segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Leitores abandonam o jornal impresso em Alagoas

Há poucos dias, o jornalista Bernardino Souto Maior noticiou em seu blog, no Portal Cada Minuto, que o também jornalista Marcelo Firmino tinha sido demitido da Gazeta de Alagoas. A informação surpreendeu e provocou comoção entre os profissionais de comunicação. Afinal, Firmino é um dos melhores profissionais do jornalismo alagoano.

Entretanto, outra informação importante da matéria do Bernardino ficou em segundo plano. Lá na última linha está escrito: “Comenta-se na redação da Gazeta, que outras demissões poderão vir por aí”. Seria uma especulação do jornalista ou a Gazeta vai mesmo passar por um processo de adaptação ao mercado consumidor do jornal impresso?

É possível que a crise do jornal impresso, que vem engolindo redações há algum tempo, tenha chegado para valer na Gazeta. Mesmo lamentando a redução do mercado de trabalho para jornalistas, não se pode negar que inúmeros jornais e revistas estão fechando no mundo inteiro devido à redução no número dos seus leitores.

Em Alagoas, não é conhecido nenhum estudo sobre este fenômeno. O IVC, que verifica a circulação dos jornais, é guardado a sete chaves. Mas, o único jeito para saber se os leitores dos jornais impressos em Alagoas continuam a comprar jornal como antes, é perguntando a eles.

Pesquisa

Um simulacro de pesquisa foi enviado para 28 personalidades alagoanas, inquirindo sobre como se dá, hoje, o acesso delas à informação. Foram entrevistas rápidas, envolvendo cinco empresários, um publicitário, dois arquitetos, dois jornalistas, um músico, um assessor legislativo, dois economistas, um engenheiro, um médico, dois advogados, dois administradores de empresa, uma assistente social, uma assistente administrativa, três professores, um líder comunitário, um historiador e um servidor público.

O primeiro questionamento foi se eles continuavam a ler jornal impresso como antes. A metade dos entrevistados admitiu que não lê mais. Um deles continua lendo como antes e 13 leem bem menos ou raramente. O destaque ficou para um jornalista que trabalha em assessoria de comunicação. Ele afirmou que não lê mais o jornal impresso.

O volume de informações é o principal motivo para 11 dos entrevistados optarem pela internet como fonte de notícias. Oito argumentam que o motivo é a rapidez com que a notícia chega até eles. A facilidade de acesso à internet é lembrada por cinco dos entrevistados. Somente um deles afirmou que é avesso à informação com origem nesta mídia. Dois não explicaram e um disse que se informa pela televisão.

Mesmo sofrendo pelo enorme abandono, o jornal impresso ainda é elogiado por algumas das suas características. “A vantagem de um jornal impresso é a possibilidade de visualização de todo um layout, uma leitura dinâmica das manchetes, das fotos e localização das colunas que estávamos acostumado”, argumenta um empresário.

Para uma arquiteta, “a organização dos assuntos, geralmente agrupados em cadernos, torna a leitura mais objetiva e mais personalizada também. Afora isto, penso que os jornais dispõem de mais credibilidade e confiabilidade do que as publicações eletrônicas, no que concerne às fontes de pesquisas. O papel, em si, guarda o tempo de uma forma mais palpável e visível. Eu diria que os jornais impressos são ótimos receptáculos do tempo”.

Parcialidade

Outro dado importante detectado na pesquisa foi a quase inexistência de assinaturas para acesso a qualquer mídia. Um dos dois assinantes de jornal revelou que ultimamente só lê o Caderno Digital, e o outro, um empresário, disse que assina pelos classificados, mas que vai cancelar a assinatura. Outro assina a revista Veja e Exame há mais de 30 anos. Dos usuários da internet, somente um assina a UOL/Folha.

A questão da parcialidade da informação também ganha destaque como motivo para o abandono das mídias impressas. Um médico argumenta que “quando passamos a entender os interesses que movem a imprensa, fica difícil acreditar no que é publicado. Faz tempo que sigo pela web aquilo que me interessa e as fontes que acho confiáveis. Sem falar na péssima qualidade dos textos e nos press releases, publicados em várias mídias sem mudar uma vírgula! São ruins demais”.

Uma assistente social vai na mesma direção. “Perdi um pouco o saco, pois é muita manipulação. A notícia tem dono”. Um jornalista argumenta que não há liberdade de imprensa para afirmar que “a Internet permitiu uma maior democratização da informação”. Para um servidor público, a sua preferência pelas notícias em blogs e sites da internet se deve ao conteúdo pobre dos jornais impressos em Alagoas.

Mesmo sem maiores pretensões de pesquisa com métodos científicos, essa coleta de opiniões pode servir para se ter uma ideia do estrago que a internet está fazendo com o jornal impresso. Não há dúvidas: o mercado de leitores não é mais o mesmo e o papel do jornal impresso e o dos seus profissionais têm que ser repensado.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A greve da Engenharia de 1979 e o autoritarismo na Ufal

Reunião do movimento estudantil em 1979. Foto de Josival Monteiro
A reconquista do movimento estudantil pela esquerda em Alagoas após as prisões dos dirigentes estudantis em 1973, teve as primeiras iniciativas ainda em 1975, mas foi em 1978 que todas as entidades de estudantes da UFAL passaram a ser dirigidas por lideranças de esquerda.

Antes, em 1977, a vitória de Renan Calheiros na Área III, de Humanas, permitiu que a primeira trincheira fosse ocupada por estudantes comprometidos com as lutas democráticas. Foi o Diretório da Área III que abrigou todo o movimento estudantil. As suas reuniões tinham desde a participação de estudantes da Escola de Ciências Médica, até a secundaristas da Escola Técnica.

Em 1978, o Diretório da Área I (Exatas) foi presidido por Edberto Ticianeli. O da Área II (Saúde) pelo Maurício Macedo e o da Área III por Régis Cavalcante. A primeira grande mobilização foi pela reconstrução dos Centros Acadêmicos que tinham sido fechados pela Ditadura, e a criação de Centros Acadêmicos nos novos cursos da Ufal.
 
Assembleia na Ufal. Foto de José Feitosa
Essa estratégia procurava aproximar as entidades da luta dos estudantes. A experiência da greve de Arquitetura, em 1977, deixou claro que as lutas econômicas eram mais mobilizadoras dos estudantes. Desta greve surgiu o Centro Acadêmico de Arquitetura.

Greve de Engenharia

Thomaz Beltrão, no início de 1979, sucedeu Ticianeli na presidência do Diretório da Área I. O nível de organização nos cursos de Engenharia, Arquitetura e Agronomia era muito elevado. Em todos, atuavam de forma organizada núcleos de militantes do PCdoB. Logo, os Centros Acadêmicos estavam funcionando a todo vapor. Eram os últimos dias dos Diretórios de Área.

Na Engenharia, a insatisfação com os níveis de repetência nas disciplinas ensinadas pelo professor Arlindo Cabús provocava inúmeras reuniões entre estudantes e dirigentes da Ufal. Com o próprio professor, houve conversas para se tentar encontrar uma fórmula de reduzir as reprovações para um nível aceitável.

Não havia acordo e os estudantes resolveram entrar em greve. A reivindicação apresentada ao reitor Manoel Ramalho cobrava o afastamento do professor do curso de Engenharia. Uma tarefa difícil para estudantes em um regime de Ditadura Militar.

Diante da complexidade da situação, todas as lideranças correram em auxílio aos estudantes da Engenharia. A greve agora era uma luta que tinha o apoio de todo movimento estudantil. A mobilização ganhou corpo e resolveu ir às ruas.

Mesmo sob imensa pressão da polícia, no início de novembro de 1979 foi realizada a primeira passeata de rua desse período de retomada dos movimentos sociais em Alagoas. Centenas de estudantes se concentraram na Rua Boa Vista, em frente ao Jornal de Alagoas, e saíram em marcha pelo centro da cidade.
 
Passeata na greve de Engenharia em 1979
O clima era tenso. Era esperada alguma provocação da polícia para justificar uma ação violenta contra a manifestação. Os estudantes não queriam dar motivos para isso e deixavam claro que era uma luta contra o autoritarismo da Ufal e que precisavam do apoio da população. Esse apoio veio logo. As histórias sobre as reprovações deste professor eram conhecidas por muita gente.

Posse de João Azevedo

O reitor Manoel Ramalho estava em fim de mandato e parecia que não ia resolver nada. Havia muita conversa e pouca resolução. A greve prolongada já entrava num momento de desgaste. Muitos alunos temiam perder o ano por causa da paralisação. A estratégia adotada foi a de endurecer a luta para abreviá-la.

Como a posse do novo reitor, João Azevedo, estava marcada para o dia 29 de novembro de 1979, resolveu-se que aquele era o momento propício para uma ação mais ousada. Em segredo, preparam uma ação para impedir o ato se não houvesse nenhuma proposta da Reitoria para a reivindicação dos estudantes.
 
Estudantes cercam a Reitoria e preparam invasão do auditório
Na quinta-feira à tarde, a Reitoria, que ficava na Praça Sinimbu, foi tomada de assalto por centenas de estudantes. O auditório, onde haveria a transmissão de cargo, foi ocupado por jovens com faixas que cobravam o direito da UNE falar na solenidade. Houve uma negociação e ficou acertado que Aldo Rebelo, então secretário-geral da entidade nacional dos estudantes, usaria da palavra.

Convidados e manifestantes dividiram o auditório da Reitoria
Um episódio marcou a chegada dos convidados para a solenidade de posse do reitor João Azevedo. O governador Guilherme Palmeira, ao chegar à porta da Reitoria, recebe uma estrondosa vaia dos estudantes. Ele, desatento, para e pergunta a um assessor: "Eles estão vaiando quem?". O assessor rapidamente responde: "Governador, vamos sair daqui que a vaia é para o senhor".

Como o clima era de beligerância, o discurso do Aldo surpreendeu a todos. De forma equilibrada e inteligente, ele construiu sólidos argumentos para cobrar uma postura democrática dos dirigentes da Ufal. Lembrou os feitos heroicos de alagoanos para afirmar que tínhamos uma memória a honrar. Os estudantes foram recebidos pelo reitor João Azevedo, que assumiu o compromisso de que logo apresentaria uma solução.
 
Aldo Rebelo fala durante posse do reitor João Azevedo
Dias depois houve a reunião e o reitor João Azevedo explicou as dificuldades regimentais que tinha para afastar o citado professor, mas se comprometeu a “promovê-lo” para outro cargo. No final do ano letivo, Arlindo Cabús assumiu a presidência da Copeve, a comissão que organizava o concurso vestibular da Ufal.

A vitória trouxe benefícios imediatos para muitos estudantes de Engenharia, que estavam com seus cursos ameaçados diante das repetências. Para nós, a satisfação maior era a de termos enfrentado um problema que era comum a vários professores: o autoritarismo nas relações com os estudantes.

Muitos destes estudantes que estavam para ser jubilados por não não conseguiram se formar no período de tempo exigido pela Universidade, hoje são profissionais renomados e bem sucedidos. Aprenderam o que que tinham que aprender com outros professores que adotavam critérios de avaliação mais adequados.

Reitor João Azevedo negocia com lideranças estudantis
Esse luta contra esse tipo de autoritarismo é pouco lembrada. Na época, não só se enfrentava um poder militar arbitrário; tinha-se também que travar as pequenas batalhas para derrotarmos uma cultura autoritária incorporada à pedagogia de então. Muitos professores, depois, fizeram autocrítica por terem se valido do terror do poder ditatorial para dominar os estudantes em sala de aula.

Polícia acompanha a saída dos estudantes após a manifestação
Hoje, as relações entre professores e alunos são bens diferentes. Os avanços são evidentes. Mas não custa lembrar que a trajetória entre a palmatória e a pedagogia libertária não foi curta e nem fácil.

DISCURSO DE ALDO REBELO

Magnífico Reitor João Azevedo,
Autoridades civis, militares e eclesiásticas aqui presentes,
Companheiros professores,
Colegas de Engenharia,
Companheiros grevistas aqui presentes,

Disse certo, correto e coerente o professor João Azevedo quando se referiu de maneira serena, de maneira sóbria, de maneira verdadeira à crise, à assombrosa crise que atravessa o ensino superior no Brasil, que atravessa a educação enquanto instituição em nosso País, que atravessa, também, por não fugir à regra, por não ser uma exceção observada, atravessa, também a crise, a Universidade Federal de Alagoas.

Temos conhecimento que, através dos anos, de governos autoritários que se sucederam, a Universidade, a Educação deste País foi a vítima maior da diminuição das verbas que afetou os serviços prioritários da Nação, principalmente a saúde, principalmente a educação, principalmente a assistência social. No orçamento de 1980, o governo brasileiro destinará, apenas, 4,28 % do Orçamento do País, como dotação para o Ministério da Educação.
Estudantes esperam a chegada do reitor

Isto, senhores professores, magnífico reitor, companheiros aqui presentes, significa, infelizmente, a menor quota concedida à educação, nestes últimos quinze anos em nosso País. E isto, tem razão o Professor João Azevedo, é muito grave. É muito grave quanto sabemos que várias escolas de nível superior, neste País, ameaçam fechar, ameaçam cancelar seus vestibulares por não encontrar condições de pagar sequer aos funcionários da limpeza, como é o caso da Universidade Federal de Minas Gerais. O magnífico reitor daquela instituição de ensino superior, numa assembleia geral com seus professores, com seus estudantes e com seus funcionários, colocou a dura realidade de que várias escolas da Área de Ciências Humanas da UFMG fechariam suas portas, dispensariam seus estudantes, colocaria a serviço de outras instituições seus professores, por falta absoluta de verba.

E é particularmente mais grave ainda quando nós sabemos que esta crise não é, apenas, uma crise administrativo-financeira; quando sabemos que esta crise não é apenas crise que não permita que os estudantes da UFAL terem acesso ao restaurante universitário; não é uma crise, apenas, que não permita que estudantes da UFAL tenham uma biblioteca por cada curso, sem bebedouros funcionando; que obriga os estudantes de Direito e de outros cursos a perambularem de sala em sala atrás de uma cadeira onde sentar; não apenas uma crise desse tipo. É uma crise mais profunda. É a própria crise de identidade que separa a educação do povo, que separa a criatividade cultural, que separa a pesquisa científica das necessidades tecnológicas do País, das necessidades culturais, das necessidades econômicas e das necessidades sociais da comunidade. É a crise que afasta o médico, que afasta o engenheiro, que afasta o advogado, que afasta qualquer técnico de nível superior das camadas mais pobres e mais humildes porque não têm condições de pagar um serviço caro, um serviço de alto custo. É uma crise mais grave ainda porque não tem saída, porque não tem outra opção senão quando formado ir servir a interesses alienígenas, aos interesses dos exploradores, daqueles que transferem para cá, que transferem para a nossa pátria o seu dinheiro para aqui acumular, para aqui nos explorar e para aqui, também, levar o que existe de criatividade em nosso País. E esta crise precisa ser superada.
Deputado Estadual Renan Calheiros

Fala o professor João Azevedo: o homem nordestino, humilde, sereno, altivo ao mesmo tempo, é aquele que só agradece quanto tem certeza de que faz com honestidade. Mas o agradecimento, a certeza da honestidade, a dignidade e a humildade ao mesmo tempo do homem nordestino traz, também, no seu bojo uma história de lutas e uma história de reivindicações que vem desde os tempos do Zumbi do Quilombo dos Palmares, que, rolando as serras, morreu ao lado de milhares de seus compatriotas africanos aqui presentes, ludibriados pelos latifundiários e donos dos engenhos de açúcar. Traz, também, a dignidade da luta dos cangaceiros de Lampião que não se submeteram à perseguição policial e que entraram nas brenhas resistindo o tempo todo.

E exata resistência, companheiros, é o que nos cabe aqui evocar. É a resistência dos brasileiros, é a resistência que vem desde o tempo dos portugueses quando os estudantes, ao lado deles, expulsaram daqui os franceses; quando os estudantes, ao lado deles, também expulsaram os invasores holandeses. E hoje, aqui presentes, nós temos novamente a dar este testemunho de resistência.

A universidade subjugada, a universidade submetida, a universidade escravizada, a universidade entregue de braços abertos aos interesses imperialistas, a universidade entregue de braços abertos aos interesses mercantilistas não pode continuar. Essa universidade exige dos estudantes, exige dos professores, exige de todos os homens de boa vontade, de todos os patriotas, de todos os democratas deste País um posicionamento firme. Não podemos deixar, companheiros, – é também obrigação nossa – que a Universidade Federal do Acre, onde nós estivemos há pouco mais de um mês, seja transformada num campo de concentração que favorecerá, certamente com os cursos que lá estão sendo criados, aos grandes latifundiários que estão destruindo, de uma vez por todas, a Amazônia. Um companheiro nosso mostrava um mapa do Acre, construído há mais de dez anos, onde dezenas (...) estão hoje desaparecidas, morrendo na Cordilheira dos Andes, nas nascentes dos rios Tocantins e Purus. Esta ameaça que nos fuzila como se animais fossem, é esta ameaça que também paira sobre a universidade.

E este grito uníssono, este grito bravo, este grito de resistência dos companheiros de Engenharia que aqui se encontram em greve é um testemunho de que, em nossa terra existe resistência; é um testemunho de que não morreu a luta de Tiradentes; é um testemunho de que não morreu a luta daqueles que tombaram, inclusive estudantes, ao longo desses quinze anos em defesa desta terra explorada e oprimida.

E agora, quando toma posse o digníssimo, o caríssimo, o magnífico reitor João Azevedo, de quem tomamos várias horas em diálogo quando representávamos aqui os estudantes, no seu gabinete de Vice-Reitor, de quem nos aproximamos através de embates sobre nossas reivindicações, agora à tarde, dou o testemunho desses companheiros que estão aqui em greve. Os companheiros de Engenharia querem aula. Os companheiros de Engenharia querem professores. Os companheiros de Engenharia querem melhores condições de ensino, mas os companheiros de Engenharia também querem justiça. Os companheiros de Engenharia exigem que a Universidade democrática seja democrática, também, com os estudantes; que a Universidade combativa tenha, em primeiro lugar, a participação daqueles que a conseguem com o seu saber e a sua cultura; dos professores, dos pesquisadores e, também, dos estudantes, como dos funcionários que, labutando dentro dos gabinetes, e também trabalhando dentro dos laboratórios, constituem a força de trabalho que botam o ensino, a educação e a cultura para frente.

E este testemunho, finalizando, é testemunho de que o Prof. João Azevedo se comprometerá, certamente, como sempre tentou se comprometer, apesar de não representar a sua própria vontade, apesar de não poder passar, certamente, pelos instrumentos de arbítrio que o prendem, que o amarram como amarram todas as instituições deste País, apesar de, como nós, ser fruto da mesma cadeia que cerceia a liberdade de pesquisa, que cerceia a liberdade da palavra, ele, certamente, se comprometerá com as reivindicações. Ele, certamente, tirará a Universidade, tirará da Escola de Engenharia - se for, realmente, reivindicação justa dos estudantes - um professor que não corresponde às suas aspirações. E ele, certamente, também, se colocará a favor da nossa luta pelo fim desse instrumento opressivo, pelo fim desse instrumento que não ajuda a construção de uma Universidade democrática que é o maldito instrumento do jubilamento.

O prof. João Azevedo, certamente, também, tenderá a compartilhar conosco da reivindicação pela média sete. E o professor João Azevedo que se coloca, realmente, ao lado dos estudantes, e ao lado do povo sofrido, do povo humilhado, do povo ofendido, do povo da favela, do povo ribeirinho, do povo das lagoas e do povo das grandes fazendas da cana-de-açúcar, ele, certamente, levará conosco a bandeira, levará conosco a luta de transformar esta Universidade em algo mais próximo dos estudantes e mais próximo do povo. E a luta também se constitui, não só na luta pela transformação da universidade, porque a universidade não está divorciada de toda uma sociedade que também sofre e é vítima. A nossa luta é a luta pela melhoria das condições de ensino; é a luta pelas reivindicações específicas, mas é, também, a luta pela transformação dessa sociedade brasileira numa sociedade justa, numa sociedade sem exploradores, numa sociedade sem oprimidos, numa sociedade onde homens vivam de barriga cheia.


Que vivamos num País de liberdade!


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Tráfico é negócio para milionários

O traficante fuzilado, Marco Archer, conta que os 15 kg de cocaína que ele conduzia quando foi preso tinham sido comprados no Peru por 8 mil dólares e iria lhe permitir faturar 3,5 milhões dólares em Bali.

Essa imensa “margem de lucro” pode explicar as dificuldades no combate ao tráfico e a razão da participação de gente graúda no negócio.

Todo mundo lembra do episódio da apreensão do helicóptero da Limeira Agropecuária, empresa do deputado estadual por Minas Gerais Gustavo Perrella (Solidariedade), filho do senador e ex-presidente do Cruzeiro Zezé Perrella (PDT-MG).

Esta operação de tráfico trazia para o Brasil 450 kg de cocaína.

Pelos valores de compra e venda relatados por Marco Archer, podemos dizer que os 450 kg foram comprados por 2,4 milhões de dólares e seriam vendidos por 1,05 bilhão de dólares. Um lucro de 998,1 milhões de dólares.

Nem banqueiro ganha tanto. É um dos negócios mais rentáveis do mundo.

Agora fica fácil saber que comanda o tráfico no Brasil. É só investigar quem tem 2,4 milhões de dólares e um avião ou helicóptero para comprar drogas no exterior.

Por falar nisso, como anda o inquérito do helicóptero? A última notícia é de abril de 2014, antes das eleições, quando a Justiça Federal libertou todos os envolvidos que estavam detidos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Getúlio Vargas era ateu

É verdade. Um dos mais importantes presidentes do país, além de se declarar um devotado seguidor do positivismo de Auguste Comte, também deixou registrado as suas insatisfações com o cristianismo.

Para quem duvida, recomendo ler os três robustos volumes da obra biográfica Getúlio, de Lira Neto. Lançada em 2012 pela Companhia das Letras, a coleção já está na 9ª reimpressão.

Em 4 de março de 1911, ao casar com Darcy Sarmanho, então com 15 anos, Getúlio Vargas escolhe o cartório, fugindo do casamento religioso.

O autor da biografia revela que Getúlio tinha como livro de cabeceira o explosivo, para a época, Jesus Cristo nunca existiu, do italiano Emilio Bossi.

No seu discurso de formatura na Faculdade de Direito, Getúlio deixou registrada suas opiniões sobre o assunto, pronunciando um libelo contra o cristianismo.

“Foi sobre a ruinaria da civilização greco-romana que desabrochou a flor mórbida do pensamento cristão”, falou para os presentes.

E continuou. “A moral cristã é contra a natureza humana” e “o cristianismo é inimigo da civilização”.

Segundo o autor, Getúlio considerava que o cristianismo significava um retrocesso em relação às “grandes conquistas progressivas da humanidade”, um freio ao “ideal superior de força e energia” que teria sido legado à civilização ocidental pela cultura greco-romana.

E vai mais além. Para Getúlio, o cristianismo “desnatura a grandeza da sexualidade, a força propagadora da espécie, a união dos seres numa transfusão do magnetismo amoroso, considerado como um comércio impuro”.

Atuando politicamente em um país dominantemente católico, Getúlio guardou a sete chaves esse discurso. Ele foi descoberto pela família muito tempo depois da sua morte e agora está nos arquivos oficiais do ex-presidente, classificado como confidencial.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Mobilização pela regulação da mídia é urgente

A reação dos proprietários dos grandes meios de comunicação às propostas para a regulação da mídia demonstra que os detentores deste poder não vão largar facilmente o filé que o estado brasileiro deixou em suas mãos.

Está em jogo muito mais do que normas legais para controlar os excessos de marte da mídia. O que está se definindo é o poder político de parte do capital no país.

Em recente reunião em São Paulo, o Fórum 21 apresentou argumentos importantes para a mobilização dos que defendem a democratização dos meios de comunicação.

Um dos criadores do Fórum 21, Joaquim Palhares, que edita o portal Carta Maior, acredita que a luta pela regulação da mídia tem um forte componente aglutinador para as forças democráticas no país.

Para ele, é preciso “sacudir a coalizão de forças que, atualmente, está pendendo para a direita”. Palhares vê a possibilidade unir a esquerda num movimento de pressão crítica junto ao governo.

“Não se trata de uma trincheira contra o governo, mas de um movimento que atue junto e de forma crítica a ele, contra a restauração do neoliberalismo”. “Precisamos criar uma hegemonia progressista, pois nossas vitórias políticas não se sustentarão sem a disputa de ideias”.

Verbas publicitárias

Outra referência na comunicação a se posicionar na mesma direção é o jornalista e professor Venício Lima. Para ele, essa luta é um dever democrático. “Em primeiro lugar, trata-se de regular e cumprir o que já está na Constituição do país há 25 anos”.

Venício Lima explica que a Constituição já define, por exemplo, o direito de resposta, a implantação do Conselho de Comunicação Social e as restrições a políticos serem donos de veículos de comunicação.

Ele ainda define a distribuição de publicidade oficial como uma “tragédia diária”. São milhões de reais que são entregues a meios que atuam como verdadeiros partidos de oposição. “O critério técnico, de distribuir dinheiro de acordo com os índices de audiência, apenas reafirma, na prática, o oligopólio midiático brasileiro”.

Censura do mercado

O recém empossado ministro da Cultura, Juca Ferreira, também quer radicalizar a democracia no país e defende um tratamento urgente para a questão da democratização dos meios de comunicação.

Em depoimento à Rede Brasil Atual, Juca Ferreira explicou que a formação de uma sociedade política e culturalmente madura depende da superação da mídia monopolizada.

"Durante os longos anos de ditadura, nos acostumamos a ir contra a censura do Estado. Mas hoje tem a censura do mercado, e outro tipo de censura que a sociedade brasileira está descobrindo agora, que é a censura a partir dos interesses dos donos dos grandes meios de comunicação”.

Para o ministro da Cultura, se a informação é viciada, parcial e não democrática, isso vai atrasar e dificultar o desenvolvimento cultural da sociedade.

“A grande mídia tem um poder enorme na formação de opinião da sociedade e quer manter como está.” Ele propõe uma maior discussão na sociedade para que se avance na compreensão da necessidade de se regulamentar a atividade. “Não no sentido de cercear a opinião, mas no de ampliar a possibilidade de que todas as opiniões tenham presença nos meios de comunicação".