Isso faz com que o número de residências visitadas num período seja bem menor.

A outra alteração é na quantidade de pessoas que passam a divulgar a imagem do candidato. Quem conseguiu a foto, imediatamente faz a postagem. É o poder multiplicador das redes sociais.

Em Alagoas, Renan Filho (PMDB), candidato ao governo, é quem tem utilizado com mais desenvoltura essa ferramenta. Como usuário das redes sociais, Renan Filho se sente à vontade para disparar seus posts.

Nas principais redes sociais, o Facebook e o Instagram, a vantagem da candidatura de Renan Filho sobre os outros candidatos é absoluta. Tem ganhado bons dividendos eleitorais com a divulgação de sua imagem.

Essa é, sem dúvida, a eleição do selfie. Quem não percebeu, perdeu o trem (ou o VLT).

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Collor e Renan batem cabeça no bloco da oposição

Collor e Renan ainda não se entenderam
para a sucessão em Alagoas
O jogo político nos anos em que ocorrem eleições, normalmente só esquenta após o carnaval. Em Alagoas, ao que tudo indica, as articulações começaram a ferver muito antes do frevo começar.

As evoluções de Renan Calheiros e Fernando Collor ocupam a avenida com destaque. Os dois ainda batem bombos em ritmos diferentes. Discutem, por mensagens cifradas, se vão ou não compor na mesma orquestra.

Renan insinua que está conversando com Teo Vilela, e Collor, que pretende manter a cadeira no Senado, responde dizendo que pode ser candidato ao governo.

Renan ameaça lançar Luciano Barbosa ao Senado. Collor reage apresentando Cícero Almeida como potencial candidato a ocupar o Palácio República dos Palmares.

Neste domingo (2), a Gazeta de Alagoas, de Collor, publica com destaque duas entrevistas de pré-candidatos ao governo que podem ter o apoio de Teo Vilela.

Biu de Lira (PP) e Alexandre Toledo (PSB) ocupam as páginas nobres do 1º caderno e contam, ainda, com a luxuosa companhia das boas análises políticas de José Costa, do PPS.

As entrevistas podem fazer parte simplesmente de uma pauta que se propõe a apresentar os pré-candidatos ao governo de Alagoas.

Pode, mas, pelos antecedentes, também permite outras interpretações. Será um aceno amigável para o governador Teo Vilela ou mais um recado para Renan Calheiros?

Como os campos políticos em Alagoas não apresentam barreiras ideológicas muito definidas, existem várias possibilidades de composição entre os pré-candidatos.

Essa situação permite que os diversos segmentos da oposição conversem, sem maiores problemas, com a situação, e vice-versa. Essa prática termina por criar uma permanente insegurança entre os “aliados”.

Enquanto os estandartes são cruzados sutilmente em via pública, fica a dúvida sobre a capacidade de aglutinação da oposição e sobre qual é mesmo o seu objetivo político, se é que existe.